Entre 1914 e 1918, o mundo sofria com a Primeira Guerra Mundial. Não existem dúvidas sobre o quão violenta foi, mas quando olhamos como ela é retratada nas telas de cinema, principalmente por parte do cinema norte-americano, tendemos a ver filmes que acabam a retratando de forma heroica e mirabolante.

O filme destaque no festival Filmelier, "Heroi de Sangue", no entanto, vem na contramão desta forma tendenciosa (e desonesta) que estamos "acostumados" a ver nas grandes telas. Dirigido pelo quase estreante Mathieu Vadepied e com roteiros também assinados por ele, em parceria de Olivier Demangel, o longa traz um recorte duro desse momento sombrio da história mundial.

Bakary Diallo, interpretado por Omar Sy (Os Intocáveis; Lupin), é um homem senegalês que se vê obrigado a se alistar no exército francês, após Thierno (Alassane Diong), seu filho de apenas 17 anos, ser recrutado à força para guerra por colonizadores franceses, que se encontram em seu país. A promessa era de que, caso a França vencesse a guerra contra a Alemanha, os senegaleses seriam naturalizados franceses, o que supostamente os traria inúmeras vantagens.

O longa-metragem, de 98 minutos, não demora em nos apresentar a trama. Apesar de não transcorrer de forma frenética, o filme não perde tempo em nos apresentar sua principal crítica que é a forma como o colonialismo europeu age com os países colonizados. Neste caso, obrigando-os a lutar em guerras, que nem seus próprios compatriotas foram obrigados a lutar.

Ao mesmo tempo, a obra mostra a luta de um pai, em uma guerra que não é sua, tentando salvar seu filho. Obrigado a amadurecer mais rápido devido às circunstâncias que está enfrentando, Thierno acaba por se ver em conflito com seu pai de forma inevitável, mesmo que indesejada por ambos.

Aqui é possível ver um paralelo, simples, porém muito bem escrito, da relação entre um pai e seu filho adolescente. Apesar da experiência e maturidade do personagem vivido por Omar Sy ser inegável, por muitas vezes é seu filho que acaba por tomar as decisões mais sensatas, mostrando que algumas vezes o pai quer ter razão simplesmente pelo papel familiar. Apesar de se passar em um ambiente totalmente atípico, o filme acaba por manter esse aspecto humano de forma natural.

Outro grande acerto do filme, que opta por uma fotografia mais simples e sem planos ousados, é a forma como filma as cenas que seriam mais violentas no front de batalha. O filme opta por não espetacularizar a violência que critica, apesar de deixar claro que sim, ela está acontecendo.

Simultaneamente a produção mostra de forma realista o que muitos longas de guerra acabam por evitar ou vangloriar. Na guerra não existem vencedores. Não há do que se vangloriar ali. Até mesmo soldados que deveriam ser aliados que deviam se ajudar, fazem exatamente o contrário. Roubam, mentem, enganam e até matam os próprios companheiros.

O racismo, apesar de nas entrelinhas, é claramente tratado. Quer dizer, nem tão sutil assim. Afinal, o filme mostra homens negros sendo arrancados de seu país natal à força, separados de suas famílias e cultura, para lutarem uma guerra cravada por europeus brancos que sequer os conhecem ou se importam com suas vidas e famílias.

O filme é um retrato cru e bem feito da violência. Não apenas da guerra, mas também do colonialismo europeu e sem dúvidas merece ser assistido.

 

Herói de Sangue

Quando: sessões nos dias 26/4, às 18h50min, 29/4, às 21 horas, e 2/5, às 14h20

Onde: Shopping RioMar Fortaleza (R. Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)

Mais informações: www.festivalfilmelier.com.br