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Autoras cearenses se agrupam em coletivos para difusão da literatura
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Autoras cearenses se agrupam em coletivos para difusão da literatura

Coletivos femininos reúnem autoras cearenses para elaborar formas de produção e difusão de obras independentes
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Escritoras cearenses promoveram encontro no Centro Dragão do Mar   (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Escritoras cearenses promoveram encontro no Centro Dragão do Mar

"A união feminina, principalmente em Coletivos literários é de suma importância para todo o processo de inserção das novas autoras no mercado, porque, de fato, existe uma rede de apoio, em que nós lemos os textos umas das outras, participamos com as escritas de orelha, prefácios, posfácios e afins, e, sobretudo, incentivamos comprando os livros e divulgando entre os amigos, o que aumenta o alcance dessas obras, até porque esses grupos estão além do alcance regional e o virtual facilita esses diálogos". Essa é uma fala de Luciana Braga, escritora, professora e desenhista. Ela é membro dos coletivos Tear de Histórias, Poexistência, Escreviventes e Mulherio das Letras, alguns dos grupos que reúnem política e esteticamente mulheres em nosso estado.

Luciana é uma das escritoras de Fortaleza na sessão de fotos considerada histórica pelas participantes no sábado, dia onze de junho de 2022. Um dia depois, outras cidades de todo o país também colocaram em evidência mulheres que escrevem. De acordo com a artista, essa ideia começou em São Paulo e, em Fortaleza, o movimento foi conduzido pelas escritoras Karine Vasconcelos e Natália Barbosa, com suporte de Luciana Braga, Nádia Camuça, Alyne Castro, Yara Fers e Patrícia Baldez. A ação, porém, remonta direto ao Mulherio das Letras, o qual, além de movimento, foi o primeiro grupo literário em nível nacional voltado para a reunião, revelação e para o auxílio de mulheres ligadas às letras sob a regência da escritora Maria Valéria Rezende.

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Apesar do caráter contundente, a pesquisadora de literaturas escritas por mulheres, Carla Castro apontou invisibilidade no encontro. "No episódio do Dragão do mar, eu fiz a colocação de que havia pouquíssimas escritoras e que no Ceará havia muito mais. Naquele momento faltou uma divulgação maior pois teria ficado restrito aos coletivos que usam o Instagram para divulgação", aponta. A ausência de uma representante da agremiação feminina da Casa Juvenal Galeno, a mais antiga de Fortaleza e criada justamente para dar voz às mulheres, é uma das mais sentidas. Saídas já se apresentam: "Falei com algumas escritoras que ali estavam e elas me falaram que em um próximo ano divulgariam mais para que outras mulheres pudessem participar."

Há, no entanto, muito trabalho no Presente. Integrante de um coletivo de poetas, Nádia Camurça fala do panorama atual de escritas: "Atualmente o próprio coletivo lançou uma antologia com poemas de todas as autoras, chamado 'Antologia Poexistência', publicado pela editora Arpillera, que é uma editora criada por uma das escritoras do coletivo, a Yara Fers. Alguns outros lançamentos recentes são: 'As sombras na sala de estar', da Carla de Paiva, publicado pela editora Reformatório; 'Antes de virar pó', da Naiana Íris, publicado pelo Selo Mirada; '60 haikaiss' da Beatriz Borges. E temos autoras com projetos em andamento este ano. Eu, no momento, estou planejando uma reimpressão dos meus dois livros: 'Meus Fantasmas Dançam no Silêncio' e 'Cierzo', ambos estão esgotados na versão física, mas podem ser lidos em e-book".

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A poesia vem sendo um gênero muito cultivado, gerando, por vezes, uma sensação de banalização a uma forma literária tão complexa. Nádia diz que não há um trabalho de discussão e crítica dentro do coletivo para a formação literária, mas um apoio mútuo visando ao amadurecimento dessas e de outras questões. Ela se preocupa com alguma banalização que pode reduzir o texto poético a qualquer um em versos, porém defende a diversidade. "É um estilo literário, sim, cheio de complexidade, mas também não acho que tenha que ser totalmente difícil para ser poesia. Ao mesmo tempo eu fico pensando "quem sou eu pra dizer o que é ou não um poema ou um bom poema"? Então eu só desejo que as pessoas que estão começando a gostar de poesia recentemente que se abram para ler as diversas maneiras de ser poesia que existe", aponta.

Uma dessas dicas de leitura é a produção mais recente da professora, escritora e poeta Carla de Paiva. Publicado em dezembro de 2022, pela editora Folheando, e lançado em março de 2023, no casarão Barão de Camocim, "As sombras na sala de estar" é o segundo livro da autora. Dividido em três momentos: "Reminiscências de uma boa menina", "Atravessando desertos a remo" e "Cinzas de um amor vulcânico"; a obra possui como palco o sertão nordestino, lugar onde vive a menina que atravessa os poemas do livro. "O livro foi construído, sobretudo, no silêncio das madrugadas, e, no entanto, é um livro grito, um sopro de esperanças para as sombras que adormecidas, esperam seu momento de falar", diz a autora que parece sintetizar o que as escritas femininas podem representar em uma sociedade que silencia todos os dias, e por vezes para sempre, tantas mulheres em nosso Estado e País.

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