Logo O POVO+
Permanência do Forró
Vida & Arte

Permanência do Forró

Gênero nordestino, o forró faz parte da cultura e cotidiano cearense ainda nos dias atuais e pesquisadores e artistas ponderam sobre as transformações dos estilos nas últimas décadas
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Solange Almeida (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Solange Almeida

Expressão artística genuinamente nordestina, o forró faz parte da cultura de Fortaleza. Seja com o ritmo tradicional ou através de novas variações, o gênero permanece no cotidiano cearense, atraindo diversas pessoas para cantar, ouvir, dançar ou aprender em diferentes pontos da Capital.

Pedro Rogério, coordenador do Curso de Música da Universidade Federal do Ceará e pesquisador da música cearense destaca a importância do forró para a música cearense e nacional. "O forró traz em si um sotaque, todo um conjunto de valores, de costumes, que forma uma identidade que é originalmente brasileira", afirma.

"O forró tem como raiz manifestações musicais e coreográficas do ambiente rural, das festas de colheitas, de comemorações familiares (casamentos, nascimentos, aniversários…). É um evento que propicia sociabilidade: amizades, namoros, casamentos… podem surgir em forrós. Reflete ecos de tradições ancestrais que vão sendo ressignificadas com o passar dos tempos", complementa o professor Nonato Cordeiro, do Curso Técnico em Instrumento Músical do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Luiz Gonzaga é considerado por pesquisadores o principal responsável pela disseminação do forró no cenário nacional. "Desde que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira ensinaram ao Brasil como se dança o baião, nos anos 1940, nossa música nunca mais foi a mesma. Ao baião juntaram-se xaxado, coco, arrasta-pé, xote e outros ritmos nordestinos: assim nasceu o forró", pontuam Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues no livro "O fole roncou! Uma história do forró".

Inicialmente, as composições falavam sobre sertão, seca e diáspora nordestina, aponta Cordeiro. Mas ainda no século XX, o forró passou a abordar outros temas, como o romantismo, linha defendida pela cantora Eliane, também chamada de "A Rainha do Forró". No século atual, as composições explícitas já são mais consumidas, aponta a artista. "De uns tempos pra cá, houve muitas mudanças. Mudanças musicais em letras, composições bem mais pesadas, duplo sentido. Eu, particularmente, sou mais do romantismo", comenta.

A mudança nas composições é apontada por Emanoel Gurgel, fundador da banda Mastruz com Leite, como uma queda na qualidade do forró. "Essas músicas que são gravadas hoje em dia são como se fosse uma piada. E uma piada, você conta uma vez e dá certo, conta uma segunda vez e dá certo, na terceira já não tem mais graça", afirma. "De 1990 para agora, a filosofia da banda Mastruz com Leite é a mesma, ou seja, gravar música de qualidade para a vida toda", ressalta.

A transformação também aconteceu no ritmo. "O forró tradicional tem como base: sanfona, zabumba e triângulo. Claro que pode ter também o agogô, outros instrumentos de percussão", explica Cordeiro. "O forró atual incorpora tendências da modernidade, o avanço dos instrumentos musicais, os teclados, as guitarras, novos timbres de bateria", acrescenta.

Maria Juliana Linhares, professora do Curso de Música da Universidade Federal do Ceará, destaca que o Estado teve um papel importante no desenvolvimento do forró estilizado, também chamado de forró eletrônico, no início da década de 1990. O movimento passou a misturar elementos do forró tradicional com outros gêneros musicais, além de adicionar novos instrumentos como o sax.

"Mais do que produzir um forró diferente, foram criadas cadeias produtivas diferentes, novas formas de vender, distribuir e, por mais que há pessoas que critiquem o forró estilizado, uma coisa que eles conseguiram descobrir nessa época, anos 90, início dos anos 2000, é como se libertar dos grilhões da indústria fonográfica nacional e internacional, procurando outros meios de distribuir", acrescenta a professora.

Nascida na Bahia, Solange Almeida é um dos nomes do forró que também faz sucesso no Ceará. A artista destaca que o trabalho desenvolvido no Estado hoje chega em todo o País. "Hoje, a aceitação em algumas regiões do Brasil é mais branda, chegamos muito longe desde quando o Mastruz e Eliane deram o pontapé inicial no movimento e dão até hoje e acredito que a cada renovação do gênero e de novos artistas, a gente dá um passo para frente", declara. (Ana Flávia Marques)

 

O que você achou desse conteúdo?