O Festival Alberto Nepomuceno inicia o FAN Podcast sobre acervos do Ceará com um episódio sobre "Rendas e Rendeiras". Já disponível, é um convite para olhar de perto nossos bens públicos e se apresenta como uma possibilidade de leitura, movida por 'vontade de beleza'. Abordamos saberes, fazeres, modos de vida de mulheres rendeiras a partir de um livro-guia: "Renda de Bilros: A coleção do Museu Arthur Ramos", de Valdelice Carneiro Girão, que conta com duas edições. A primeira, da Universidade Federal do Ceará (UFC), é de 1984; a mais recente, de 2012, realizada pelo Instituto do Ceará.
O acervo faz parte do museu integrado à Casa de José de Alencar, da UFC, em Messejana. A coleção de rendas foi iniciada pela pesquisadora Maria Luiza Ramos, ainda adolescente. No FAN Podcast, enlaçamos mais fios à narrativa, com passagens por Canoa Quebrada. A convite do FAN, em 2017 percorremos o lugar ouvindo labirinteiras, mulheres que fazem a renda bordada ou o bordado rendado de nome labirinto. Estudante da UFC, meados da década de 1960, a antropóloga Terezinha Alencar trabalhou em Canoa Quebrada, com uma escuta arguta de mulheres do então povoado.
Nosso roteiro e narração se realizam como um passeio. No caminho, bebemos em várias fontes: os livros "Aqui Canoa Quebrada", de Wanda Figueiredo, edição da autora, de 1979; e "O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil", de Darcy Ribeiro, cuja primeira edição é de 1995. O livro é base do documentário de mesmo nome, com direção de Isa Grinspum Ferraz. No videodoc de 2000, escuto, e passo a usar, a expressão 'vontade beleza'. É o antropólogo Roberto Pinho se referindo a objetos para o cotidiano criados por povos originários.
Além das rendas, o acervo do Museu Arthur Ramos reúne materiais usados na feitura da renda de bilro, como os bilros e a almofada, que nos dizem da elaboração da natureza, da invenção necessária para tornar possível o dia a dia. Imaginação e trabalho materializando modos de viver. Museóloga da casa, Márcia Pereira de Oliveira é autora da dissertação "Coleção Luiza Ramos: Um Nordeste imaginado em rendas", de 2014, realizada no âmbito do Mestrado em Museologia e Patrimônio da UniRio.
Fica nosso convite à leitura. Ler, sabemos, é escutar.
Izabel Gurgel é jornalista. Colabora com a programação artística do FAN
As rendas da Casa de José de Alencar
Você sabia que a Casa de José de Alencar possui um acervo que conta com mais de duas mil amostras de rendas de bilros e de agulha, e outros elementos ligados à produção do artesanato? Conhece a história delas? Não?
Desde 1981, as peças do extinto Instituto de Antropologia da Universidade do Ceará fazem parte do acervo da Casa de José de Alencar. Pode parecer estranho que peças não relacionadas a José de Alencar e sua família estejam no Alagadiço Novo, mas além de espaço de memória do escritor, a Casa é um equipamento universitário e, como tal, pode abrigar acervos relacionados com a UFC.
No caso das peças em questão, estamos falando do acervo de pesquisa das professoras Maria Luíza Ramos eValdeliceGirão. Reunidas e analisadas em momentos distintos, as peças compõem as coleções Luíza Ramos e Arte Popular e Rendas do Ceará.
"Luíza Ramos" é a coleção mais antiga e foi reunida durante as décadas de 1930 e 1940. Alvos da análise da professora de música, as peças foram confeccionadas entre meados do século XIX e o início do século XX. Parte do resultado das pesquisas foram publicadas no livro "A Renda de Bilros e Sua Aculturação no Brasil" (1948), que a pesquisadora lançou junto com o marido, o médico e antropólogo Arthur Ramos.
A coleção "Arte popular e Rendas do Ceará" reúne as peças coletadas pelos pesquisadores do Instituto de Antropologia no Estado do Ceará. Entre os objetos estão: amostras de rendas, almofadas, bilros e outros itens adquiridos pela, então, conservadora Valdelice Carneiro Girão. Aproximadamente mil peças que, junto com as peças da Coleção Luíza Ramos, formam um rico e diversificado acervo têxtil.
As amostras das duas coleções estão minuciosamente descritas no catálogo Renda de Bilros. A obra possui duas edições, uma de 1984 e outra de 2013. Toda essa riqueza pode ser acessada nas exposições da Casa de José de Alencar.
Márcia Pereira de Oliveira é museóloga da Casa de José de Alencar
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