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Espetáculo propõe diálogos com ancestralidades de mulheres do Cariri
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Espetáculo propõe diálogos com ancestralidades de mulheres do Cariri

Espetáculo "Solo do Meu Interior" faz parte da pesquisa realizada pela autora Marina Brito no Laboratório de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes em 2022
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Foto: Divulgação Espetáculo "Solo do Meu Interior", da atriz cearense Marina Brito, propõe diálogos com ancestralidades de mulheres do Cariri

No interior cearense, memórias se acumulam. São histórias de vidas atuais, mas também de vidas passadas. Acima de tudo, o que elas trazem consigo e o que deixaram para frente - e não para trás. Afinal, os legados permanecem, e graças também àquelas pessoas que se dedicam a preservá-los justamente a partir da conservação dessas trajetórias.

Uma dessas pessoas é a diretora, pesquisadora e professora de teatro Marina Brito, fundadora e integrante da Cia Bravia. Nos sábados e domingos de abril, às 19 horas, a cearense apresenta na Casa da Esquina o espetáculo "Solo do Meu Interior", no qual destaca as ancestralidades de mulheres do Cariri.

A partir de sabedorias de rezadeiras, artistas populares e meizinheiras (mulheres que curam com plantas medicinais do mato), ela desenvolve uma dramaturgia da memória unindo aspectos do teatro e da dança. Nessa jornada "física e espiritural", ela indaga quais dessas ancestralidades são carregadas pelas mulheres cearenses contemporâneas.

O espetáculo faz parte da pesquisa realizada pela autora no Laboratório de Teatro da Escola Porto Iracema das Artes em 2022. A peça contou com colaboração de Andréa Bardawil e tutoria da multiartista indígena Kay Sara. Os ingressos estão à venda por R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) no site Sympla.

A ideia de produzir a obra está intrinsecamente ligada ao desejo de Marina de "entender as memórias afetivas" relacionadas às suas avós, mulheres do interior cearense. Assim, ela buscava remontar às suas ancestralidades. "Por que minha avó fumava cachimbo acocorada no terreiro? Como ela sabia que espinheira santa era boa pra gastrite? Como ela preferia cozinhar no fogão a lenha mesmo tendo um fogão a gás? Eu entendi que esse desejo estava ligado a uma vontade que quase todos nós temos que é o entendimento do lugar de onde viemos, das nossas ancestralidades", relata.

Para esse cenário, era preciso visitá-las em outro interior - o de suas memórias, uma vez que as avós da artista faleceram. Não são, portanto, personagens criadas, mas as histórias reais dessas mulheres "e o universo ao qual elas estão inseridas". A musicista Letícia Marram é responsável pela cena musical do espetáculo.

No palco, são apresentadas diferentes sabedorias: as ligadas à terra, à cura e à festa. "Elas são meizinheiras, rezadeiras, agricultoras e também artistas populares, brincantes de culturas tradicionais. São todas essas sabedorias do passado que estão ligadas às nossas descendências afro-indígenas, muito por terem passado pelo processo violento de colonização, escravidão e servidão que nossas ancestrais passaram e que, por muito tempo, tiveram que esconder e omitir seus saberes para sobreviver, em troca de terra para morar e trabalhar", explica.

Espetáculo "Solo do Meu Interior", da diretora cearense Marina Brito, propõe diálogos com ancestralidades de mulheres do Cariri(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Espetáculo "Solo do Meu Interior", da diretora cearense Marina Brito, propõe diálogos com ancestralidades de mulheres do Cariri

A peça versa sobre a memória a partir da "transversalidade" das mulheres retratadas, que, no espetáculo, são consideradas "guardiãs da memória". "Buscamos encontrar esse lugar de valorização e colaboração dessas mulheres no processo de preservação da cultura popular a partir da conservação da memória coletiva de uma população, que corre o risco de perder o seu referencial cultural, oprimida especialmente pela a realidade moderna", enfatiza Marina.

Nesse sentido, Marina Brito pontua que o espetáculo ajuda na preservação da memória sobre esses saberes a partir da proposição de "consciência de uma identidade coletiva, o que torna "um determinado grupo social resistente às imposições das elites ou mesmo das investidas de grupos estranhos".

A artista relata como o encontro da mulher contemporânea com as mulheres ancestrais reverbera no palco: "Encontrar em mim, no meu corpo, memórias físicas de como eu me relaciono com as minhas ações no cotidiano. Eu sou uma mulher do Interior, quando cheguei na Capital há 17 anos muita coisa era diferente pra mim e muitas coisas que eu tinha costume pareciam pueris ou sem importância pra vida na cidade grande. Desde um estado maior de contemplação para as coisas, um tempo mais dilatado de agir, pensar, falar, como também o simples cozinhar de uma tapioca com as mãos, o tempo de tomar um café a tarde na calçada, até se medicar com plantas, chás, para as enfermidades mais comuns do dia a dia, como dor de cabeça".

Ela finaliza: "Revisitar o tempo do interior em contraponto ao tempo da cidade grande e como eu enquanto mulher deixei de me conectar com esse tempo, com esses costumes e agradecer a resistência e a força que essas mulheres tiveram antes de mim para constituir tudo viemos construindo até aqui, por direitos".

Solo do Meu Interior

Quando: 8, 9, 15, 16, 22 e 23 de abril (sábados e domingos), às 19 horas
Onde: Casa da Esquina (Rua João Lobo Filho, 62 – Bairro de Fátima)
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia); ingressos à venda no site Sympla

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