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Mônica celebra 60 anos de sucesso
Vida & Arte

Mônica celebra 60 anos de sucesso

A personagem Mônica, criação do cartunista Maurício de Sousa, chega em 2023 aos 60 anos, mantendo o sucesso e sendo ponte para projetos educacionais
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A personagem Mônica, criação do cartunista Maurício de Sousa, chega, em 2023, aos 60 anos mantendo-se como aliada na educação de inúmeras crianças pelo Brasil (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação A personagem Mônica, criação do cartunista Maurício de Sousa, chega, em 2023, aos 60 anos mantendo-se como aliada na educação de inúmeras crianças pelo Brasil

Uma menina com pouco menos de três anos de idade arrastava um coelho, na época um pouco maior do que ela, de um lado para o outro e ameaçava jogar a pelúcia ao brigar com as irmãs. Foi ao observar o dia a dia da família em casa que Maurício de Sousa retratou a filha nos seus desenhos e, assim, criou a Mônica, seu personagem de maior sucesso e que conquistou o Brasil há 60 anos.

Em 2023, as histórias em quadrinhos da Mônica e sua turma completam seis décadas de criação e seguem acompanhando a menina de sete anos de idade que briga pelo bairro do Limoeiro. Revelando-se pela primeira vez em 3 de março de 1963, em uma tirinha publicada na então "Folha da Manhã", como era anteriormente chamado o jornal "Folha de S. Paulo", a personagem logo ganhou o coração de diversas crianças por todo o País.

Com lembranças das histórias narradas nos gibis da eterna "dona da rua", Amanda Bezerra, de 29 anos de idade, recorda que uma das principais razões de ler a Turma da Mônica era a diversão proporcionada pelas tirinhas. "Só de lembrar já me dá uma nostalgia! Lembro de uma que o Cascão tinha dormido e acordou no outro dia banhado, todo limpo e cheiroso. Ele ficou agoniado porque adorava estar sujo. Também adorava o Bidu! Quando mais nova, eu ficava aperreando a minha mãe pra comprar um cachorrinho para mim, mas acabou não dando muito certo", conta.

Assim como as inúmeras crianças que acompanharam a Mônica e sua turma, a jovem conseguia se identificar com os personagens criados por Maurício de Sousa e, em casa, tinha sua própria turma junto com os seus três irmãos mais velhos: "Era engraçado o quanto a Mônica e o Cebolinha 'arengavam' um com o outro, parecia eu quando brigava com os meus irmãos. Porém, eu sempre me identifiquei mais com a Magali, pois ao mesmo tempo que era meiga, também adorava comer!".

"O que mais me recordo é do quanto achava linda a amizade deles. Cada um com seu jeito próprio e suas particularidades. E não importava o que acontecesse, eles estavam sempre ali um para o outro, nas aventuras e descobertas. Isso com certeza é uma das lembranças mais especiais que tenho da Turma da Mônica!", detalhou a analista de Gente e Gestão.

Estando ao lado de Ziraldo, o pai do Menino Maluquinho, como um dos principais cartunistas de histórias infantis no Brasil, Maurício de Sousa e a Mônica mantêm o legado de favorecer a alfabetização e serem o primeiro contato com a leitura para inúmeras crianças brasileiras.

 

Personagem Mônica, de Maurício de Sousa, completa 60 anos
Personagem Mônica, de Maurício de Sousa, completa 60 anos

Aliada com a educação

Maurício de Sousa foi uma das crianças que aprenderam a ler por gibis. Com cerca de quatro anos de idade, o autor lembra de levar um gibi achado no chão para casa e começar a ler a partir dele. "Quando eu tinha entre 4 e 5 anos, encontrei um gibi rasgado caído na calçada e o levei pra casa. Meus pais viram meu interesse e começaram a ler para mim, além de trazerem mais gibis. Minha mãe não deu conta e resolveu me alfabetizar em três meses para que eu pudesse ler. Desde então, nunca mais parei de ler! Quando jovem lia um livro por dia. Os quadrinhos me levaram a gostar de ler tudo", recorda.

Lançado oficialmente em 1970, os quadrinhos da Turma da Mônica eram sucesso de vendas nas bancas de revistas espalhadas pelas cidades do Brasil. Presentes em vários locais - das praças dos bairros, na esquina da rua da escola, dentro do clube esportivo ou perto do antigo trabalho do pai - até o início dos anos 2000, as bancas de revistas fortaleceram o acesso de inúmeras crianças aos gibis de Maurício de Sousa.

Mesmo com a escassez de bancas de revistas e com o alto consumo de produções digitais, a procura pelas histórias em quadrinhos ainda é significativa. Em 2019, as tiragens mensais dos gibis físicos chegaram a 2,5 milhões de exemplares, conforme revelado por Mônica Sousa, a inspiradora da personagem, em entrevista à Exame na época.

"Este tipo de material traz a ligação entre o texto e a imagem, facilitando assim o entendimento da história e demonstrando como os personagens se comportam diante de cada situação. Sendo assim, podemos entender que as histórias em quadrinhos contêm alto nível de informação, possibilitando sua utilização em diversos contextos, áreas e faixas etárias, sendo consideradas um meio de comunicação com linguagem visual gráfica, além da escrita verbal. Muitas vezes o encontro com histórias em quadrinhos é, para o sujeito, a entrada no mundo da leitura em si, despertando neste leitor a curiosidade sobre outros gêneros textuais", como explica a poesquisadora Daniela Jeremias Guarezi, na publicação "Os gibis da Turma da Mônica como apoio para o letramento e a alfabetização", de 2016.

Com textos breves para fácil compreensão e desenhos com formas simples e coloridas, que são rápidos de serem identificados, os quadrinhos da Mônica contribuíram no desenvolvimento do ensino básico infantil, sendo, para muitos leitores mirins, a primeira forma de contato com a leitura.

Mantendo a responsabilidade e o compromisso com a educação e letramento infantil por todo o Brasil durante seis décadas, Mauricio explica que, inicialmente, a proposta dos quadrinhos da Mônica era de divertir a quem lesse. "Houve essa ação cultural que descobri ser de muita responsabilidade e de grande importância. Criar leitores na infância é para toda a vida destas pessoas. Hoje, recebemos diversas cartas de professores dizendo que utilizam nossas historinhas em sala de aula".

"A minha medalha no peito é justamente saber que nossas revistas alfabetizaram milhões de brasileirinhos nestes quase 64 anos do Estúdio Mauricio de Sousa", celebra.

Pelezinho estreou como personagem nos anos 1970, retornando ao longo das décadas
Pelezinho estreou como personagem nos anos 1970, retornando ao longo das décadas

Novas pautas, debates e personagens

Em seis décadas de publicações contínuas, os quadrinhos da Turma da Mônica passaram - e sobreviveram - por diversos períodos e mudanças na sociedade brasileira. Seja na esfera social, política, econômica e cultural, a população foi em busca de atualizações dos conteúdos consumidos.

Não foi diferente para as crianças e os jovens, já que estes eram os que mais necessitavam de novos pontos de vista e formas de absorver informações. "Para ter a linguagem da hora e da vez com as crianças de cada geração, sempre procuramos ter um diálogo próximo com os leitores. Na atualidade, com as redes sociais, o contato é quase que imediato. Assim, sabemos a linguagem e as expectativas de nosso público para não ficarmos atrás nesta evolução", afirma Maurício.

Com a urgência em se manter no mesmo ritmo do público alvo, as histórias da Mônica ganharam novos personagens, que abraçavam as pautas de inclusão, como a Tati, que tem síndrome de Down, o Luca, que é cadeirante, a Dorinha, que é deficiente visual, e o André que tem espectro autista, além dos recém-chegados na turma: Edu, que tem distrofia muscular de Duchenne, Sueli, que é surda, e o Bernardo, menino com nanismo.

Além dos personagens com deficiência, participantes negros foram incluídos nas narrativas da Turma, como o Jeremias, a Melissa, a Sol e a Milena. Apresentada ao público em 2017, Milena é uma das moradoras mais queridas de Limoeiro pelo público atual. A garota vai ganhar uma série live-action intitulada "Franjinha e Milena em Busca da Ciência", do streaming da HBO Max, e também esteve presente no longa-metragem "Turma da Mônica: Lições", de 2021.

Na época, Maurício de Sousa comentou, ao portal UOL, sobre a carência da nova personagem nas produções: "Não poderia simplesmente ser desenhada e publicada sem um protagonismo acentuado. Já se fazia necessária há tempos. Com essas historinhas vamos demonstrar essa relação da nova família com a turminha, com graça e amor".

"Estamos em sintonia direta com nossos leitores e eles próprios nos pautam com as questões que lhes são mais importantes. Fomos os primeiros a ter um personagem negro como protagonista de revista própria, no mundo, que foi o Pelezinho. Ele e sua família. Depois, Ronaldinho Gaúcho e Neymar. Faltava uma mulher com sua família negra e aí surgiu a Milena que está fazendo o maior sucesso e já é protagonista junto aos outros principais personagens nossos", relembra o autor.

Abordando temáticas que falem sobre inclusão, destaque a população negra, minorias, além de discutir o racismo, a xenofobia, o papel da mulher na sociedade e as questões de gênero, Maurício de Sousa conta que desenvolver essas pautas é necessário para apresentar ao leitor mirim as diferenças existentes no mundo e que elas devem ser tratadas com respeito: "Creio que dentro do que podemos oferecer sempre passamos a ideia de se conviver com os diferentes, a empatia e a preservação do meio ambiente. São ideias básicas para que o ser humano que se forma respeite o próximo e a natureza para um mundo melhor".

No filme
No filme "Turma da Mônica: Laços", dirigido por Daniel Rezende, Floquinho, cachorro do Cebolinha, desaparece. O menino conta com a ajuda dos amigos Cascão, Mônica e Magali para encontrá-lo

Muito além do papel

"Sempre soube que a criança quer o conteúdo de diversão com criatividade e bom humor. Não importa a plataforma de comunicação por onde passa este conteúdo. Tanto é que, apesar de muitos acharem que a criança está abandonando a leitura para estar nas redes sociais, mantemos milhões de leitores do gibi impresso até hoje. São 12 milhões de gibis ao ano e mais de dois milhões e meio de livros por ano. Mas a Turma da Mônica sempre estará em todas as plataformas para que nossos leitores se sintam bem atendidos", afirma Maurício de Sousa.

Somando 1,3 milhão de seguidores no Instagram, mais de 351 mil no Twitter e 18 mil inscritos no Youtube, a Mônica e sua turma alcançam diversos públicos nas mais diversas plataformas. Nos cinemas, a produção estreou em 2004, com o desenho animado "Turma da Mônica em Cine Gibi", o sucesso foi tanto que garantiu outras cinco continuações do "Cine Gibi".

Além das animações, produções audiovisuais em live-action ganharam as grandes telas com o filme "Turma da Mônica - Laços", lançado em 2019. O longa-metragem foi o primeiro de uma franquia que apresentou os personagens da Turma interpretados por atores e venceu em "Melhor Longa-Metragem Infantil" no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2020. Já em 2021, foi lançado "Turma da Mônica - Lições" e, para 2024, está previsto a estreia do filme solo de Chico Bento, que será interpretado pelo ator mirim Isaac Amendoim.

"As comemorações dos 60 anos começaram agora em março de 2023 e vão até março de 2024. Serão muitas ações neste período! Haverá publicações especiais, ações pontuais nas cidades pelo país e o novo show do Circo da Turma da Mônica. No final deste ano haverá o lançamento do filme sobre minha vida com meu filho Mauro Takeda como ator (ele tem minha cara de quando eu era jovem), o filme live-action do Chico Bento para 2024 e da 'Turma da Mônica Jovem'", enumera o autor.

Após 60 anos, Maurício de Sousa se mantém fiel aos seus ideais como cartunista e autor de levar diversão e alegria para os leitores, ouvintes e espectadores. "O nosso segredo do sucesso é nunca pararmos de ter novas ideias e realizá-las", afirma.

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