Logo O POVO+
Aos 49 anos, jornalista cearense vive aventura em intercâmbio na Disney
Vida & Arte

Aos 49 anos, jornalista cearense vive aventura em intercâmbio na Disney

Beirando os 50 anos de idade, a jornalista Cinthia Medeiros deixou o conforto para trás e decidiu viver uma aventura ao fazer um intercâmbio na Disney
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cinthia Medeiros no ICP (International College Program) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Cinthia Medeiros no ICP (International College Program)

"Sempre é tempo de pensar fora da caixa", diz Cinthia Medeiros. Aos 49 anos, ela acaba de retornar do ICP (International College Program), programa de intercâmbio que leva universitários para trabalhar em equipamentos do Walt Disney World Resorts, em Orlando, nos Estados Unidos. O projeto faz parte de uma série de decisões que ela tomou em 2022 com o objetivo de mostrar a si mesma e aos outros que nunca é tarde demais para fazer algo novo.

Nos últimos dias, o caso da universitária Patrícia Linares, de 44 anos, que foi alvo de etarismo (preconceito e discriminação por conta da idade) por colegas da faculdade viralizou nas redes sociais. Mesmo após o episódio, ela afirma que não irá desistir do sonho. Outra situação que viralizou na internet foi o discurso de Michelle Yeoh no último domingo, 12, ao ganhar o Oscar de Melhor Atriz pela primeira vez aos 60 anos. "Senhoras, não deixem ninguém dizer que você já passou do seu auge", declarou a artista. Duas pessoas distintas em situações diferentes que foram vítimas do etarismo, mas que assim como Cinthia, acreditam que nunca é tarde para sonhar.

"O ano de 2022 foi de muitas reviravoltas pra mim. Comecei o ano sem planos para o futuro, atordoada pelos efeitos da pandemia e repensando o estilo de vida que eu queria ter", explica. Após fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2021, com o objetivo de apoiar um de seus filhos que também faria a prova, Cinthia descobriu que havia tirado o suficiente para ingressar numa faculdade, mesmo não tendo intenção na época e sendo bem sucedida na carreira de jornalista. Diante da oportunidade, ela decidiu viver a experiência da universidade mais uma vez e se matriculou no curso de licenciatura em música na Universidade Federal do Ceará.

Ao ingressar na graduação novamente, ela não tinha interesse em iniciar uma nova carreira, mas buscava um curso que lhe desse prazer. A adaptação foi mais fácil do que pensava e logo nos primeiros dias já queria morar na universidade. "Me vi de novo em contato com pessoas mais jovens, fui super bem aceita entre meus colegas de faculdade e aquilo foi me encorajando", relembra.

Cinthia Medeiros no ICP (International College Program)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Cinthia Medeiros no ICP (International College Program)

Meses após iniciar esse novo capítulo, Cinthia teve uma nova surpresa: sua filha a havia inscrito no ICP. Apesar de ser comum ver pessoas mais jovens participando do programa, ela tinha todos os requisitos necessários: ter mais de 18 anos, ser fluente em inglês e estar no segundo semestre de qualquer graduação. Sem muitas expectativas, Cinthia deu continuidade ao processo seletivo e a cada fase que passava ficava ainda mais surpresa, pois achava que a idade poderia ser um empecilho para ser escolhida. Mas não foi.

Cinthia foi selecionada para o intercâmbio em Orlando, onde ficou de dezembro até o início de março. "Fazer um intercâmbio beirando os 50 anos não é muito comum. Fazer um intercâmbio universitário beirando os 50 anos e na Disney, é praticamente improvável. Mas viajar e contar histórias estão no top 10 das minhas coisas preferidas na vida. E eu refleti: durante mais de 25 anos como jornalista eu sempre me dediquei a contar as histórias de vida de outras pessoas, era hora então de me dedicar à minha própria história", declara.

No ICP, os estudantes têm contato direto com o funcionamento do Walt Disney World Resorts. Eles são treinados dentro dos padrões da companhia e observam de perto os bastidores dos parques. Além disso, os intercambistas melhoram sua fluência na língua inglesa, têm contato com culturas diversas e desenvolvem suas habilidades de relacionamento, já que passam o período do intercâmbio em residências compartilhadas com estudantes de outros países.

"Era o momento de me afastar um pouco da minha rotina aqui para me permitir pensar fora da caixa e me ver diante de outros desafios, como estar num país estrangeiro, falando uma língua que não era a minha nativa, dividindo o quarto e a casa com pessoas desconhecidas, criadas em outras culturas, e num regime de trabalho totalmente diferente do que jamais imaginei", afirma.

Aventura compartilhada

Incentivada pela filha, Cinthia criou um perfil no Instagram (@cinthiaviaja) para registrar o dia a dia no intercâmbio. Hoje, a conta já acumula mais de mil seguidores. Na rede social, ela compartilhava rotina, altos e baixos, alegrias e tristezas, além de curiosidades sobre o estilo de vida nos Estados Unidos. O perfil acabou se transformando em uma rede de apoio entre pessoas da mesma faixa etária da jornalista, que se sentiram inspiradas com sua coragem de deixar a família e conforto para trás e viver uma aventura. "Quando menos esperei, comecei a receber mensagens de muitas pessoas que se sentiram inspiradas por mim. Pessoas que com 30 e poucos anos já se sentiam condenadas a não poderem mais viver uma experiência assim por conta da idade, e que ao me verem ali começaram a perceber que a contagem dos anos não pode ser limitante para a realização de sonhos. Mulheres que por conta de casamento, filhos ou trabalho pararam de fazer planos pessoais e que enxergaram em mim novas possibilidades", conta.

"Recebi cada mensagem linda! Fora as mães dos outros intercambistas que me escreviam para dizer que estavam com 'inveja' e pedindo para eu dar beijos e abraços nos filhos e filhas que estavam ali dividindo a rotina comigo", acrescenta. As mensagens foram essenciais para incentivar Cinthia a continuar no intercâmbio, pois cogitou abandonar o programa devido às dificuldades. "Isso foi me fortalecendo e me encorajando a continuar - porque muitas vezes eu pensei em desistir. Afinal, apesar de estar na Disney, havia muitas obrigações a cumprir, o trabalho era cheio de exigências, com expedientes exaustivos e sem margens para erros, atrasos, desculpas. Mas tudo isso foi parte importante para fazer dessa jornada um processo de autoconhecimento também", comenta.

Para Cinthia, a experiência a fez perceber que nunca é tarde para começar algo novo. "Voltei muito consciente de que o nosso lugar deve ser onde a gente queira estar. Não importa se na Disney, em Icapuí ou na Groenlândia. Que nunca é tarde para tentar fazer algo novo e descobrir novas versões de si mesmo. Que a gente muitas vezes é mais forte do que imagina e que só precisa lutar com as armas certas: a principal delas é determinação para mudar", pondera."Estou muito orgulhosa de mim. Não sei ainda o que vou fazer com tudo que aprendi nesses últimos três meses, mas só de saber que inspirei alguém, tudo já valeu à pena. Talvez eu ainda queira falar muito sobre isso, e vou vibrar de ver outros cinquentões se arriscando pelos caminhos que nos levam ao melhor de nós mesmos. Como diria o Guimarões Rosa - e eu amo essa frase - 'o que a vida quer da gente é coragem'", finaliza.

Podcast Vida&Arte

O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui

O que você achou desse conteúdo?