Neo é o chefe de Graça e Lúcia na empresa Gratiluz, direcionada a operações de telemarketing. Dentre as inúmeras exigências requisitadas, o dirigente demanda alto nível de produtividade em número volumoso de metas. As duas profissionais, mesmo com uma rotina exaustiva, devem ser simpáticas e positivas nas tarefas.
Este enredo que baseia a peça "Gratiluz - A Tragédia (Baseado em Absurdos Reais)" é a realidade de milhares de profissionais brasileiros que trabalham em um ambiente com "positividade tóxica", tema que norteia o espetáculo.
O termo é utilizado quando pessoas tentam reprimir emoções negativas com frases otimistas. A ação, entretanto, pode despertar emoções como culpa e agravar episódios de ansiedade, por exemplo. O roteiro, então, utiliza como inspiração experiências vividas pelo ator, diretor e roteirista Rogério Mesquita e pelas atrizes Isabella Cavalcanti e Luiza Torres.
"É baseada em absurdos reais que eu vivi, como morte na família e um luto que tem que ser rapidamente ultrapassado. A gente não pode demonstrar nenhum tipo de 'fraqueza', temos que ser sempre proativos, estar prontos para superar dificuldades com um tempo que não é dado", elabora o diretor.
Ele também cita como exemplo os anúncios feitos com a frase "Vai Dar Certo", comumente propagada durante os primeiros meses da pandemia de covid-19, espécie de "mantra viral" para tentar trazer esperança em meio à crise.
"Mas vai dar certo como? Para mim, o termo 'gratiluz' - frequentemente usado na internet - é literalmente uma tragédia. A peça é uma sátira, mas é estranhamente parecida com o que acontece. A gente vai falar do assédio moral disfarçado no ambiente de trabalho", desenvolve.
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A narrativa na trama gera conflitos e tensões, pontos de partida para evidenciar as distintas maneiras como a pressão de um ambiente de trabalho também pode levar à exaustão mental e física. No decorrer da trama, as personagens enfim descobrem que uma das possíveis saídas é encontrar mecanismos para que elas possam alcançar estabilidade de maneira saudável, convidando o público a refletir sobre empatia.
O espetáculo também marca um novo momento na carreira dos artistas, que foram alguns dos responsáveis pela fundação do grupo teatral Bagaceira há vinte e três anos. Eles embarcam no grupo Patuleia, em formação que lança a estreia de Rogério como diretor e o retorno das atrizes aos palcos após pausa de mais de vinte anos.
"Nós nos reunimos para saber qual assunto mais nos interessava falar, elas me resgataram desse estado de espera para escrever sobre isso. A gente está trabalhando desde setembro para que a comunicação chegue do jeito que a gente quer, a peça é um discurso de nós três", reforça.
O artista acredita que esta oportunidade é um voô após 23 anos ininterruptos dentro do Bagaceira. "É muito enriquecedor o olhar do diretor e dramaturgo, está sendo muito rico e um desafio para mim. Estou morrendo de medo e nervosismo, mas feliz com esse reencontro com essas duas amigas", acrescenta. "Gratiluz - A Tragédia" estreia no Cineteatro São Luiz nesta sexta-feira, 25, e segue em temporada na Casa da Esquina durante os fins de semana de março. No próximo mês, os valores variam entre R$10 e R$30. As sessões de fevereiro são gratuitas.
Temporada de estreia de "Gratiluz - A Tragédia"
Quando: sábado, 25, e domingo, 26, às 19 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro) e Casa da Esquina (rua João Lôbo Filho, s/n - Fátima)
Gratuito
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