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Gratuito: Mostra CaraTapa discute inclusão e diversidade através do audiovisual
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Gratuito: Mostra CaraTapa discute inclusão e diversidade através do audiovisual

Discutindo diversidade no cinema, Mostra Cine CaraTapa inicia nesta quarta-feira, 8, com 15 filmes e cinco cine-debates no Cinema do Dragão do Mar
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Atriz Muriel Cruz em
Foto: Divulgação Atriz Muriel Cruz em "Lalabis"

Mais do que reunir produções de audiovisuais de mulheres cis e trans, travestis, pessoas não-binárias e pessoas trans-masculinas, exibindo-as de forma gratuita, a Mostra Cine CaraTapa tem como proposta discutir aspectos técnicos do cinema. Com 15 filmes e cine-debates, a mostra inicia nesta quarta-feira, 8, às 19 horas, no Cinema do Dragão, e segue até domingo, 12, com a bandeira artística e política de tornar a sétima arte mais inclusiva.

Em 2018, dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) sobre o número de mulheres em cargos de direção chamou a atenção da dupla Rúbia Mércia e Irene Bandeira. Desde então, as duas elaboraram uma curadoria e programação que contemplasse realizadores além do perfil de homens, brancos e cisgêneros.

“Nesse momento, em 2018, a discussão sobre diversidade estava forte, mas não tão forte ainda, como é hoje. Então, essa política da diversidade da mostra surge quando a gente se depara com essa informação da Ancine. Lógico que nós já vínhamos percebendo o quão as mulheres estavam mais na função de produção, de cuidado no set de filmagens, que também é maravilhoso, mas as funções técnicas como direção de fotografia, montagem e realização de filmes, a gente via que tinha muitas lacunas”, relembra Rúbia.

A idealizadora defende que quando se trata de pessoas trans, por exemplo, o quantitativo é ainda menor e está entre as pautas do Caratapa promover a inclusão.

“Cada vez mais as políticas públicas têm investido em políticas afirmativas, mas de alguma forma, a gente quer falar no Cine Caratapa cada dessas funções técnicas que não eram ocupadas por essas mulheridades e que hoje, a partir de movimentos coletivos, queremos ocupar e discutir esses espaços de criação, fruição e circulação dos trabalhos artísticos”, detalha.

Pluralidade de conduzir, mediar e das diferentes áreas técnicas, da produção à montagem, fortalecem a mostra como espaço de relação e comunidade, explica Irene Bandeira. “Como pensamento curatorial, houve a vontade de reunir filmes que não tinham circulado muito, relativamente novos, de 2019 para cá, que muitos não foram exibidos na sua cidade de origem (Fortaleza) ou não têm acesso fácil, não estão online. É uma vontade de facilitar o acesso aos espectadores para que possam estar próximos a essa curadoria”, diz ela.

A multiartista Noá Bonoba participa da mostra como atriz com três filmes, são eles "Panteras" (2022), "Elusão" (2022) e "Noturno" (2022), além de "Lalabis" (2022), do qual é diretora. O curta-metragem dirigido por ela esteve na Mostra Tiradentes, em janeiro, e será exibido pela primeira vez em Fortaleza no Cine CaraTapa.

“Está sendo muito importante ter essa oportunidade de exibir o filme em um cinema como o do Dragão do Mar, porque eu sempre quis reunir a equipe para assistir o filme em um equipamento como esse”, ressalta. Com uma equipe majoritariamente trans, considera que o filme foi um espaço de acolhimento, seguro para opiniões e experimentações.

“Sou muito feliz por ter formado essa equipe, porque para mim é uma questão fundamental, é uma pauta que venho lutando há alguns anos em fóruns, debates, discussões, não só eu, mas pessoas trans de todo o Brasil, de cobrar mesmo a nossa presença dentro das equipes, não só como estagiário”, reivindica a diretora.

“Dentro do nosso filme, a gente buscou outras formas de processo (cinematográfico), mas a gente tem pessoas trans encabeçando funções ditas de ‘chefia’, embora no nosso filme não fosse importante esse título de chefe ou líder. A gente tentou sempre desierarquizar”, completa. Para ela, as políticas públicas avançaram no que diz respeito à inclusão, mas ainda há um longo caminho para o que classifica como uma reparação histórica.

“A forma com que nós, pessoas trans, fomos representades durante a história do cinema por pessoas cis, agora a gente vem reclamando, cobrando nossa presença nesses papéis, e para além disso entender que essa cobrança não pode vir apenas na atuação, mas precisa entrar na formação da equipe, nas pessoas que vão trabalhar nos filmes. Acho que a gente conseguiu avançar um pouco, mas ainda é muito pequena a nossa participação”, opina.

Para Noá, o caminho tem sido celebrar as exibições no Cine CaraTapa e continuar firme na busca por novos espaços. “É muito importante para mim continuar nessa profissão de atriz sendo uma travesti, que a gente sabe que já é uma profissão difícil, no contexto que vivemos, para pessoas cisgêneras. Então para a gente é três vezes mais, permanecer nessa carreira de atriz, trabalhando, com novos projetos”, aponta. Entre as dificuldades, cita os papéis coadjuvantes a estereotipados destinados a pessoas trans e travestis.

“O caminho ainda é muito incerto, ainda tenho medo, dúvidas e inseguranças se é possível continuar, se as pessoas vão gostar do meu trabalho, é uma carreira sempre incerta e difícil, mas é hora de olhar para os filmes e celebrar, e torcer para que venham mais”, finaliza.

Programação

8 de março, quarta-feira
Sessão Produção | Produzir sentidos, planejar desejos
Filmes: Hospital de brinquedos (2022), Elusão (2022) e Laroiê Exu (2019)
Debate: Ticiana Augusto, Natasha Silva e Dimitra Queiroz, com mediação de Virna Paz

9 de março, quinta-feira
Sessão Realização | Imaginar Mundos
Filmes: Aguar, Lalabis (2022) e Soberane (2022)
Debate: Noá Bonoba, Wylliana Nascimento, com mediação de Rúbia Mércia

10 de março, sexta-feira
Sessão Som + Montagem | Escutar Presente e Montar Futuros
Filmes: Xique-xique (2022), Mizu (2022) e Noite de Seresta (2020)
Debate: Letícia Belo, Paula Trojany, com mediação de Vivi Rocha

11 de março, sábado
Sessão Fotografia e Montagem | Dentro do quadro a escrita
Filmes: Rua Dinorá (2022), Curió (2022) e Panteras (2022)
Debate: Luciana Rodrigues, Linga Acácio, Priscila Smiths, com mediação de Irene Bandeira

12 de março, domingo
Sessão de Estreia | Cinema ao vivo
Filmes: Noturno (2020) e Grande Mistério (2020)
Encerramento com trilha sonora ao vivo

Mostra Cine Caratapa

Quando: 8 a 12 de março, às 19 horas
Onde: Cinema do Dragão do Mar, Sala 2 (R. Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema)
Entrada gratuita

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