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Festival de Verão de Salvador volta promovendo encontros e debates
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Festival de Verão de Salvador volta promovendo encontros e debates

Depois de dois anos de ausência, Festival de Verão de Salvador volta ao seu local de origem, recebe lotação máxima e promove encontros de música e lutas
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Essa imagem foi gerada com os seguintes comandos, no site Midjourney: Releitura da obra
Foto: jansen lucas utilizando midjourney Essa imagem foi gerada com os seguintes comandos, no site Midjourney: Releitura da obra "A Criação de Adão"; Simular estilo de pintura dos artistas Michelangelo e Leonardo da Vinci; Quatro mãos mescladas; Homem e Maquina; Close; Detalhado; 4k

Por mais que se leia, estude, reúna visões, muito ainda há de ser compreendido sobre os dois anos de distanciamento impostos pelo covid-19. Até onde se sabe, o período mais severo passou e o encontro coletivo tornou-se uma urgência. Isso pode ser comprovado no rosto das 80 mil pessoas que passaram pelos dois dias de Festival de Verão de Salvador. Realizado na Arena Fonte Nova de 2016 a 2018, e suspenso por dois anos, o evento voltou ao Parque de Exposições da capital baiana – onde nasceu em 1999 – nos dias 28 e 29 de janeiro com novo formato.

Curador do Festival, o músico Zé Ricardo reproduziu a bem sucedida experiência do Palco Sunset, do Rock in Rio, promovendo encontros na Bahia. A tônica das parcerias variava entre inusitado, óbvio, histórico e “como não pensamos nisso antes?”. Nem tudo funcionou enquanto parceria, é verdade. Mas nada passou despercebido pela plateia que conseguiu botar pra fora todos os bichos festeiros que ficaram acumulados em tantos meses de confinamento e medo até de dar abraço.

Festival de Verão de Salvador movimentou 80 mil pessoas (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Festival de Verão de Salvador movimentou 80 mil pessoas

Além de celebrar o reencontro, também houve espaço para levantar bandeiras e receber o novo Brasil que se anuncia em 2023. E é aí que entra Margareth Menezes, atração do sábado, 28. Ela não resistiu à emoção de ouvir a plateia em coro: “ministra! Ministra”. Sem segurar o choro, a cantora também deu seu recado quando levou ao telão imagens de muitos ícones negros. Djamila Ribeiro, Miles Davis, Luiz Melodia, Pelé, Itamar Assumpção, Nina Simone, Ruth de Souza, Marielle Franco foram alguns deles. Como convidadas, ela recebeu Larissa Luz (que prestou homenagens a Elza Soares e Clara Nunes) e Majur (que celebrou a presença de uma mulher trans no FVS).

Das tragédias nacionais, coube ao rapper Criolo protestar contra o genocídio yanomami. Em seguida, recebeu Ney Matogrosso, que trouxe ao palco seus 81 anos de vida e canções de Rita Lee, Secos&Molhados, Sérgio Sampaio e encerrou magistralmente com o forró “Homem com H”. O anfitrião não conteve as lágrimas e sentou na lateral do palco pra assistir seu convidado. Outro momento muito esperado da primeira noite foi o encontro de Gilberto Gil e Caetano Veloso, que prestaram uma emocionante homenagem à amiga Gal Costa.

Margareth Menezes exaltou o povo negro e se emocionou com o coro de "ministra"(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Margareth Menezes exaltou o povo negro e se emocionou com o coro de "ministra"

Veterana das avenidas e festivais, Ivete Sangalo fez um set list imenso, revisando mais de 30 anos de carreira, e ainda recebeu Luedji Luna como convidada. A noite terminou com o samba de Ferrugem e Xandi de Pilares. O domingo abriu às 16 horas, sob sol fervendo, com show do grupo Quabales, projeto social apoiado pelo festival. E a programação seguiu com mais encontros. Saulo chamou Marina Sena, que também homenageou Gal Costa cantando “Flor de maracujá”. Uma parceria imprevisível foi Luísa Sonza e Alcione. Embora o público majoritariamente fosse da cantora pop, a sambista foi recebida com aplausos, homenagem da anfitriã (uma blusa estampada com a foto das duas) e teve que voltar ao palco, a pedidos da plateia, pra cantar “A loba”.

Leo Santana e Bell Marques fizeram o que melhor sabem fazer, mas abriram mão de convidados. Já o BaianaSystem resolveu fazer o show inteiro ao lado do Olodum, concorrendo ao posto de melhor espetáculo do festival. Pra encerrar a noite e a edição do FVS, Ludmilla misturou estilos, distribuiu simpatia e convidou Gloria Groove pra dividir o palco. Para 2024, duas atrações já estão confirmadas: Iza e Daniela Mercury. Esta, inclusive, fez um show surpresa na edição deste ano com uma homenagem aos antigos festivais. Um aquecimento para o que se espera do ano que vem. Certamente, a expectativa do público já está alta.

Leia no O POVO + | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

O rapper Criolo recebeu Ney Matogrosso em seu show
O rapper Criolo recebeu Ney Matogrosso em seu show

Futuro ainda mais eclético

Por Renato Abê, editor de Cultura do O POVO

O exercício de estar junto num festival musical ganhou outro sentido depois do isolamento vivido na pandemia. A energia de emoção compartilhada que tomou o Parque de Exposições em Salvador durante o Festival de Verão (FV) é prova disso. Para este ano recém-iniciado, a torcida é que o movimento coletivo se replique.

Nas plateias Brasil afora, é nítida a abertura à celebração conjunta independentemente dos ritmos (e isso tem permitido a escalação de artistas de múltiplas gerações).

Não à toa, Alcione esteve presente no FV e estará também em abril no Breve Festival (Belo Horizonte) e no mês de maio no Nômade Festival (São Paulo). Com seu repertório de samba e pagode, a maranhense de 75 anos divide o palco tranquilamente com o pop, o rap e o rock. Foi assim ao cantar junto de Luisa Sonza em Salvador.

É preciso celebrar essa compreensão mais nítida do público sobre a beleza de festejar a presença dos nossos medalhões. Alceu Valença, Chico César e Geraldo Azevedo são outros exemplos e também têm conseguido reunir multidões de jovens em festivais. Que siga assim! Merecemos um 2023 eclético.

Ivete Sangalo recebeu Luedji Luna como convidada
Ivete Sangalo recebeu Luedji Luna como convidada

Música também é potência

Por Lara Montezuma, repórter de Cultura do O POVO

"Que seja um Brasil de muitas como eu". A frase foi compartilhada pela cantora soteropolitana Majur durante o show de Margareth Menezes no Festival de Verão (FV), que também contou com a presença da artista Larissa Luz. A fala pareceu firmar a proposta de pluralidade do evento frente aos milhares de ouvintes presentes.

A diversidade também foi o caminho escolhido por projetos similares que aconteceram no ano de 2022, o primeiro sem restrições de distanciamento após a pandemia. Um exemplo é o Festival Música Alimento da Alma (MADA), realizado em Natal no mês de setembro, e o Festival Elos, promovido em Fortaleza nos dias 25 e 26 de novembro. Ambos, assim como o FV, buscaram trazer ampla programação com destaque aos artistas dos próprios estados.

Um público expressivo compareceu a estes três festivais, com muitos se deslocando em grupos de cidades vizinhas. Os espectadores vibraram com a mistura de ritmos e a rotatividade de artistas, sem muitas queixas no que diz respeito aos preços e organização. A resposta comum da plateia é um indicativo de que, além de estrutura, também há demanda para mais eventos deste porte distribuídos pelo Nordeste.

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