"Oi amor! Que bom que você está de volta. Vem aqui!", chama Maria Rita Mota, de 66 anos, fundadora do Instituto Chico Mota. Ela convida Alzirene, moradora no Montese, que acaba de fazer sua inscrição para a lista de espera das aulas de dança de salão. As duas estão se reencontrando após quase três anos de atividades virtuais devido à pandemia de Covid-19. Rita pergunta o porquê de Alzirene ter atrasado a matrícula, já que as 30 vagas destinadas às duas turmas da modalidade já estavam esgotadas.
"Eu perdi meu telefone, maneira de dizer, porque 'inchou' a bateria. Aí você sabe como é, fiquei sem celular até conseguir um", lamenta a aluna. "Vai dar certo", reforça a fundadora, "pois tá bom", retruca a aluna. O diálogo é uma amostra do cotidiano do Instituto, localizado em uma casa na rua Desembargador João Firmino, número 66. A ONG atua desde 2013 com o público idoso, ofertando aulas de violão, gaita, sanfona, artesanato, dança de salão e teatro, além de iniciativas de informática, promovendo bem-estar e inclusão social. Trata-se de um sonho antigo de Maria Rita, alinhado a sua formação em Pedagogia.
"Eu sou professora de ensino fundamental, sempre trabalhei com criança, mas o meu sonho era trabalhar com idoso. Lecionei em Brasília por 19 anos. Tinha o desejo de trabalhar com esse público, mas não tinha a oportunidade. Quando cheguei em Fortaleza fiz amizade com pessoas da cultura e um amigo meu, o Talles Azigon, falou sobre como era fazer um projeto para a lei federal. Ele incentivou a gente a fazer um projeto de contação de história para crianças e quando contei do meu sonho (de trabalhar com idosos), ele me incentivou a abrir esse mini centro cultural", relembra Rita, com detalhes.
Ainda em 2012, com um jantar de Natal, o Instituto Chico Mota deu seu pontapé inicial. "Eu fiz um projeto como pessoa física e para minha surpresa foi aprovado pelo Ministério da Cultura, para a Lei Rouanet, e a gente desenvolveu. Já o segundo foi como pessoa jurídica, foi quando fundei a ONG e dei o nome de Chico Mota, meu pai", conta. O pai, um fazendeiro de Crateús, onde Maria Rita nasceu e cresceu, tinha um carinho especial com pessoas da terceira idade.
"Meu pai era uma pessoa que tinha muito cuidado com idosos. Era fazendeiro, morava no interior, e ele cuidava muito bem dos idosos. Tinha aquela preferência por eles. Infelizmente ele não estava mais vivo, então fiz essa homenagem", diz a filha. Quando se mudou para a Capital, em 1975, Maria Rita morou no Montese.
"Achei o bairro de uma população bem grande e quis privilegiar o Montese. Depois teve outro motivo porque no início foi muito difícil encontrar patrocinador, via lei Rouanet. Bati em várias portas e não conseguia. Bati em portas de empresas grandes e pequenas, e as pessoas não se interessaram. Até conseguir na Autopeças Padre Cícero, que nos apoia desde 2013", compartilha.
Quando começou a ONG, há dez anos, Maria Rita não era uma pessoa idosa. Hoje, com 66 anos, vê parte de sua vida atrelada ao Instituto e ao trabalho social. "Eu tenho que me preparar, cuidar de mim para poder cuidar dos outros, porque eu também já sou uma idosa", diz ela, que além de fundadora é aluna da ONG, onde aprendeu gaita e atua como professora de artesanato. Bonecas de pano, macramê, bordado são algumas habilidades. "Você tem que me perguntar o que eu não faço", desafia.
"As pessoas dizem que o idoso volta a ser criança e não é mentira. Ele volta a ser criança. Alguns não gostam da ideia de ser idoso ou 'velho', querem ser novos. Mas não é difícil, é até mais fácil que lidar com criança porque há um diálogo. Quando tem algum problema de relacionamento nós chamamos, aconselhamos e dá certo", exemplifica.
Com o debate sobre etarismo em alta, Rita destaca as mudanças na visão da sociedade sob a terceira idade. "Já melhorou um pouco desde 2013, quando comecei a ONG. Muita gente tem muito preconceito e a gente costuma, por meio das nossas redes sociais, sempre colocar algum texto de conscientização. Tem gente que pensa que não vai ser idoso um dia e às vezes a gente vê idosos discriminando idosos. Aí eu digo 'gente, dá licença'", conta Rita.
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Instituto Chico Mota
Onde: rua Desembargador João Firmino, 66 - Montese
Todas as atividades são gratuitas com vagas limitadas
Telefone: (85) 99928.4152 e (85) 99928.0092
Mais informações: @institutochicomota