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Jornalista cearense lança livro com cartas escritas para irmã falecida
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Jornalista cearense lança livro com cartas escritas para irmã falecida

Jornalista cearense Erilene Firmino lança livro com cartas de amor e luto escritas para a irmã
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A jornalista cearense Erilene Firmino lança em abril o livro
Foto: Nayana Melo/Divulgação A jornalista cearense Erilene Firmino lança em abril o livro "Manga Verde Com Sal"

"A minha vida toda eu fui muito próxima da Lia. Todos os dias a gente se juntava e ficava conversando. Quando eu chegava do trabalho, de tarde, eu me deitava no alpendre da casa dela e a gente conversava até a hora de ela ir ajeitar o jantar. As lembranças mais fortes que eu tenho são dessa troca, dessa conversa, dessa cumplicidade da vida inteira".

Quando Lia partiu, a jornalista e professora cearense Erilene Firmino tinha 47 anos. Separadas temporalmente por uma diferença de seis anos, as irmãs pareciam ter apenas a idade como um fator de distância, tamanhas eram a união e a parceria entre as duas. Talvez um legado deixado pela mãe, que defendia que os filhos mais velhos deveriam cuidar dos mais novos.

Foi um recado apreendido décadas antes, quando na fase da adolescência uma outra irmã, Lêda, foi diagnosticada com leucemia e constantes eram as visitas ao hospital. Filha número seis de uma família de sete irmãos e com 11 anos na época, Erilene passou a dividir, a partir disso, uma proximidade ainda maior com Lia, que tinha 17. Além de irmã, ela passou a ser a sua alma-gêmea.

Em junho, o falecimento de Lia completará dez anos. Ao longo desse tempo, Erilene continuou a se comunicar com a irmã, mas por meio de cartas. Os escritos traziam pensamentos da jornalista sobre o período que estava enfrentando, bem como se tornaram uma forma de suportar e compreender a dor e as fases do luto. Acima de tudo, porém, mostravam o amor sincero e profundo nutrido ao longo das vidas compartilhadas.

Às 11 horas deste sábado, 15, as cartas se tornarão públicas. Erilene lançará no Café Passeio - Espaço Cultural Gilmar de Carvalho seu primeiro livro. Intitulada "Manga verde com sal: cartas de amor, de luto, do sabor agridoce da vida", a obra compila 28 missivas escritas de junho de 2013 ao Natal de 2020.

O livro tem projeto gráfico do designer Eduardo Freire e ilustrações de Lincoln Souza. O preço de pré-venda, disponível até o dia 15, inclui um exemplar por R$ 60 e dois por R$ 100. Nas duas opções é possível adquirir, com acesso digital, bônus de três cartas extras.

A publicação também aborda outras perdas na família da jornalista - sua mãe faleceu seis meses após a passagem de Lia e cinco anos depois seu pai fez sua partida. Para a autora, a escrita sempre foi um refúgio para falar sobre seus sentimentos. "Eu só consigo entender o que sinto depois de escrever", revela.

Assim, encarou como um "processo natural" começar a escrever para Lia após sua morte. "No dia seguinte, quando amanheci para esse mundo sem ela, não sabia o que fazer. Então, a maneira que encontrei foi escrever para ela, sabe? Dizer o que estava pensando e sentindo… Em uma carta eu até digo: 'Estarei ficando doida, escrevendo para você, sabendo ter lhe deixado no cemitério?'. Eu só tinha vontade de conversar com ela naquele momento", compartilha.

Ao longo do livro, Erilene optou por não colocar as datas de quando as cartas foram escritas nem nomear pessoas citadas que estivessem vivas: "As cartas têm títulos porque eu achei que o que era mais importante não era a data, era o estado emocional em que eu estava. Você vai perceber ao longo da leitura que era mais importante do que acompanhar o dia".

A autora decidiu fazer o livro em 2019, mas as últimas correspondências são do Natal de 2020 - o primeiro em que voltou a comemorar após a morte de Lia. Como afirma, foi ali que começou a sentir a "saudade boa".

Para Erilene, era muito difícil celebrar o Natal por dois motivos: primeiro, porque Lia era responsável, junto com sua mãe, pela organização da festa da família; segundo, porque pela reação demonstrada por um médico após consulta em março de 2013, a doença não permitiria que sua irmã conseguisse festejar o Natal daquele ano.

O processo de seleção das missivas para o livro foi doloroso. "Quando eu comecei a escrever para a Lia, eu não sabia nem se conseguiria viver sem ela. Quando fui pegar as cartas para fazer o livro eu já sabia como era a vida sem ela: uma vida muito triste. Eu sofri quando terminei de ler o livro", relata.

Com a pandemia, a jornalista passou a ter o sentimento de que as cartas estavam chegando ao fim de seus ciclos diante do horror de tantas mortes. "Eu mesma poderia morrer", pensou. Agora, sente que está reencontrando, depois de tanto tempo, a Erilene que existia antes de sua irmã falecer. "Eu precisei me trazer de volta porque eu me perdi", afirma.

Olhando para trás, a autora lembra o desejo de transmitir para os leitores o conhecimento sobre a "saudade boa". Em suas palavras, queria compartilhar a visão de que, mesmo com tanto sofrimento, é possível voltar a sorrir. "Em 2020, eu pensei: vou publicar o livro. Eu queria que as pessoas não sofressem tanto quanto eu sofri. Eram muitos os órfãos da Covid-19", inicia.

"Eu pensava: 'meu Deus, essas pessoas todas vão ficar sofrendo e nem vão saber quando começa, como eu sei agora, o tempo da saudade boa. Chega um tempo em que a gente para de sofrer tão dolorosamente. Era assim que eu queria escrever o livro, para dizer para as pessoas que eu era quase a minha irmã e eu consegui viver sem ela, chegou o tempo de eu ser feliz de novo e de eu sentir a saudade boa", complementa.

Ela finaliza: "Eu sentia a necessidade de me espalhar e de dizer: 'Olha, eu pensei que eu não ia conseguir viver sem a minha irmã porque eu não pensava a vida sem ela, quando eu nasci ela já estava no mundo. Então, eu não conhecia o mundo sem ela. O tempo passou e eu consegui ser feliz de novo. Nunca vou esquecer minha irmã e nem quero. Mas eu consegui. Se eu consegui, você consegue também. Sofra o que tem que sofrer, não fuja. Mas um dia você volta a caminhar".

Lançamento

Quando: sábado, 15, às 11 horas
Onde: Café Passeio - Espaço Gilmar de Carvalho (Passeio Público, Centro)

Capa do livro
Capa do livro "Manga Verde Com Sal", de Erilene Firmino; ilustrações de Lincoln Sousa e projeto gráfico de Eduardo Freire

Manga Verde Com Sal

De Erilene Firmino
Editora Casa de Memória
160 páginas
Quanto: R$60 (um exemplar) e R$100 (dois exemplares)
Instagram: @erilene_firmino

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