Na esquina das ruas General Sampaio e Meton de Alencar, no Centro de Fortaleza, a Casa Barão de Camocim recebe a 74ª edição do Salão de Abril, um dos principais e mais longevos eventos de artes visuais do Ceará.
Em uma homenagem a Leonilson, artista visual cearense que é considerado grande expoente da arte contemporânea brasileira, a edição de 2023 da mostra conta com 40 trabalhos - entre pinturas, fotografias, colagens, ilustrações, instalações e performances - sendo 36 de artistas cearenses e quatro de outros estados do Nordeste.
"Aqui a gente está falando de uma ação que já é tradicional na história da arte no Brasil, quase 80 anos de uma atividade expositiva. O Salão por si só já tem uma importância histórica, tanto aqui em Fortaleza, quanto no Brasil", detalha Victor Perlingeiro, diretor da Galeria Multiarte, e um dos curadores da 74ª edição.
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Logo na entrada da Casa, somos convidados a refletir sobre os limites do tempo a partir das indagações e promessas da artista Paula Elizabeth. Em uma performance ritual intitulada "35 (trinta e cinco) anos de idade", a artista faz um pacto - ao local e aos presentes - de que irá participar da edição de 2025 do Salão, quando completar 35 anos. A performance é uma provocação à situação de pessoas travestis e transgêneros no Brasil, cuja expectativa de vida em média é de 35 anos de idade.
Nos corredores da Casa, nos deparamos com objetos e imagens que remetem ao dia a dia de seus criadores, mas que também dialogam com as casas de quem visita. Seja com os itens de barbearia deixados por Seu Ribeiro, com a performance "Orí", realizada no dia da abertura da edição de 2023, ou na tela "Breakfast Dream", de Charles Lessa, que nos chama para tomar café da manhã em um dia como outro qualquer, mas com detalhes que despertam a curiosidade do observador.
Adentrando às salas do espaço, encontramos fotografias e produções audiovisuais que apresentam a Cidade pelo ponto de vista de diferentes artistas. Da captura de um fim de tarde na praia em "We are", de Álvaro Bravo Júnior, passando pelas ruas movimentadas no Centro da Capital ou pelos muitos passados de um pequeno município no interior do Ceará.
"Quando você vê os artistas falando sobre suas cidades, na verdade isso é uma questão de pertencimento, a ocupação da cidade é uma ocupação em si, já é um movimento político", comenta o curador. Além de Victor, o 74º Salão de Abril teve equipe curatorial formada por Jonas Van, artista transnordestino, e Galciani Neves, pesquisadora e professora de Artes Visuais.
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Subindo as escadas do casarão centenário, encontramos formas variadas de construção de narrativas que impactam e, ao mesmo tempo, distraem o espectador do ambiente em que se encontra. Entre desenhos, colagens e costuras, o saguão do primeiro andar nos arremessa à imensidão das memórias de terceiros e vivências próprias - como a instalação "Texto têxtil", de Jamille Queiroz, que traz texto de uma carta de amor expresso em crochê de fios de algodão.
O espaço também dialoga com lembranças afetivas, mesclando entre o passado e o futuro, como em "Capivaras & Dragões", de biarritzzz, artista de Recife que aborda a juventude em suas diferentes épocas e movimentos, com alusão aos jogos de tabuleiro e videogames.
Pendurado perto da porta, "Procura pelo afeto inexistente", pintura acrílica sobre madeira da cearense Manuella, incorpora elementos da contemporaneidade e do modernismo.
Como bem detalha Victor, é possível encontrar "formas que conversam com as da Tarsila do Amaral, então, há o contemporâneo a todo instante, mas também uma apropriação de uma imagem moderna". Assim como a arte de Leonilson, cearense homenageado pela edição de 2023, as exposições revelam transformações, liberdade, sensações e o próprio ser criador.
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74º Salão de Abril
Quando: até dia 1º de julho; visitação de terça a sexta-feira, das 10 às 17 horas, e sábado, das 10 às 16 horas
Onde: Centro Cultural Casa Barão de Camocim
(Rua General Sampaio,
1632 - Centro)
Gratuito