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Oscar 2023: para onde aponta o triunfo da A24, "queridinha da Academia"?
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Oscar 2023: para onde aponta o triunfo da A24, "queridinha da Academia"?

Indo além da cansada "batalha" entre estúdios tradicionais e plataformas de streaming, Oscar 2023 consagra a produtora independente A24
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Os quatro vencedores de atuação — Ke Huy Quan, Michelle Yeoh, Brendan Fraser e Jamie Lee Curtis — vieram de filmes da A24 (Foto: Mike Coppola / Getty Images via AFP)
Foto: Mike Coppola / Getty Images via AFP Os quatro vencedores de atuação — Ke Huy Quan, Michelle Yeoh, Brendan Fraser e Jamie Lee Curtis — vieram de filmes da A24

A primeira aparição da produtora, distribuidora e estúdio A24 no Oscar foi em 2016, com três indicações que se converteram em vitórias: melhor atriz para Brie Larson por "O Quarto de Jack", melhor documentário para "Amy" e melhores efeitos visuais para "Ex Machina". De lá para cá, a A24 seguiu marcando presença e vencendo no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — como com "Moonlight", ganhador do troféu de Melhor Filme de 2017 —, mas foi em 2023 que demarcou novo espaço em Hollywood. Em meio à já cansada "batalha" entre grandes estúdios tradicionais e grandes plataformas de streaming, despontou no 95º Oscar a companhia independente.

Antes mesmo da cerimônia que ocorreu neste domingo, 12, a A24 já havia cimentado o lugar na edição deste ano ao ser o estúdio com maior número de indicações do ano: 18, no total. O anúncio dos vencedores veio confirmar a relevância da empresa em 2023, com nove das indicações sendo convertidas em vitórias.

Tanto a marca de indicados quanto a de vitoriosos foram puxadas, naturalmente, pelo popular "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", ficção científica/comédia/aventura/drama de Daniel Kwan e Daniel Scheinert. A obra, que se apoia no conceito de "multiverso", levou sete das 10 possíveis estatuetas — foram 11 as indicações, mas duas na mesma categoria, Atriz Coadjuvante.

Misturando gêneros, o longa é protagonizado por uma imigrante chinesa que é dona de uma lavanderia nos EUA e acaba descobrindo ser a única salvadora possível dos infinitos multiversos existentes na trama. Com orçamento de padrão independente — U$ 25 milhões —, "Tudo em Todo Lugar" faturou mais de U$ 104 milhões mundialmente e se firmou nas paixões do público e da própria Academia.

Foram múltiplos os marcos e recordes históricos que a produção angariou com as sete vitórias. Foi, por exemplo, o vencedor de Melhor Filme que ganhou em mais categorias desde "Quem Quer Ser Um Milionário", em 2009, além de ter sido o terceiro filme da história do prêmio a levar três categorias de atuação.

Entre elas, desponta o triunfo da malaia Michelle Yeoh, primeira asiática e segunda não-branca a vencer o Oscar de Melhor Atriz. Já Ke Huy Quan foi o segundo asiático a vencer na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Completa a tríade de vitórias de interpretação a célebre Jamie Lee Curtis, premiada como Atriz Coadjuvante.

A quarta categoria de atuação foi para Brendan Fraser, por "A Baleia", o que deu para a A24 as quatro vitórias possíveis entre intérpretes. O trabalho de maquiagem e penteado do longa também rendeu uma segunda estatueta ao filme e completou as nove conquistadas pelo estúdio.

Apesar das vitórias anteriores, a predominância da A24 em 2023 não abre espaço para uma conclusão que não aponte esta edição como um ponto de virada para o estúdio. O culto do público já era uma realidade, fruto de uma intensa produção de longas de gênero — da ficção científica experimental "Under the Skin" (2013) ao terror "Pearl" (2022) —, mas a chancela e a vitrine do Oscar catapultam a companhia independente para novo patamar.

O êxito da produtora e distribuidora em 2023 ganha contornos ainda mais interessantes observando os contextos do Oscar dos últimos anos — no mínimo a partir de 2019, quando se instaurou no evento a "batalha" entre estúdios tradicionais e plataformas de streaming.

Na 91ª edição, "Roma", da Netflix, parecia fadada a ser a primeira produção de uma plataforma a vencer o troféu de Melhor Filme. De 10 indicações, levou três, mas não a principal. De 2020 a 2022, a gigante conseguiu emplacar dois longas em cada ano na disputa central da premiação, mas sem vitórias.

Enquanto isso, outras plataformas também apareciam aqui e ali nas listas de indicados, até que a Apple , ainda pouco estabelecida junto aos assinantes em comparação à rival, passou à frente e conquistou, em 2022, o primeiro troféu de Melhor Filme para uma produção de streaming com a vitória de "No Ritmo do Coração".

Apesar do triunfo do ano anterior, 2023 só teve uma produção de plataformas na disputa principal: "Nada de Novo no Front", longa alemão da Netflix que teve nove indicações e ganhou quatro. Outras duas vitórias — para a animação "Pinóquio de Guillermo del Toro" e o curta documental "Como Cuidar de um Bebê Elefante" — garantiram à plataforma o segundo lugar numérico entre estúdios.

Curiosamente, mesmo com o discurso de "retorno ao cinema" repetido durante a temporada de premiações — devido a 2022 ter sido o ano em que foi possível retornar a algum nível de normalidade desde o início da pandemia —, as produções de estúdios tradicionais, sejam em maior ou menor escala, saíram por baixo no panorama geral.

Para encontrar um vencedor "tradicional" nas principais categorias, é preciso ir até Melhor Roteiro Adaptado, onde o drama "Entre Mulheres" — de produção pequena, mas apoiado por empresas grandes — triunfou. "Os Banshees de Inisherin", "Elvis", "Os Fabelmans" e "Tár" não ganharam nenhum prêmio, enquanto os recordistas de bilheteria "Avatar: O Caminho da Água" e "Top Gun: Maverick" vencerem somente um cada.

Não cabe dizer se, com os resultados, a Academia aponta para uma "terceira via" na cansada batalha de modelos de lançamento e produção. Tanto porque as fronteiras entre eles são cada vez mais tênues, com conglomerados reunindo "rivais" no mesmo guarda-chuva, quanto por conta do caráter circunstancial e específico de cada edição do Oscar — o triunfo dos streamings no ano passado, afinal, deu lugar à acentuada ausência neste ano.

É possível inferir, porém, que o cenário de crise generalizada para as grandes empresas de mídia ganha contornos no mínimo curiosos com a ascensão de uma companhia como a A24, "descolada", voltada ao público jovem e que se firmou no imaginário do público, nas cifras e na indústria em uma década.

Leia também | Confira matérias e críticas sobre audiovisual na coluna Cinema&Séries, com João Gabriel Tréz 

Oscar 2023: confira lista de todos os vencedores da premiação

A cerimônia de premiação do Oscar 2023 aconteceu neste domingo, 12 de março, no Teatro Dolby, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O evento prestou homenagem aos principais filmes, atores, técnicos, entre outras categorias do mundo cinematográfico e é a principal premiação de cinema do mundo.

A transmissão teve início às 20 horas com a entrada de celebridades e a cerimônia começou às 21 horas. No Brasil, o público pôde assistir à premiação pelo canal da TV fechada TNT e pela plataforma de streaming HBO Max.

Confira os vencedores do Oscar 2023:

Melhor Filme

- "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Atriz

- Michelle Yeoh, por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Ator

- Brendan Fraser, por "A Baleia"

Melhor Direção

- Daniel Kwan e Daniel Scheinert, por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Atriz Coadjuvante

- Jamie Lee Curtis - "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Ator Coadjuvante

- Ke Huy Quan - "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Animação em Longa-metragem

- "Pinóquio" de Guillermo Del Toro

Melhor Filme Internacional

- "Nada de Novo no Front"

Melhor Música Original

- "Naatuu Naatu", do filme "RRR", música de M.M. Keeravaani, letra de Chandrabose

Melhor Edição

- "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo" 

Melhores Efeitos Visuais

- "Avatar: o caminho da água"

Melhor Roteiro Original 

- "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"

Melhor Som

- "Top Gun: Maverick"

Melhor Curta de Animação

- "The Boy, the Mole, the Fox, and the Horse"

Melhor Curta Documentário

- "The Elephant Whisperers"

Melhor Trilha Sonora

- "Nada de Novo no Front"

Melhor Design de Produção

- "Nada de Novo no Front"

Melhor Figurino

- "Pantera Negra: Wakanda para Sempre"

Melhor Maquiagem e Penteados

- "A Baleia"

Melhor Fotografia

- "Nada de Novo no Front"

Melhor curta live action

- "An Irish Goodbye"

Melhor documentário

- "Navalny"

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