Definido como um espaço de investigação, pensamento e produção, o Centro de Design do Ceará é um dos equipamentos situados no Complexo Cultural Estação das Artes. Gerido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará), em parceria com o Instituto Mirante, o local foi inaugurado em 22 de dezembro de 2022.
Com o objetivo de conectar a oferta e demanda em design, além de dialogar com o público e fomentar a geração de negócios de impacto positivo na vida das pessoas e na economia do Estado, o Centro atua em quatro pilares fundamentais: design decolonial, design regenerativo, design ecoeficiente e design político.
Para Talles Azigon, assessor da Direção do Centro de Design, o equipamento se difere de outros por promover atividades de difusão, como exposições, e formação, como workshops, no mesmo local. Há também oferta de cursos, feiras e atendimento aos profissionais da área. Há planos ainda para a realização de editais para bolsas de pesquisa, com previsão de lançamento a partir do mês de maio.
Cumprindo o nome, que diz ser o Centro de Design do Ceará, as ações não ficam limitadas à capital do Estado. Quixeramobim, por exemplo, recebeu uma atividade de produção de joias com Antônio Rabelo.
Joel Estevam, de 15 anos, é um dos jovens que frequenta o equipamento em Fortaleza. Ele fez parte da oficina "Design gráfico para atividades sociais", realizada no mês de janeiro, e acredita que o espaço proporcionará aprendizado para o público. "Vai ajudar bastante gente, vai ter cursos além desse, e que também já tiveram, e que vão abrir portas para muita gente que não tinha oportunidade", afirma.
Oficinas, Feira de Design Autoral e a exposição "Tempo presente em nós" marcaram a abertura do espaço, que rapidamente precisou de algumas atividades interrompidas. É que no dia 1º de fevereiro, a sala expositiva foi fechada, devido a reformas no espaço, e só foi reaberta no último sábado, 25 de fevereiro.
Por dentro do espaço
Branco e cinza dão as boas vindas a quem adentra o Centro de Design. O primeiro espaço é um lounge com porta e janelas amplas de vidro, que trazem muita iluminação natural ao ambiente, composto por assentos geométricos feitos a partir de concreto. Ali é a recepção do equipamento e também um espaço destinado para eventos e shows.
Logo à frente, há uma grande escadaria, colocada ali de forma inteligente. A parede branca do lado oposto à escada se transforma em um painel onde são reproduzidas imagens de um projetor instalado no teto. E a escada se transforma em uma arquibancada, permitindo que o público assista o que será apresentado na tela de alvenaria.
Atrás, ainda no andar térreo, há um espaço não finalizado, onde se planeja criar escritórios compartilhados. "Nós vamos contar com um espaço de trabalho com 12 escritórios compartilhados. A gente está fazendo processo de edital para saber como nós vamos ocupar", explica Talles Azigon, assessor do Centro de Design. Não há previsão de data para que o espaço seja concluído.
Subindo as escadas e chegando ao andar superior (também há opção de elevador, visando acessibilidade), há uma parede rosa que apresenta o título da exposição: "Tempo presente em nós". Em frente está a sala expositiva, com diversas peças de design, como brinquedos, roupas, bolsas e quadros.
Também no andar superior, há uma sala que divide duas funções: ser um espaço de realização de oficinas e, ao mesmo tempo, um laboratório de prototipagem. A ideia é que no futuro tenha uma outra sala, para que cada uma dessas duas funcionalidades tenham um único espaço.
Design, memória e inovação
A exposição “Tempo presente em nós: design, memória e inovação” está em cartaz no equipamento, apresentando um mapeamento sintético do design cearense com cerca de 200 peças. A curadoria é da pesquisadora em artes visuais Jacqueline Medeiros e do comunicólogo ativista em sustentabilidade Jackson Araujo.
“A exposição está dividida em núcleos de acordo com as tipologias, como o couro, a madeira, o trançado em palha, o algodão, o barro”, explica Delano Pessoa, coordenador de pesquisa do Centro de Design do Ceará. Para ele, a mostra promove um olhar não apenas de apreciação estética, mas também de usabilidade.
Delano explica que Jacqueline Medeiros entra na exposição a partir da perspectiva de Lina Bo Bardi, que teve como tese de doutorado (em História e Crítica de Arte na Universidade do Estado do Rio de Janeiro) as inserções da arte popular nordestina em quatro exposições da arquiteta. “Nessas exposições existiu a defesa das técnicas populares como o verdadeiro design brasileiro”, explica a pesquisadora.
“O objetivo é ampliar o reconhecimento das soluções técnicas dos povos originários, dos artistas ‘populares’ do sertão ao litoral incorporando ao design cearense. Propõe-se o Ceará e, por extensão, a região Nordeste, como centro do design brasileiro e que não é tempo de hegemonia pra existência do design cearense sem as soluções criativas populares”, declara.
Portanto, “Tempo presente em nós” destaca o fazer ancestral como ponto principal do design e estimular um novo olhar acerca de objetos do cotidiano, que podem parecer simples, mas são essenciais. “Acredito que fizemos uma seleção pautada pela simplicidade. Há muitas soluções descomplicadas para problemas complexos, que passam pela ressignificação de materiais que se tornam utilitários num contexto de escassez financeira”, declara o curador Jackson Araujo.
“Ter uma colher de pau de autoria anônima com toda a sua potência de tecnologia ancestral ao lado da Mesa Pote, um objeto utilitário de barro com acessórios USB de Marcus Braga, por exemplo, só fortalece a nossa ideia de atuar cada vez mais no sentido de uma decolonização do design”, explica.
Antonizete Índia, indígena Tapeba, tem cocares, colares, cuscuzeira, tacho feito com barro e outros objetos expostos no Centro de Design. “Muito feliz e muito elogiada por ter o meu talento reconhecido”, celebra. “Nossa história estava sem reconhecimento e é uma cultura que faz parte da história do Brasil”, ressalta.
A exposição também conta com designers de moda e interiores, como um look de 1993 do estilista Hipólito Marinho, composto por um top de baladeira e uma crinolina de gaiola, questionando a moda enquanto armadura para o corpo feminino. Há também os crochês blocados de David Lee, os bordados de Germanno Santos e da Comunidade Quilombola de Alto Alegre, a peça “Pouso”, criada por Bárbara Moura, em náilon de pipa de kitesurfe, durante sua residência artística no festival Trama Afetiva – Novos Ventos, e uma bolsa da Catarina Mina, marca que faz o artesanato cearense ser reconhecido internacionalmente e que possui uma rede de 370 artesãs, que participam do processo de criação dos produtos ou que recebem treinamento para conquistar sua independência através do artesanato.
“Mais importante do que uma bolsa da designer Celina Hissa é a relação que ela mantém com artesãs e artesãos de palha, bebendo da fonte das jangadas, como a poltrona Caré, de Leo Ferreiro, narrativas verdadeiras de ativismo da beleza”, destaca Jackson.
Exposição "Tempo Presente em Nós: design, memória e inovação"
Onde: Centro de Design do Ceará (Rua Dr. João Moreira, 540 - Centro)
Quando: quinta e sexta, das 12h às 20 horas, sábado e domingo, das 10h às 14h30min
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