Esculturas de metal chamam a atenção de quem passa na avenida Dom Manuel no Centro de Fortaleza. Ali, no número 725, está localizado o ateliê do escultor Edismar Arruda, de 35 anos, que transforma sucata em arte através da imaginação e habilidade.
O portfólio do artista possui mais de 300 peças, incluindo um trono de ferro de Game of Thrones, Kratos de God of War e até um elefante de 3 toneladas. Cerca de 90% do trabalho é feito com sucatas de peças automotivas, mas Edismar também utiliza restos de construção e outros materiais de ferro.
Foi em meio a uma infância difícil que o escultor iniciou nas artes plásticas. Nascido em 1987, na antiga cidade de Jaguaribara, Edismar produzia os próprios brinquedos a partir de lata e madeira, já que a família não tinha recursos para comprar em lojas. Autodidata, ele aprendeu sozinho a montar os primeiros carrinhos.
Durante a adolescência, passou a trabalhar em uma oficina mecânica, depois de se mudar para a Nova Jaguaribara. "Achava interessante as engrenagens e aprendi a soldar", relembra. Edismar aproveitava as horas vagas para montar miniaturas a partir dos metais que iriam para o lixo e foi se aperfeiçoando até chegar nas feiras de artesanato, onde passou a comercializar suas peças.
Em 2017, tirou a carteira de artesão na Ceart e começou a produzir esculturas maiores para levar nas feiras. As peças eram elogiadas por quem passava nos eventos, o que incentivou Edismar a ir se especializando através de vídeos na internet. Nem sempre as participações nas feiras resultavam em vendas, mas a presença era suficiente para que o trabalho fosse divulgado, até chegar em clientes interessados em encomendar peças.
Um jacaré de aproximadamente 2 metros marcou o início dessa nova fase. A peça conquistou um cliente, que posteriormente encomendou esculturas de bode, cavalo e touro em tamanho real.
Por dentro do processo
Para produzir as obras, Edismar reutiliza metais de diferentes origens: carros, bicicletas, moto, pá, enxada e até moedas. "Se eu passar na rua e ver, eu apanho e trago", comenta. "Eu não deixo as peças irem para o lixo", afirma. O escultor também conta que recebe muitas doações de sucatas no ateliê.
A partir de referências de outros escultores que conheceu pela internet, o cearense teve coragem para viver de arte. Aliás, foi também através das redes sociais que o trabalho de Edismar foi impulsionado. Vídeos das esculturas de metal viralizaram, trazendo mais encomendas para o artesão.
O engajamento também o fez ser notado por Luciano Huck. Em 2022, o escultor foi convidado para o The Wall, quadro do Domingão do Hulk da TV Globo, onde ganhou cerca de R$ 39 mil e investiu o dinheiro no ateliê. Aliás, o escultor conta que foi a participação no programa que o fez reconhecer a si mesmo como artista.
"Quando o programa foi ao ar que caiu a ficha. Eu preferia que as pessoas me chamassem de escultor ou artesão, mas aí caiu a ficha, a gente tem que assumir que é artista mesmo", pondera.
Há quatros meses, Edismar se mudou para Fortaleza com três ajudantes. Na Capital, montou o ateliê na Dom Manuel para atender melhor as encomendas. As peças do artista já chegaram no Pará, Santa Catarina e até Estados Unidos.
Para ele, a parte mais difícil do trabalho com metal é o desenho e a montagem. O planejamento e tamanho precisam ser exatos, pois caso seja necessário fazer alguma alteração na escultura após a finalização, é necessário desmontar quase a peça inteira e depois recomeçar.
Edismar também não altera o formato original dos metais que utiliza, permitindo que o público identifique peças como rolamento de carro ou cadeados na escultura. Isso torna o processo semelhante a um quebra-cabeça, já que é necessário encontrar o local perfeito para encaixar cada objeto.
Exposição
As esculturas de Edismar já foram expostas em diferentes espaços de Fortaleza. Atualmente, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) abriga a quarta exposição do artista, em homenagem aos 50 anos do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Ceará (Simec).
"O trabalho que Edismar desenvolve, além de toda matéria-prima ser relacionada ao nosso sindicato, tem a questão ambiental devido à reciclagem. Uma maneira de valorizar e também de conscientizar de que é possível transformar em algo novo o que parecia velho", destaca Sampaio Filho, presidente do Simec.
Exposição "Simec 50 anos" com obras de Edismar Arruda
Quando: de segunda a sexta, das 9h às 18 horas, até o dia 17 de fevereiro
Onde: Fiec (av. Barão de Studart, 1980 – Aldeota)
Entrada franca
Instagram do Simec-CE: @simec.sindicato
Instagram Edismar Arruda: @edismararruda
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