Em uma ilha qualquer, um farol abriga dois idosos. O casal é formado por um homem e uma mulher que se encontram na casa dos 90 anos. O velho é o zelador do farol. Esquecidos naquele ambiente e sem receber visitas, chega o dia em que o homem, enfim, fará o pronunciamento "que mudará a humanidade" - ou pelo menos o que resta dela.
O detalhe é que não há grandes cenários ou locações em cena. Em destaque, a história. Como grande testemunha está o público que é convidado a embarcar nesta narrativa, sendo conduzido pelas interpretações de Marco Nanini e Camilla Amado na peça "As Cadeiras". A partir delas, são aflorados os sentimentos de isolamento, solidão, tédio e uma busca desesperada para entender a humanidade.
Dirigido por Fernando Libonati e adaptação do texto clássico do Teatro do Absurdo do dramaturgo francês Eugène Ionesco, o espetáculo será exibido no Cineteatro São Luiz em sessões únicas nesta sexta-feira, 24, e neste sábado, 25, a partir das 19 horas. Os ingressos estão à venda no site Sympla Bileto e na bilheteria por R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).
Na sexta-feira, 24, será promovido após a sessão um bate-papo com o diretor Fernando Libonati, as artistas Andreia Pires e Fran Teixeira e o jornalista Edilberto Mendes. No dia seguinte, antes da sessão, será realizada uma tarde de autógrafos do livro "O Avesso do Bordado", biografia escrita por Mariana Filgueiras sobre Nanini.
"As Cadeiras" será projetado no telão do Cineteatro São Luiz, seguindo a premissa de "Teatro na Tela" da programação. A peça começou a ser produzida em 2020, quando ainda havia incertezas sobre quando seria possível reencontrar o público presencialmente. Diante do cenário de dúvidas, a equipe decidiu que apresentaria a obra em formato ao vivo e gravado, e com isso "As Cadeiras" foi filmado em janeiro de 2021.
Esse, porém, foi o último trabalho em vida da atriz Camilla Amado. Ela faleceu em 2021 em decorrência de um câncer. A artista conseguiu, entretanto, assistir ao resultado final de sua participação semana antes de partir. "As Cadeiras" também coroou a amizade entre Nanini e Camilla, iniciada na década de 1970. Juntos, estrearam nos palcos com a montagem de "Encontro no Bar", em 1973.
"Sinto que ela segue comigo, que me sinto feliz e grato de assisti-la, e de ter podido dividir a cena com ela em seu último trabalho. Tem sido uma experiência diferente e muito interessante. Estou ansioso para chegarmos no Cineteatro São Luiz", compartilha Marco Nanini ao falar sobre a estreia da peça de modo gravado e sem Camilla.
O intérprete reflete sobre como foi um período difícil ao ser questionado a respeito do tempo de quarentena na pandemia. Para ele, há um sentimento de "alívio muito grande" diante da percepção de sobrevivência e o reconhecimento da criação de "novas maneiras de se estar com o público", como no caso de "As Cadeiras".
Inicialmente, a ideia era mostrar a peça tanto na versão teatral com público presente quanto em uma versão gravada em estúdio para ser exibida em vídeo nas redes sociais e em plataformas de streaming. Com o falecimento de Camilla Amado, não foi possível apresentar a montagem no formato tradicional, e a equipe decidiu exibir "As Cadeiras" em cineteatros, teatros e cinemas para posteriormente o produto ser lançado em streaming.
"O processo de criação de 'As Cadeiras' foi igual ao que fazemos sempre no teatro: leituras, dois meses de ensaio, encontros com os criadores. A diferença primordial, acredito, é que quando estávamos prontos para ir para o palco, fomos para o estúdio", acrescenta Nanini.
Na avaliação do ator, o público não perde em experiência com um espetáculo exposto a partir de telas. Na verdade, ele aponta como os recursos ajudam a apresentar a história "com muita plasticidade".
"'As Cadeiras' não é apresentada como teatro gravado, mas sim uma versão do texto para o audiovisual com todos os recursos possíveis. Então, acho que não se perde nada, muito pelo contrário. É uma experiência muito interessante, porque o teatro está ali em sua essência, e os recursos do audiovisual servem a contar esta história com muita plasticidade. Quando vi a primeira edição fiquei muito feliz com o resultado. Esta mistura de linguagens é muito rica, se feita com profissionalismo e talento resulta em uma obra única, uma proposta artística que considero inovadora", finaliza.
As Cadeiras
Quando: sexta-feira, 24, e sábado, 25, às 19 horas; Bate-papo com a equipe na sexta, 24, após a sessão e autógrafos no sábado, 25, às 17 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500 - Centro)
Quanto: R$20 (inteira) e R$10 (meia); vendas no Sympla e na bilheteria
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