Logo O POVO+
André Frateschi compartilha experiência em turnê do Legião Urbana
Vida & Arte

André Frateschi compartilha experiência em turnê do Legião Urbana

Há oito anos na Legião Urbana, André Frateschi assume peso de ocupar o espaço de Renato Russo, mas se orgulha de estar ali
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Paulistano, 48 anos, André Frateschi é vocalista da Legião Urbana há 8 anos (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Paulistano, 48 anos, André Frateschi é vocalista da Legião Urbana há 8 anos

Na primeira semana de maio, estreou em São Paulo a nova turnê da Legião Urbana. Batizada "As V Estações", ela apresenta canções que vieram depois da fase punk do grupo brasiliense e conta, mais uma vez, com André Frateschi nos vocais. "Pela primeira vez dedicamos um tempo bem grande para ensaios. Estamos indo além porque contamos um pouco do que houve com a Legião após o terceiro disco. Muita coisa mudou. Teve uma busca espiritual, menos temas políticos. Fomos vendo como amarrar essa história", conta ele que é o único paulista da turma. O show em Fortaleza está marcado para 25 de novembro.

Frateschi assumiu oficialmente os vocais da banda há oito anos, mas a história dele com a Legião vem de bem antes. Em 1985, sua mãe, a atriz Denise del Vecchio, estava em cartaz no Rio de Janeiro com a peça "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva. André mal tinha 11 anos e ficava por ali, vendo as coisas acontecerem. Um dos atores do espetáculo falou que ia ter um show de uns amigos em algum canto e perguntou se ele estava a fim de ver. Ele topou e foi avisado de que um carro ia passar para busca-lo.

O motorista era Dado Villa-Lobos, que levava junto em seu Passat a banda toda. "Tive uma epifania vendo aquele show. Ganhei o vinil e voltei pra casa", lembra ele que passou a acompanhar a mãe em todos os shows que a Legião fazia em São Paulo. "Uma vez levei um ramalhete de cravos pro Renato e ele fez uma performance comendo as flores, esfregando no corpo, no rabo. E minha mãe me ensinou: 'isso é arte'", conta ele que foi reencontrar Dado Villa-Lobos em 2013, numa turnê coletiva em homenagem aos Beatles.

"Já em 2015, toca o telefone e era o Dado dizendo que ia fazer um show em homenagem aos 30 anos do primeiro disco da Legião e me convidando pra cantar". Ele topou, enfrentou a resistência inicial do público, ganhou confiança e está no posto até hoje. "A analogia que eu faço é de você estar andando no Vaticano e alguém diz que o papa não está podendo rezar a missa do galo", brinca adiantando que se preocupou em colocar sua própria experiência como cantor e fugir de qualquer imitação de voz ou trejeitos de Renato Russo. "Mesmo com todo receio de estar naquele lugar, eu sempre soube que iria dar certo. Eu tinha certeza de que iria rolar e que iria ser bonito. Toda vez que eu subo no palco tenho uma alegria de que seria o último dia da minha vida".

Quando não está viajando com a Legião, Frateschi tem uma série de projetos para tocar. Como músico, ele tem o trabalho solo e um show dedicado a David Bowie. "Sou completamente apaixonado e estudioso dele", acrescenta o artista de 48 anos que também tem a produção autoral. "Tenho preguiça, mas uma vontade de mostrar coisas novas. Não paro de escrever, mas tenho um pouco de pudor", revela adiantando que tem feito músicas novas com Rafael Mimi, do NX Zero. Na dramaturgia, ele gravou a série histórica "Independências" (TV Cultura), em que interpretou Chalaça, um político do Brasil imperial. "Um proto-Lira ou proto-Cunha", como define. Outro projeto atravessado pela política, foi "Desalma" (Globoplay), que teve a terceira temporada cancelada quando a protagonista Cássia Kiss se envolveu nos atos golpistas de 2022.

No entanto, 2013 será dedicado à Legião, projeto que André Frateschi vê como algo além. "Essas músicas são muita parte do que eu sou. Tenho uma intimidade muito grande com essas canções", resume vendo esse repertório como um retrato atemporal do Brasil. "O patrimônio do Renato é do mesmo tamanho de Machado de Assis, de Nelson Rodrigues. É do que a gente é feito. É pra ter orgulho do País". E acrescenta: "Ele fez esse projeto desde que era criança, é o projeto de uma vida. Na hora de fazer uma letra, ele se preocupava de não ser uma coisa datada. São coisas muito nossas e universais".

Ainda assim, há uma força maior ao trazer essas canções para o Brasil do hoje. "A nossa 'tragédia do Mané Garrincha' foi o governo Bolsonaro", afirma em alusão ao show que a Legião fez em 1988 e que terminou em confusão, prisões e pessoas machucadas. "A gente saiu de um momento em que artista era inimigo público, mamador de teta. O novo show tem esse espírito mais leve. Por exemplo, não tem 'Que país é esse' e 'Química'. Vamos nos unir, chega de briga, vamos tentar se juntar. Tem uma importância gigantesca cantar essas coisas pra ter um domínio dessas músicas, desses artistas. A única saída que a gente tem é a arte", sugere.

 

Capa do álbum 'Hits do Underground', de André Frateschi e Miranda Kassin
Capa do álbum 'Hits do Underground', de André Frateschi e Miranda Kassin

Produções musicais

Maximalista (2014)

Único disco de músicas inéditas de Frateschi é o projeto duplo "Maximalista", com 15 faixas feitas de vocais enérgicos e guitarras nervosas. Mike Garson, tecladista que trabalhou com David Bowie, é um
dos convidados.

Hits do Underground (2010)

Dividido com a esposa Miranda Kassin, o álbum traz 11 versões inéditas para a então recente produção independente nacional. De Curumim a Mombojó, os destaques são "Semáforo" (Vanguart), "Artista é o caralho" (Rubinho Jacobina) e "Só tetele" (Mulheres Negras).

Miranda Kassin (2012)

O disco de estreia solo de Miranda conta com participação de Frateschi em algumas composições. Gravado ao vivo no estúdio ao longo de 5 dias de imersão, o álbum puxa pro rock e pro soul ao longo de oito faixas inéditas.

 

O que você achou desse conteúdo?