Das páginas da bíblia para os roteiros teatrais, a narrativa que reconta os últimos momentos de Jesus Cristo inspira montagens cênicas mundo afora. No Ceará, iniciativas com propostas diferentes promovem versões da Paixão de Cristo em espetáculos que têm como denominador comum um recorte social sobre os ensinamentos de amor ao próximo.

O espetáculo "Gólgota", do Grupo Populart, é um exemplo de montagem que encara de frente as pautas sociais que a prosa cristã busca agregar. Já vista por mais de 100 mil pessoas, a peça já soma 30 anos ininterruptos. Este ano com a participação de 50 jovens do bairro José Walter, divididos em entre elenco principal e outros papéis. Cada um deles possui sua função no trabalho coletivo, mas compartilham a vivência do dia a dia do local em que residem. Além de passar a mensagem de amor e fé, o objetivo da montagem é ampliar as vozes desses jovens da comunidade.

"É uma grande mensagem a gente levar 50 jovens pra cena na possibilidade que a gente possa construir um mundo mais justo, um mundo mais solidário, um mundo mais amoroso seguindo os ensinamentos de Jesus Cristo. E promovido por essa juventude, por essa força tão pulsante, que mostra a necessidade de 30 anos, esse espetáculo está acontecendo na nossa cidade na força dessa juventude que gostaria de dizer algo", explica o diretor de espetáculo Paulo Botafogo.

Extrapolando os limites do José Walter, a peça ganhou notoriedade e passou a ser apresentada em outros bairros e até mesmo outras cidades, mas sem perder a forte presença da juventude local. A peça também passou por uma profissionalização, mas "o principal foco do grupo é sua comunidade", sustenta o diretor, que se prepara para maratona de apresentações nos próximos dias na Rede Cuca.

Similarmente, o espetáculo "Via Sacra: A História da Paixão", realizado pela Juventude Mariana Vicentina - União de Jovens com Cristo (JMV UNIJOCC), é montado unicamente por voluntários. Com apresentação marcada para o dia 7 de abril, o espetáculo abraça a interação do teatro de rua e será apresentado desta vez na Praça da Imprensa.

Apesar da perspectiva religiosa ser o principal norte, a obra dialoga com outras frentes, como relata Marcilio Araripe, um dos diretores. "Procuramos colocar dentro de nosso espetáculo algumas visões onde a gente precisa enxergar o outro de forma mais humana, com mais amor, com mais respeito. A gente tenta mostrar um Cristo que não está só lá no céu muito distante, mas que ele está no meio de nós", pontua.

Esse olhar coletivo é aprofundado também no espetáculo "Às Margens", do Grupo Avia de Teatro, com estreia marcada para terça, 4 de abril. Trazendo uma releitura da original, Jesus Cristo é apresentado como uma pessoa em situação de rua. A produtora Neide Oliveira explica que tudo surgiu com a pergunta "e se Jesus nascesse na rua?", e toda a ideia começou a ser desenvolvida a partir disso.

"Com a pandemia muita gente foi pra rua porque não tinha como pagar aluguel, não tinha como se sustentar e esperava alguém passar nas ruas, mas as ruas também estavam vazias. E isso tem que chocar a sociedade, não chocar de 'ai que peninha, vou dar um pão pra ele', mas de mexer com os órgãos públicos", defende a produtora. A peça é apresentada nas ruas e também em edifícios de órgãos públicos, como a Câmara dos Vereadores de Fortaleza e ela afirma que "a questão precisa ser mostrada".

Interpretando Jesus em "Às Margens", Mateus Honori acredita que, por se aproximar mais de pautas sociais, a peça irá impactar mais a quem assiste. "O espetáculo vai ser emocionante, as pessoas vão se sentir tocadas. E talvez se sentirão provocadas a fazer algo diferente na vida cotidiana, a ter um olhar diferenciado a uma pessoa em situação de rua".

O ator define também que a peça pode ser vista como um "cutucão a nossa hipocrisia", pelo abandono e descaso da sociedade quando se trata de pessoas em situação de rua. Ele descreve que a parte que mais toca ele na apresentação é quando Jesus é visto "nesse lugar de fome, de abandono e vulnerabilidade".

Assim como "Gólgota" e "Via Sacra", o espetáculo parte de diferentes vozes e, em contextos diferentes, retratam um Cristo que "não se limitou a igreja, mas que saiu da sua zona de conforto que foi o céu, e veio até nós", aponta Mateus. "Ele esteve no meio de todos e todas sem se importar com o tipo de pessoas que ele estava metido no meio. O que ele queria era dar amor", finaliza Marcilio Araripe.

Gólgota

Quando: terça-feira, 4, a partir de 19 horas
Onde: Teatro Cuca Jangurussu (Avenida Gov. Leonel Brizola, s/n - Jangurussu)
Gratuito

Quando: quarta-feira, 5, a partir de 19 horas
Onde: Teatro Cuca Pici (Rua Cel. Matos Dourado, 1499 - Pici)
Gratuito

Quando: quinta-feira, 6, a partir de 19 horas
Onde: Teatro Cuca Mondubim (Rua Prof. Glauco Lobo - Mondubim)
Gratuito

Quando: sexta-feira, 7, a partir de 19 horas
Onde: Campo do Onélio Porto (Avenida E, 471 - José Walter)
Quanto: 1kg de alimento ou R$ 3

Às Margens

Quando: terça-feira, 4
13 horas - Câmara dos Vereadores de Fortaleza (Rua Dr. Thompson Bulcão, 830 - Luciano Cavalcante, Fortaleza)
16 horas - Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro, Fortaleza)
Gratuito

Quando: quinta-feira, a partir de 17 horas
Onde: Complexo Cultural Estação das Artes (Rua Dr. João Moreira, 540 - Centro)
Gratuito

Quando: sexta-feira, 7, a partir de 20 horas
Onde: Sesc Iparana (Avenida José de Alencar, 150 - Iparana, Caucaia)
Gratuito

Quando: sábado, 8, a partir de 16 horas
Onde: Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
Gratuito

A Paixão de Cristo

Quando: quarta-feira, 5, a partir de 19 horas
Onde: Ginásio Paulo Sarasate (Rua Rua Ildefonso Albano, 2050 - Dionísio Torres)
Gratuito

Via Sacra: A História da Paixão

Quando: sexta-feira, 7, a partir de 18h30min
Onde: Praça da Imprensa (Dionísio Torres)
Gratuito

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