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A partir do acervo, MIS promove formação para preservar memória
Vida & Arte

A partir do acervo, MIS promove formação para preservar memória

Ao longo de um ano, MIS promoveu oficinas, formações, exposições, shows, eventos e outras atividades, conciliando inovações com acervo de mais de 160 mil itens
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Projeção na fachada do Museu da Imagem e do Som do Ceará (Foto: Deyvison Teixeira/Divulgação)
Foto: Deyvison Teixeira/Divulgação Projeção na fachada do Museu da Imagem e do Som do Ceará

“Algumas pessoas têm a ideia de museu contemplativo, silencioso, que não pode tocar. Quando elas vêm ao MIS, percebem que podem tocar, correr, chegar perto, perguntar, falar… Tem uma mediação também muito bonita dos educadores ao longo do ano. É um lugar de descoberta, de invenção, de provocação e de tantas coisas que o MIS ainda pode ser nesse novo momento”.

Em seu funcionamento, o MIS segue a ideia de aproximar o público de suas possibilidades, como reflete a fala da fotógrafa, jornalista e professora Iana Soares. Ao longo do último ano, foram realizadas oficinas, formações, exposições, shows, cursos e outras atividades, atendendo a mais de 76 mil pessoas de março de 2022 a janeiro de 2023. Segundo o equipamento cultural, foram 2.300 ações, das quais mais de 2 mil foram voltadas à salvaguarda.

Para que a aproximação do público com o equipamento aconteça, são necessárias ações conjuntas entre diferentes coordenações do museu. Acima de tudo, é preciso existir comunicação entre as áreas responsáveis pelo acervo de mais de 160 mil itens. Nesse âmbito, não surgem apenas gestões de manutenção dos objetos, mas de como apresentá-los ao público.

Uma dessas estratégias ocorre a partir de eventos voltados à educação e formação do museu, setor coordenado por Iana Soares. “É uma área transversal que dialoga com a área de difusão cultural, com a de acervo e com toda a proposição que existe no museu de atividades para diversos públicos”, introduz.

“Isso contempla desde o público que aparece espontaneamente no equipamento e tem contato com a nossa equipe de educadores e pode ter a sua experiência mediada, mas passando também por pessoas que se inscrevem em cursos específicos e pelo Ateliê de Criação (no qual artistas desenvolvem e exibem ideias dentro do próprio museu), por exemplo. É entender esse museu como um espaço vivo, dinâmico e em construção”, prossegue.

Dentro do escopo das programações oferecidas com papel formativo estão cursos, oficinas, aulas abertas e seminários. Há também visitas mediadas, feitas para grupos espontâneos e para visitas anteriormente agendadas, e os ateliês de criação, como o Ateliê Imersivo “Mestre É Quem de Repente Aprende”, conduzido pelo artista Batman Zavareze em parceria com o Abstrata - Festival Internacional de Videomapping em julho de 2022.

O resultado da criação coletiva foi incorporado como parte da instalação imersiva “Ontem Choveu no Futuro”, de Zavareze, na própria sala imersiva do MIS. Para a coordenadora de Educação e Formação, são abertas novas possibilidades para artistas cearenses a partir da ocupação do local.

“É uma possibilidade de nos aproximarmos mais desse lugar da tecnologia como mais uma forma de expressão, e não nesse lugar do medo, do distante ou do interdito. A sala imersiva aliada a um processo formativo - aliás, o museu como um todo aliado a processos formativos - democratiza esse lugar, e não só o local ‘museu’, mas uma forma de estar no mundo e de se tornar visível e público”, defende Iana Soares.

“Esses processos formativos vão contribuir muito para o fortalecimento de uma cena que poderá se ver experimentando outras formas, como o videomapping”, acrescenta. Em meio a essas possibilidades estão, para o museu, reflexões sobre programações relativas à imagem e ao som, como anuncia o nome do equipamento cultural.

“É um desejo de trabalhar, sim, afirmando esses lugares, mas também pensando no que há entre eles. Há cada vez mais o interesse por transitar entre campos e é muito gostoso aproximar esses pontos da imagem e do som, entendendo também que cada um tem sua singularidade dentro dos processos formativos”, alega Iana.

“Acho que hoje a gente pensa na imagem e no som sempre nesse lugar do que as linguagens podem se afetar, porque mesmo quando a gente pensa em imagem, a gente tem audiovisual, a gente tem a fotografia, há esse novo lugar da inteligência artificial, da arte generativa, do código, da pintura e do design. No som, a gente vai para esse lugar da música e de tantas outras experimentações. Acho que é um museu que trabalha muito muito próximo do que o campo artístico, patrimonial e memorial vêm se debruçando ao tentar entender esses encontros”, indica.

Biblioteca do Museu da Imagem e do Som do Ceará está disponível ao público(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Biblioteca do Museu da Imagem e do Som do Ceará está disponível ao público

Trabalhar cada vez mais programações voltadas também ao som é “um desafio” que vem sendo assumido pelo grafiteiro e produtor Marquinhos Abu, coordenador de Ação e Difusão Cultural do MIS. “Existe uma conversa dentro dos laboratórios do museu de que o som sempre vem ligado ao audiovisual, então fica meio como um coadjuvante. A gente já começou a pinçar coisas desse acervo para mostrar o som como protagonista”, declara Abu.

Como define o artista, a área de Ação e Difusão Cultural tem papel importante de olhar para o acervo do equipamento e contar a história dele a partir de ações como exposições e palestras, pensando nas mais diversas possibilidades que ele pode dar. “Cada vez que a gente abre uma caixa a gente tem uma grata surpresa. Há caixas que, em si, podem virar exposição ou até livro. São muitas histórias contadas e atravessadas”, afirma.

“O papel da difusão é isso: colocar para o público esse acervo e criar um diálogo dele com as histórias das diversas Fortalezas ao longo do tempo”, destaca. Para Marquinhos Abu, não é possível “pensar o futuro ou até o presente” sem olhar para o passado, pois ele acaba explicando várias situações que ocorrem atualmente.

Nesse sentido, pensar em atividades voltadas para o som pode resultar, por exemplo, em discussões sobre as sonoridades de diferentes Fortalezas. “Uma cidade muito ruidosa como Fortaleza tem várias paisagens sonoras. No Meireles, há uma cidade com um ruído. Na Perimetral, há uma Fortaleza com outro som que perpassa outras imagens”, analisa.

Instalação audiovisual "Coragem", no MIS, foi resultado do Ateliê Imersivo "Mestre é quem de repente aprende", conduzido em 2022 pelo artista Batman Zavareze(Foto: Deyvison Teixeira/Divulgação)
Foto: Deyvison Teixeira/Divulgação Instalação audiovisual "Coragem", no MIS, foi resultado do Ateliê Imersivo "Mestre é quem de repente aprende", conduzido em 2022 pelo artista Batman Zavareze

Números do Novo MIS (de março/2022 a janeiro/2023)

- 2.300 ações realizadas, entre ações de salvaguarda, aulas, cursos, exposições, oficinas, palestras, sessões de cinema e outras atividades

- 76.046 pessoas atendidas

Exposições lançadas

- "Laboratório dos Sentidos", com curadoria de André Scarlazzari

- "Ontem choveu no futuro", de Batman Zavareze

- "Leocácio Ferreira - Todos juntos, vamos…!", com curadoria de Rosely Nakagawa.

- "Coragem", obra coletiva

Mostras com instituições parceiras:

- "Seara da Ciência no MIS"

- "Horizontes Desejantes" (em parceria com o Fotofestival Solar)

- "Rádio em Movimento"

- "Bicicletarte"

- "Revendo Chico da Matilde"

Edital Ocupa MIS

Edital de credenciamento de projetos artísticos para o museu, com o objetivo de fomentar projetos colaborativos, integrados e criativos no campo da cultura, arte, tecnologia, economia e desenvolvimento. Ao todo, 45 projetos foram selecionados, com 30% das vagas destinadas para a política de cotas, atendendo a pessoas negros/as pretos, negro/as pardos, indígenas, quilombolas, travestis, transexuais, transgêneros e com alguma deficiência.

Parceria

Em 23 de março, O POVO e a Fundação Demócrito Rocha (FDR) assinaram termos de parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte, formalizando, assim, a aproximação entre as instituições. Os acordos de cooperação técnica, acadêmica e cultural objetivam reunir esforços para a implementação de atividades para a produção e a veiculação de conteúdos em comum.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 15-03-2023: 1 ano de reabertura do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE). (Foto: Samuel Setubal)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 15-03-2023: 1 ano de reabertura do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE). (Foto: Samuel Setubal)

Missão: Preservar a história

Ao longo de mais de quatro décadas de existência, o Museu da Imagem e do Som do Ceará acumulou obras de inestimado valor histórico para Fortaleza, para o Ceará e para o Brasil. Fitas de áudio, fotografias, filmes de diretores cearenses, cordéis, discos de música brasileira e internacional e depoimentos de personalidades importantes do Estado surgem entre os mais de 160 mil itens que compõem os arquivos do MIS.

Para cuidar de tantas obras, é necessário uma equipe qualificada para manuseá-las e pesquisá-las. Nesse caso, o museu conta com analistas técnicos e museólogos, além de equipamentos apropriados para o desempenho de suas funções, como máquinas de digitalização de películas dos mais variados tipos.

“Nosso trabalho é um trabalho que inicia a cadeia operatória da museologia com as ações de salvaguarda, que são procedimentos relacionados à higienização, catalogação e restauro de obras, passando pela pesquisa até chegar na difusão desse acervo em salas expositivas”, explica o historiador e mestre em Preservação do Patrimônio Cultural, João Paulo Vieira, atualmente coordenador de Acervo e Pesquisa.

Com tantos materiais, os desafios para a preservação não são poucos. As adversidades percorrem desde suportes para mídias que estão em desuso atualmente (como fitas cassetes) a insumos apropriados para a salvaguarda desses acervos. “Muitos deles não existem aqui, então precisamos buscar fora”, relata.

Atualmente, existe um processo de inventariação do acervo, pois ele passou por diversos locais antes de ser fixado no novo MIS. “A gente está na etapa de organização da reserva técnica, de higienização e catalogação do acervo”, revela. Coordenadora de Pesquisa, Eliene Magalhães destaca a diversidade de temas do catálogo, que perpassa diversos momentos da história da cultura cearense.

Hoje, está sendo restaurado no MIS o registro audiovisual de um Reisado do Congo feito no Cariri na década de 1970 pelo poeta, jornalista, folclorista e teatrólogo brasileiro Oswald Barroso. Estão sendo inseridas cores e sons e espera-se que seja disponibilizado “em breve ao público”. Outra coleção importante é da obra do compositor Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga. Há, por exemplo, fotografias, objetos pessoais e até partituras inéditas.

Diante de tantas obras, é preciso também compreender “o que faz sentido permanecer” no museu, pois muitas delas foram incorporadas de forma desordenada. “É um trabalho de pesquisa mesmo, até porque há vários itens que chegaram sem informações. Com o mundo digital, é necessário também cuidado com questões de direitos de uso das filmagens, de fotografias e áudios capturados”, pontua Eliene.

Sobre o assunto, João Paulo Vieira complementa: “Estamos pensando na criação de uma política de gestão de acervos para pensar nesse universo de bens que compõem o acervo do MIS. Além disso, refletir sobre novas políticas de aquisição tentando ver lacunas de temas importantes na formação histórica e social do Ceará, como memórias dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, de negros, mulheres, ou seja, de grupos que ficaram à margem das políticas oficiais de preservação da memória”.

O coordenador também relata o desejo de realizar capacitações para a gestão do acervo. São avistadas em um horizonte cooperações com outras instituições que também trabalham com salvaguarda, como a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS) e a Escola de Audiovisual do Porto Iracema das Artes.

“A ideia é que o MIS também seja um laboratório onde esses estudantes e profissionais que estão sendo formados em outros equipamentos de cultural possam, na prática, trabalhar nesses processos de salvaguarda, catalogação e documentação”, enfatiza.

O POVO e Instituto Mirante

Em 23 de março, O POVO e a Fundação Demócrito Rocha (FDR) assinaram termos de parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte, formalizando, assim, a aproximação entre as instituições. Os acordos cooperação técnica, acadêmica e cultural objetivam reunir esforços para a implementação de parcerias e atividades para a produção e a veiculação de conteúdos em comum. Com O POVO, visam ao desenvolvimento de projetos de comunicação.

Leia Também:

- 1 ano de reabertura do MIS: a celebração de um museu vivo
- Diretor do MIS, Silas de Paula fala sobre sustentabilidade do museu

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