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Zezé Motta celebra Caetano Veloso em show no São Luiz
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Zezé Motta celebra Caetano Veloso em show no São Luiz

Parceria que vem desde os anos 1970, Zezé Motta retoma homenagem a Caetano Veloso em show de voz e piano apresentado neste domingo, 5, no São Luiz
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Zezé Motta apresenta show em homenagem a Caetano Veloso no Cineteatro São Luiz (Foto: Jean Leal Nunes/ Divulgação)
Foto: Jean Leal Nunes/ Divulgação Zezé Motta apresenta show em homenagem a Caetano Veloso no Cineteatro São Luiz

Os laços de Zezé Motta com a música são algo muito bem apertados. Ela, por exemplo, esteve presente no elenco de “Roda-Viva”, peça dos anos 1960 marcada pela violência política e pela canção de Chico Buarque. Vivendo Xica da Silva no cinema, imortalizou uma personagem e uma música de Jorge Benjor. Entre seus primeiros trabalhos está o clássico musical norte-americano “Hair”, o que lhe rendeu a homenagem de Caetano Veloso na música “Tigresa”.

E aquela felina de unhas negras e olhos cor de mel ganhou outros presentes do compositor baiano. “Pecado Original”, gravada no disco de estreia dela, foi um sucesso nas rádios. Anos depois, ela estava cantando “Miragem de Carnaval”, na trilha do filme “Tieta do Agreste”, onde também atuou. Essa história de afinidade e admiração entre e Zezé e Caetano será contada no show “Coração Vagabundo”, que ela apresenta neste domingo, 5, no Cineteatro São Luiz. Por email, a cantora e atriz de 78 anos fala de sua relação com compositores, amigos, trabalho e Brasil. Confira.

O POVO – Você estreou um show em homenagem ao Caetano em 1990. Mais de 30 anos passaram de lá pra cá. O que mais mudou nesse espetáculo desde a estreia até o que vamos ver nesse domingo?
Zezé Motta – A obra de Caetano nunca deixa de ser atual, é impressionante isso. A gente pode revisitar uma música que foi gravada há exatos 30 anos atrás, mas é incrível como a grande maioria delas é atual, fazem parte da vida de muitos brasileiros. O que mudou nesse espetáculo é que agora estamos apresentando um show no formato voz e piano, bem mais intimista, muito elegante e gostoso de ouvir.

O POVO – A obra de Caetano é muito vasta, passa por muitos estilos e temas. Como você pensou o recorte para esse show? Que Caetano você quer mostrar?
Zezé Motta – A escolha do repertório pra mim é sempre muito difícil, porque eu sou amante de muitas músicas do Caetano, mas tem sempre aquelas que tocam mais o nosso coração, não é mesmo? Tem aquelas que não podem deixar de estar, que eu gravei e que, se não colocar, o público cobra depois, como “Miragem de Carnaval” e “Pecado Original”. “Pecado Original”, por exemplo, eu apresentei no antigo programa “Mulher 80”, na Globo, e marcou muita gente. Até hoje me param na rua para falar sobre isso. Sobre mostrar qual Caetano, nunca pensei nisso, ele é único, Caetano é Caetano.

O POVO – Sua obra inclui outras homenagens, com um disco dedicado a Jards Macalé e Luiz Melodia, outro a Elizeth Cardoso – que você, inclusive, apresentou em Fortaleza. Queria que você falasse desses tributos que você lançou e de que forma o Caetano se insere nesse seu repertório.
Zezé Motta – Eu sou uma cantora que sempre gostou de homenagear, como você mesmo disse, já homenageei Macalé, Melodia, Elizeth, agora Caetano... Cada um deles teve uma história na minha vida, Caetano dispensa apresentações eu acho, pois esteve presente em quase toda minha trajetória como cantora. É um amigo, é um ídolo, é um ícone da nossa música.

O POVO – Seu disco de estreia solo completa 45 anos em 2023. Além de já trazer Caetano, o álbum segue atual com arranjos contemporâneos e um repertório precioso. Queria saber sobre como foi essa produção. Que liberdade de escolhas você teve, como essas canções chegaram e como foi levar isso tudo para a estrada.
Zezé Motta – Já tinha feito pequenas incursões no mercado fonográfico. Dois compactos com músicas que eu cantava em espetáculos teatrais e um LP (“Trem Noturno”, 1975) – em parceria com o Gerson Conrad. O Secos & Molhados, grupo do qual o Gerson fazia parte, se desfizera e o repertório que ele tinha composto para o Ney Matogrosso estava sem intérprete. Como ele se considerava mais compositor que cantor, resolveu buscar alguém. Ao me ver no (espetáculo) “Godspell”, ficou impressionado. Eu cantava “Day by Day” e, realmente, era um escândalo. Começava cantando bem grave e terminava com uma nota super-aguda. Era aplaudida em cena aberta todo dia e uma vez chegaram a pedir bis. Mas o disco não aconteceu. Ele falou mal da gravadora Som Livre na imprensa, e o disco foi mal comercializado. Empacou. Dancei de tabela, mas tudo bem. Como eu dava várias entrevistas por dia na época do estouro do (filme) “Xica da Silva”, sempre reafirmando a minha vontade de ser cantora, o Guilherme Araújo me procurou e se ofereceu para ser meu empresário. Só que eu não tinha intimidade com o pessoal de música. Naquela época, as tribos não se misturavam muito. Tinha o pessoal do cinema, o pessoal da música, a turma do teatro. Hoje, eu acho que está mais misturado. Caetano compõe música para balé, Milton faz trilha de cinema, as áreas estão mais interligadas. Então, o Guilherme decidiu promover um jantar com o “crème de la crème” da MPB: Rita Lee, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luiz Melodia, Moraes Moreira. Todos comparecem e me prometeram músicas. Dessa safra, vieram “Crioula”, do Moraes; “Dores de Amores”, que eu gravei em dueto com o Melodia; “Rita Baiana”, do John Neschling e Geraldo Carneiro, da trilha da peça “Lola Moreno”; “Pecado Original”, do Caetano, da trilha do filme “A Dama do Lotação”, entre outras. A Rita Lee, que não sabia nada de mim, leu minhas entrevistas e fez, com o Roberto de Carvalho, o “Muito Prazer Zezé”, que é a minha cara.

O POVO – Por falar em disco de estreia, “Pérola Negra”, de Luiz Melodia, completa 50 anos em 2023. Você e Luiz sempre foram próximos artisticamente e no documentário dele é hilário quando você diz que nem sempre entendia o que ele queria dizer, mas gostava. Quem foi Luiz Melodia pra você e que importância ele teve para sua vida e seu trabalho?
Zezé Motta – É muito difícil para mim dizer quem foi o Melodia na minha vida. Ele era um amigo, um irmão, um ídolo. Foram muitos shows que fizemos juntos, só com o (Projeto) Pixinguinha rodamos pelo Brasil, né? São muitas histórias, uma vida... Sou muito grata a ele por ter me dado “Magrelinha” pra gravar. A obra do Melodia circula pelos meus 50 anos de carreira, não tem um show que eu faça que não me peçam pra cantar Luiz Melodia.

O POVO – Pra você, o que representaram os quatro anos de governo Bolsonaro e a transição para o governo Lula?
Zezé Motta – Retrocesso, fome, destruição, genocídio, tentaram acabar com a cultura... Esses foram os quatro anos do governo Bolsonaro. Quanto à transição para o governo Lula foi a nossa esperança de um país melhor, menos desigual, com um governante que respeita seu povo, seus artistas...

O POVO – Seu último disco é de 2018, “O samba mandou me chamar”. Queria que você falasse desse disco e se existe plano para um novo disco.
Zezé Motta – Olha, gravar esse disco foi uma realização pessoal, sabe? Desde o meu começo no mercado da música, a Warner queria que eu gravasse samba. Mas eu não queria ser rotulada de sambista. Nada contra, mas eu queria ser livre para cantar vários gêneros. E era também uma atitude politica por perceber que queriam me pregar esse rótulo pelo fato de eu ser negra. Estava numa fase de militância mais radical e criei essa resistência. Depois de longos anos, senti falta de fazer um disco de samba, que estava engavetado há muitos anos e assim foi feito. Fiz, entreguei. Mas esse disco não foi muito explorado, não cheguei a viajar com ele para fora do Rio ou São Paulo, pois logo veio a pandemia. E também era complicado viajar com uma banda enorme com mais de 10 pessoas.

O POVO – Esse ano você completa 79 anos. O que o tempo e a experiência te ensinaram de mais importante?
Zezé Motta – De mais importante? A não levar as coisas tão a sério... A pensar que tem jeito pra tudo na vida. E que precisamos sempre perseverar em tudo que venhamos a fazer.

O POVO – Como estão os planos na música e na atuação? Que projetos estão sendo feitos para 2023?
Zezé Motta – Olha, sou uma mulher em movimento, eu não paro! Nesse momento estou gravando uma série pra Globo que se chama “Histórias Impossíveis”, estou amando fazer. Já gravei uma outra que ainda não estreou, se chama “Fim”, baseada no livro da Fernandinha Torres. Acabe de fazer um filme sobre a vida de Esperança Garcia, uma mulher negra escravizada brasileira, considerada a primeira mulher advogada do Brasil. Estou pra começar a gravar uma série pra Disney, chamada “Americana”. Tenho dois novos filmes pra gravar ainda este ano. Estou viajando o Brasil com o show “Zezé Canta Caetano”, apresentações confirmadas em São Paulo, Bahia, Fortaleza, Curitiba. Tem também o show “Pérolas Negras” que participo, com várias apresentações marcadas. Em junho estreio o especial “Mulher Negra” no Canal E!. Tem o disco do show que homenageio o Caetano que quero gravar ainda esse ano. Acabei de dar voz ao audiobook do sucesso “Torto Arado”. Enfim, além de uma série de outras coisas... Também sou garota propaganda, risos, tenho contrato com algumas marcas. Então estou sempre fazendo uma gravação aqui outra ali... Essa é a minha vida.

Coração Vagabundo - Zezé canta Caetano

Quando: domingo, 5, às 18 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Quanto: R$60 (inteira) e R$30 (meia). À venda no site Sympla e no local
Telefone: 3252 4138
Instagram: @cineteatrosaoluiz

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