O que aconteceria se figuras do folclore brasileiro vivessem em meio ao cotidiano brasileiro dito comum? E se um policial cético tivesse a vida revirada por conta dessas lendas? Ambas as perguntas foram essenciais para a construção da narrativa de “Cidade Invisível”, série brasileira que foi um sucesso mundo afora na Netflix em 2021 e, a partir desta quarta-feira, 22, volta com uma nova temporada e novos mistérios.
Quando lançada, a série foi um sucesso dentro e fora do Brasil, ficando no top 10 da Netflix em cerca de 60 países. "Eu acho que ainda são poucas as nossas produções que conseguem furar essa bolha do internacional, mas eu acho que o nosso país é riquíssimo, a gente tem uma linguagem muito bonita e definida de cinema e audiovisual", defende Marco Pigossi. Além disso, "Cidade Invisível" é uma forma de homenagear a cultura brasileira e levá-la a diferentes públicos que estejam curiosos para conhecê-la melhor.
A primeira temporada de “Cidade Invisível” já inicia introduzindo o tão conhecido Curupira, que protege as florestas e pune aqueles que agridem a fauna e flora do local. A história se passa principalmente na Vila Toré, uma reserva ambiental do Rio de Janeiro onde Gabriela (Julia Konrad) trabalha.
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Em meio a uma festa de São João na comunidade, um acontecimento dá origem a todo o mistério: Gabriela morre ao ir procurar a filha Luna (Manuela Dieguez) em um incêndio que acontece no local. A partir disso, o Boto Cor-de-rosa é encontrado morto na praia e outras entidades folclóricas como a Cuca e o Saci-Pererê começam a ter suas histórias integradas à trama do policial Eric (Marco Pigossi), que está investigando o que aconteceu com a esposa Gabriela.
Ao longo dos episódios, descobre-se que quem está por trás de tudo é o espírito do Corpo-seco, que usa o corpo de Luna, e posteriormente de Eric, para matar quem deseja, como Gabriela e Saci. Por fim, Eric consegue se livrar do vilão e vê a ex-esposa dizendo que ele ainda tem uma jornada pela frente e termina sumindo em meio à floresta, desmaiado nos braços de Iberê.
A segunda temporada começa após dois anos do desaparecimento do protagonista. Eric aparece em um santuário natural localizado na Amazônia, o qual é protegido por indígenas e sofre com o garimpo ilegal. Enquanto ele estava sumido, Luna e Inês (Alessandra Negrini) foram até as proximidades do local procurá-lo, até que Eric acorda e se vê novamente ligado a entidades do folclore brasileiro, agora tendo também habilidades sobrenaturais.
Sobre essas novas habilidades, o ator Marco Pigossi acredita que antes seu personagem estava muito à margem do que era místico, enquanto agora ele está completamente mergulhado nisso. “Na primeira temporada o Eric estava dentro de uma corporação policial, onde existia um trabalho burocrático e ele não tinha total liberdade de fazer as coisas por ele mesmo”, explicou Marco. Ele acrescenta que na segunda temporada eles saem do urbano e vão para a floresta, algo que exigiu não só que o personagem trabalhasse para entender o que estava acontecendo com ele, mas também que o ator enfrentasse desafios como chuvas, insetos e maior preparo físico.
Tal mudança de locação já era uma antiga ideia de Carlos Saldanha, criador da obra, mas que não ocorreu já na primeira temporada por uma escolha dele de trazer à tona um contexto mais policial e investigativo. “Quando o sucesso da série deu oportunidade da gente fazer uma segunda temporada, eu voltei às origens da história que a gente queria contar e joguei para o Pará, já que eu tinha muita vontade de fazer alguma coisa em Belém, que é uma cidade lindíssima e com uma história muito forte”, conta o diretor.. Além disso, a ideia original de Carlos era exatamente que “Cidade Invisível” contasse a história de várias partes do Brasil, de forma que cada temporada se passasse em um novo local com novas entidades e, assim, a pluralidade cultural do País pudesse ser bem explorada.
Nesse sentido, novos personagens folclóricos foram adicionados à obra. Já no trailer da nova temporada, a atriz Letícia Spiller apareceu interpretando Matinta Perê, uma bruxa que se transforma em uma “coruja rasga-mortalha”, dona de um som que, segundo o imaginário popular, leva azar e até morte por onde passa. Além dela, personagens como a Mula sem Cabeça e o Menino Lobo aparecem nos episódios mais recentes.
Em meio a tantas novidades, o que fica no coração da equipe por trás da série é a expectativa sobre como ela será recebida pelo público. “A gente espera que as pessoas gostem, que elas curtam e consigam embarcar nesse mundo que a gente criou e adora. Estamos muito orgulhosos de poder dividir isso na tela com todo mundo”, conta Carlos.
Cidade Invisível
Série disponível no catálogo da Netflix a partir desta quarta-feira, 22
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