A primeira aparição da produtora, distribuidora e estúdio A24 no Oscar foi em 2016, com três indicações que se converteram em vitórias: melhor atriz para Brie Larson por "O Quarto de Jack", melhor documentário para "Amy" e melhores efeitos visuais para "Ex Machina". De lá para cá, a A24 seguiu marcando presença e vencendo no prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — como com "Moonlight", ganhador do troféu de Melhor Filme de 2017 —, mas foi em 2023 que demarcou novo espaço em Hollywood. Em meio à já cansada "batalha" entre grandes estúdios tradicionais e grandes plataformas de streaming, despontou no 95º Oscar a companhia independente.
Antes mesmo da cerimônia que ocorreu neste domingo, 12, a A24 já havia cimentado o lugar na edição deste ano ao ser o estúdio com maior número de indicações do ano: 18, no total. O anúncio dos vencedores veio confirmar a relevância da empresa em 2023, com nove das indicações sendo convertidas em vitórias.
Tanto a marca de indicados quanto a de vitoriosos foram puxadas, naturalmente, pelo popular "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", ficção científica/comédia/aventura/drama de Daniel Kwan e Daniel Scheinert. A obra, que se apoia no conceito de "multiverso", levou sete das 10 possíveis estatuetas — foram 11 as indicações, mas duas na mesma categoria, Atriz Coadjuvante.
Misturando gêneros, o longa é protagonizado por uma imigrante chinesa que é dona de uma lavanderia nos EUA e acaba descobrindo ser a única salvadora possível dos infinitos multiversos existentes na trama. Com orçamento de padrão independente — U$ 25 milhões —, "Tudo em Todo Lugar" faturou mais de U$ 104 milhões mundialmente e se firmou nas paixões do público e da própria Academia.
Foram múltiplos os marcos e recordes históricos que a produção angariou com as sete vitórias. Foi, por exemplo, o vencedor de Melhor Filme que ganhou em mais categorias desde "Quem Quer Ser Um Milionário", em 2009, além de ter sido o terceiro filme da história do prêmio a levar três categorias de atuação.
Entre elas, desponta o triunfo da malaia Michelle Yeoh, primeira asiática e segunda não-branca a vencer o Oscar de Melhor Atriz. Já Ke Huy Quan foi o segundo asiático a vencer na categoria de Melhor Ator Coadjuvante. Completa a tríade de vitórias de interpretação a célebre Jamie Lee Curtis, premiada como Atriz Coadjuvante.
A quarta categoria de atuação foi para Brendan Fraser, por "A Baleia", o que deu para a A24 as quatro vitórias possíveis entre intérpretes. O trabalho de maquiagem e penteado do longa também rendeu uma segunda estatueta ao filme e completou as nove conquistadas pelo estúdio.
Apesar das vitórias anteriores, a predominância da A24 em 2023 não abre espaço para uma conclusão que não aponte esta edição como um ponto de virada para o estúdio. O culto do público já era uma realidade, fruto de uma intensa produção de longas de gênero — da ficção científica experimental "Under the Skin" (2013) ao terror "Pearl" (2022) —, mas a chancela e a vitrine do Oscar catapultam a companhia independente para novo patamar.
O êxito da produtora e distribuidora em 2023 ganha contornos ainda mais interessantes observando os contextos do Oscar dos últimos anos — no mínimo a partir de 2019, quando se instaurou no evento a "batalha" entre estúdios tradicionais e plataformas de streaming.
Na 91ª edição, "Roma", da Netflix, parecia fadada a ser a primeira produção de uma plataforma a vencer o troféu de Melhor Filme. De 10 indicações, levou três, mas não a principal. De 2020 a 2022, a gigante conseguiu emplacar dois longas em cada ano na disputa central da premiação, mas sem vitórias.
Enquanto isso, outras plataformas também apareciam aqui e ali nas listas de indicados, até que a Apple , ainda pouco estabelecida junto aos assinantes em comparação à rival, passou à frente e conquistou, em 2022, o primeiro troféu de Melhor Filme para uma produção de streaming com a vitória de "No Ritmo do Coração".
Apesar do triunfo do ano anterior, 2023 só teve uma produção de plataformas na disputa principal: "Nada de Novo no Front", longa alemão da Netflix que teve nove indicações e ganhou quatro. Outras duas vitórias — para a animação "Pinóquio de Guillermo del Toro" e o curta documental "Como Cuidar de um Bebê Elefante" — garantiram à plataforma o segundo lugar numérico entre estúdios.
Curiosamente, mesmo com o discurso de "retorno ao cinema" repetido durante a temporada de premiações — devido a 2022 ter sido o ano em que foi possível retornar a algum nível de normalidade desde o início da pandemia —, as produções de estúdios tradicionais, sejam em maior ou menor escala, saíram por baixo no panorama geral.
Para encontrar um vencedor "tradicional" nas principais categorias, é preciso ir até Melhor Roteiro Adaptado, onde o drama "Entre Mulheres" — de produção pequena, mas apoiado por empresas grandes — triunfou. "Os Banshees de Inisherin", "Elvis", "Os Fabelmans" e "Tár" não ganharam nenhum prêmio, enquanto os recordistas de bilheteria "Avatar: O Caminho da Água" e "Top Gun: Maverick" vencerem somente um cada.
Não cabe dizer se, com os resultados, a Academia aponta para uma "terceira via" na cansada batalha de modelos de lançamento e produção. Tanto porque as fronteiras entre eles são cada vez mais tênues, com conglomerados reunindo "rivais" no mesmo guarda-chuva, quanto por conta do caráter circunstancial e específico de cada edição do Oscar — o triunfo dos streamings no ano passado, afinal, deu lugar à acentuada ausência neste ano.
É possível inferir, porém, que o cenário de crise generalizada para as grandes empresas de mídia ganha contornos no mínimo curiosos com a ascensão de uma companhia como a A24, "descolada", voltada ao público jovem e que se firmou no imaginário do público, nas cifras e na indústria em uma década.
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A cerimônia de premiação do Oscar 2023 aconteceu neste domingo, 12 de março, no Teatro Dolby, em Los Angeles, nos Estados Unidos. O evento prestou homenagem aos principais filmes, atores, técnicos, entre outras categorias do mundo cinematográfico e é a principal premiação de cinema do mundo.
A transmissão teve início às 20 horas com a entrada de celebridades e a cerimônia começou às 21 horas. No Brasil, o público pôde assistir à premiação pelo canal da TV fechada TNT e pela plataforma de streaming HBO Max.
Melhor Filme
- "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Atriz
- Michelle Yeoh, por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Ator
- Brendan Fraser, por "A Baleia"
Melhor Direção
- Daniel Kwan e Daniel Scheinert, por "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Atriz Coadjuvante
- Jamie Lee Curtis - "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Ator Coadjuvante
- Ke Huy Quan - "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Animação em Longa-metragem
- "Pinóquio" de Guillermo Del Toro
Melhor Filme Internacional
- "Nada de Novo no Front"
Melhor Música Original
- "Naatuu Naatu", do filme "RRR", música de M.M. Keeravaani, letra de Chandrabose
Melhor Edição
- "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo"
Melhores Efeitos Visuais
- "Avatar: o caminho da água"
Melhor Roteiro Original
- "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo"
Melhor Som
- "Top Gun: Maverick"
Melhor Curta de Animação
- "The Boy, the Mole, the Fox, and the Horse"
Melhor Curta Documentário
- "The Elephant Whisperers"
Melhor Trilha Sonora
- "Nada de Novo no Front"
Melhor Design de Produção
- "Nada de Novo no Front"
Melhor Figurino
- "Pantera Negra: Wakanda para Sempre"
Melhor Maquiagem e Penteados
- "A Baleia"
Melhor Fotografia
- "Nada de Novo no Front"
Melhor curta live action
- "An Irish Goodbye"
Melhor documentário
- "Navalny"
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