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A menina Potiguara: livro infantil destaca inclusão de povos indígenas
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A menina Potiguara: livro infantil destaca inclusão de povos indígenas

Carina Alves destaca a riqueza cultural dos povos originários e aborda sonhos e desafios no livro "A menina potiguara", da série Literatura Acessível
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Carina Alves lança mais um livro da série Literatura Acessível  (Foto: Lila Valter/ Divulgação)
Foto: Lila Valter/ Divulgação Carina Alves lança mais um livro da série Literatura Acessível

Fundadora do Instituto Incluir e criadora de uma série de livros infantis batizados pelo projeto Literatura Acessível, Carina Alves, 44, lança agora "A menina potiguara". Com prefácio escrito pela atriz Dira Paes e ilustração de Roney Bunn, a obra é resultado da imersão da autora nas comunidades indígenas de Baía da Traição, município do estado da Paraíba. Somando a temática do respeito à cultura dos povos originários à inclusão, diversidade e multiculturalidade, o livro será lançado na terça-feira, 30, às 18 horas, em evento no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

"A partir da minha inspiração na imersão que fiz em julho de 2022, na etnia Potiguara, vi muitas meninas indígenas com deficiência e isso me chamou atenção. Vi muita riqueza natural, me senti acolhida pela ancestralidade da comunidade indígena que convivi. Daí surgiu um turbilhão de ideias na minha cabeça. Pensei: preciso contar para o mundo a riqueza cultural e a origem do nosso Brasil", conta Carina em entrevista ao Vida&Arte.

O enredo destaca a personagem Anamã. Uma menina Potiguara, que vive com a família no litoral da Paraíba e adora surfar. Ela usa cadeira de rodas e precisa de recursos acessíveis e do suporte de outras pessoas para desfrutar da sua paixão. Vencedora do Prêmio Confúcio de Alfabetização, da Unesco, de 2022, Carina destaca que a protagonista se junta aos outros personagens dos seus livros infantojuvenis, que trazem crianças e jovens com e sem deficiência.

"Esses personagens nos ensinam muito sobre a importância da inclusão, da diversidade, da acessibilidade, dos direitos humanos e do empoderamento de meninas e mulheres. Combater o preconceito contra os povos indígenas é combater a violência", pontua. Além da impressão em Braille, a obra oferece audiodescrição, fonte ampliada, escrita simples e interpretação em Libras, disponíveis na plataforma Literatura Acessível.

Uma das mais reconhecidas vozes em defesa dos direitos dos povos originários, Dira Paes, também conhecida por seus papéis como Beatriz na novela "Velho Chico", e Lucimar em "Salve Jorge", ambos da TV Globo, destaca a resiliência da personagem-título diante das dificuldades. No prefácio que assina, ela diz: "Com sua alegria, Anamã nos convida para esta leitura como um mergulho em nós mesmos. Sejamos Anamã, pelo menos por um dia".

No caminho da inclusão, Carina firmou os primeiros passos no paradesporto. Ela foi psicóloga da seleção brasileira de bocha paralímpica. Dali, partiu para o Instituto Superar, onde se tornou diretora em 2015, implementando projetos sócio-esportivos e culturais que promovem inclusão em diversos polos no Brasil. A carioca conta que sempre esteve ligada à arte de uma forma geral. "Sempre fui inspirada pela arte. Na infância, estudei teatro, pintura, violão, teclado e fiz dança por muito tempo na minha vida. Atualmente, danço a dança da vida. Adoro pintar quadros nas horas vagas. Também amo escrever. Tenho muitos escritos guardados, outros publicados, como poesias, cartas, devaneios, ficção e o que me vem à cabeça".

Nascida numa região periférica do Rio de Janeiro, a doutora em educação e psicóloga relembra que, desde pequena, se viu na luta por um mundo sem preconceitos. "Quando saía para estudar fora, sempre me olhavam diferente, como se eu fosse menor. Sofri vários tipos de assédios na vida. Por ser mulher, por ser da periferia, por ser de uma origem humilde. Então, sempre foi e ainda é para mim um ato político viver numa sociedade que naturalmente exclui as diferenças e a pluralidade humana", destaca.

Foi sendo provocada pela banca de defesa da dissertação de mestrado que a autora entendeu que devia mergulhar nas histórias das crianças. "Eu saí dali pensando o que eu poderia fazer pelos jovens. Foi quando surgiu aideia de escrever livros infantojuvenis. Em 2014 comecei com um projeto piloto. Foi tão maravilhoso que não parei. Agora vou lançar o décimo primeiro livro da coletânea Literatura Acessível", conta.

Também fundadora do Instituto Incluir, em 2017, a doutora promoveu parcerias internacionais. Com a Universidade do Esporte de Colônia, na Alemanha, Carina criou o projeto Pulsar; e com a Politécnica de Leiria, em Portugal, o projeto Esportivamente. Ambos de qualificação de profissionais para o trabalho junto à pessoa com deficiência.

Questionada sobre a ampliação do debate acerca dos povos originários, a autora destaca que "A menina potiguara" mostrará um Brasil que é "muitas vezes silenciado e invisibilizado para crianças e jovens". Suas expectativas giram em torno do alcance da obra.

"Estou feliz e confiante que o novo livro trará excelentes frutos. Meu desejo é que este livro consiga alcançar todos os espaços formais e não formais de educação dentro e fora do Brasil", finaliza.

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