“Interpretar a Mercedes Sosa passa por várias nuances”, define a cantora hondurenha Indiana Nomma, que por meio de sua voz homenageia Mercedes, argentina considerada ícone da música latino-americana. O tributo acontece neste domingo, 30 de abril, no Cineteatro São Luiz, a partir das 18h.
“La Negra”, apelido dado a Mercedes por sua ascendência indigena, era conhecida como a voz dos sem voz. Por sua forte militância política, foi perseguida e exilada durante a última ditadura militar argentina (1976-1983) e virou a voz daqueles que resistiam ao autoritarismo no continente latino-americano e dos oprimidos.
Indiana traz por meio do repertório escolhido para o tributo esse legado de luta pelos direitos humanos e democracia que Sosa pregava nas músicas que escolhia cantar. “Interpretá-la é assumir uma responsabilidade de honra a essa grande dama, sem querer mudá-la, mas tentar traduzir a força dela através do meu canto”, enfatiza a hondurenha sobre o compromisso de dar voz a uma artista importante para muitos.
Ela reforça que transmitir esse legado para as novas gerações é essencial, considerando o atual cenário político latino-americano e mundial, para que não ocorra uma normalização de instauração de ditaduras. “É importante que o legado que Mercedes Sosa traz nas canções, os aprendizados, a memória [...] sejam sempre entoados nas novas gerações para que não haja um apagamento da memória”, sustenta.
A voz de Mercedes acompanha Indiana desde seus 4 anos, quando conheceu pela primeira vez seu trabalho. Ela conta que estava nos ombros de seu pai e nunca ter esquecido o momento. Tempos depois, quando morava na Alemanha Oriental, o coral da sua turma de música interpretou uma canção da cantora argentina. “Virou uma trilha sonora da minha vida”, pontua pelo espaço que as músicas mantiveram em sua vida com o passar dos anos.
Mas a ideia de interpretar as músicas de Sosa surgiu apenas nos anos 2000, quando decidiu fazer um show para sua mãe que enfrentava um câncer, como uma forma de apoiá-la. “Infelizmente minha mãe faleceu três dias antes da estreia e a partir disso surgiu a promessa de que eu cantaria o repertório da Mercedes Sosa até quando eu puder, em homenagem às mulheres da América Latinha, minha mãe e a Mercedes Sosa”, relembra.
“Alfonsina y el mar” era a música preferida de sua mãe e é uma canção que sempre emociona a cantora durante os shows. A história por trás da composição é melancólica: foi inspirada na história da poeta Alfonsina Storni, uma suíça radicada argentina, que descobriu um câncer de mama, mas não conseguiu lidar com a doença.
"É uma música muito densa e profunda, mas que justamente me conecta muito a essa questão da minha mãe. Ela teve um câncer de mama e também resolveu não tratar. E eu só fui saber anos depois”, ela detalha. “Me conecta muito fortemente, porque é um alerta para que a gente tenha coragem de lutar contra essa doença”, completa.
Indiana apresenta sua homenagem há 23 anos e foi reconhecida pela família de Mercedes Sosa como tributo oficial da “La Negra”. Ela esteve aqui em 2020, antes do início da pandemia da covid-19, e está animada para esse retorno. “A experiência que eu tive de cantar para o público de Fortaleza uma semana antes da pandemia começar [...] foi uma força, uma energia que eu recebi desse público cearense, que fez com que eu passasse pela pandemia com muito mais tranquilidade”, ela explica.
“Eu estou muito feliz, porque nada melhor do que encontrar pessoas que celebram juntas a força da América Latina a partir de músicas tão fortes quanto essas que Mercedes Sosa cantou e que perduram e são imortalizados até hoje”, Indiana finaliza sobre sua expectativa para o show de domingo.
Indiana Nomma - A Voz dos sem Voz
Quando: domingo, 30, às 18 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Quanto: R$50 (inteira) e R$25 (meia). Disponíveis para compra na bilheteria do Cineteatro São Luiz e no site Sympla
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