Uma paixão de uma vida inteira. Se há uma forma de classificarmos a relação de Nonato Lima com seu acordeon, essa consegue contemplar bem as nuances de cumplicidade entre os dois. Hoje com 32 anos, o cearense natural de Quixadá tem o instrumento musical como um fiel companheiro desde os seus seis anos de idade. Quando se pensa em acordeon, se pensa em Nonato Lima - e vice-versa.
Não à toa, aliás, é possível estabelecer essa analogia. Premiado a nível internacional - a exemplo do seu título no III Festival Internacional da Sanfona em Juazeiro (BA) -, Nonato carrega consigo a identidade nordestina permitida pelo equipamento em diferentes temporalidades.
Com 18 anos, foi campeão de um festival de sanfonas. No último mês, realizou turnê internacional em sete países europeus. Ao Vida&Arte, o cantor, compositor, professor e acordeonista compartilha sua trajetória, influências e a experiência em sua segunda turnê europeia.
Antes, é preciso falar sobre como toda essa relação começou, com ênfase ao papel de seu pai ao apresentar o instrumento musical. “Eu o via tocar muito novo, ele me levava para alguns shows, então desde sempre vivi aquela vida. Quando meu pai saía, deixava a sanfona em cima da cama, e eu, muito criança, ficava mexendo na sanfona. Meu pai me ensinou a fazer minhas primeiras notas e percebeu que aprendia rapidamente. Logo comecei a tocar de verdade, já com sete anos”, detalha.
O amor pela arte do acordeon se solidificou ao longo do tempo, contando com significativa ajuda de Luiz Gonzaga. Foi ele, afinal, o “princípio de tudo”. Curiosamente, seu primeiro “contato” com o pernambucano veio a partir de um sonho, quando visualizou um senhor tocando sanfona em uma igreja. Sem nunca ter visto uma foto de Luiz Gonzaga antes, foi o “Rei do Baião” quem Nonato encontrou em seu sonho.
Com o passar dos anos, o cearense melhorou ainda mais sua técnica, aparecendo em programas televisivos, sendo reconhecido por artistas de alcance nacional e tendo a oportunidade de dividir palco com eles. Nonato Lima já tocou em shows de Fagner, Elba Ramalho, Hamilton de Holanda, Waldonys e Hermeto Pascoal.
Ele também desenvolveu sua habilidade como compositor, lançando também obras autorais. “Como eu componho muito instrumental, tento transcrever aquilo que sinto em forma de melodias, que sejam cantáveis no instrumento”, aponta. O resultado? Ele já teve canções autorais gravadas por uma das maiores orquestras de frevo do mundo, a SpokFrevo.
Álbuns, EP e singles
Nonato Lima também dedica sua trajetória a trabalhos solo, a exemplo de seus álbuns “Brasiliando” - lançado em 2019 e seu primeiro disco autoral - e “Meu Paraíso”, de 2022. Em 2022, ele realizou um show no Cineteatro São Luiz para apresentar ao público o até então mais recente trabalho.
O espetáculo contou com a participação especial de convidados como Waldonys, Juruviara, Camila Marieta e Cleane Sampaio. A programação teve repertório diversificado e foi composta por músicas clássicas do forró, como “Razões”, “Brincar de Amar”, “Espumas ao Vento” e as autorais “Meu Paraíso” e “Você Tá Querendo Xero”.
O sanfoneiro cearense não parou por aí: recentemente, em abril, lançou nas plataformas digitais seu mais novo EP, intitulado “Cuidar de Você”. O trabalho tem quatro canções, sendo elas “Sujar de Batom”, “Rumas de Amores”, “Homenagem a Cezar” e “Cuidar de Você”, que dá nome ao EP.
Os últimos singles vêm desde 2021, com "Baião de Luz", "Você Tá Querendo Xero", "Inverno (Winter)" - peça de Antonio Vivaldi adaptada para o acordeon - e "Accordion Relax". É possível acompanhar as apresentações de Nonato Lima em seu canal no YouTube.
Pela Europa
Da metade de abril até 20 de maio, a agenda de Nonato Lima esteve corrida - e de uma forma ainda mais especial: na Europa. Essa foi a sua segunda turnê no Velho Continente e surgiu a partir de um convite de um amigo que mora em Viena, capital da Áustria. Dessa vez, ele levou ao público repertório mais voltado ao forró.
Além de tocar na Áustria, o cearense se apresentou em países como Alemanha, Holanda, Hungria, Itália, França e Suíça, finalizando o giro na capital austríaca. A repercussão, para o músico, foi muito positiva. Ele relata até ter recebido visitas em seus shows de sanfoneiros que vinham de outras cidades para conhecê-lo e vê-lo tocar.
“Teve um acordeonista que viajou por cinco horas de carro para poder me conhecer. Ele disse que era meu fã. Fiquei sem acreditar”, compartilha. O cearense acrescenta: “Eu ficava espantado com isso. A gente não imagina, às vezes, o tamanho do carinho de pessoas que conhecem nosso trabalho e moram em outros países”. Para o acordeonista, foi particularmente especial também tocar ao lado de um de seus ídolos, o francês Richard Galliano, no Festival Jazz à Saint-Germain.
Quanto à levar a música brasileira para terras estrangeiras, ele garante: “Eu me sinto lisonjeado de levar nossa cultura, a música do Ceará, transportando-a através do meu instrumento musical para outras culturas conhecerem. É importante essa fusão. Onde eu chegava existiam brasileiros que gostavam e os shows serviam para matar a saudade da terra”.
De volta a Fortaleza, Nonato Lima tirou uma semana para descansar e ficar com a família, mas a agenda não para - ainda mais com as festividades juninas se aproximando. Ele também fará shows acompanhando Ivete Sangalo no São João de Caruaru, em Pernambuco, e no São João de Campina Grande, na Paraíba.
Festivais como o Mel, Chorinho & Cachaça, em Viçosa do Ceará, também esperam pelo acordeonista, bem como estados como a Bahia e o Piauí com seus shows. “Vai ser bem corrido, graças a Deus”, celebra o músico.
Influências
Falar da carreira de Nonato Lima não é conversar apenas sobre os feitos “individuais” de sua trajetória. É preciso falar de pessoas que estiveram - e estão - por trás de suas referências musicais, que o fizeram se apaixonar ainda mais pelo acordeon. Como visto, Luiz Gonzaga foi uma grande influência em sua vida, mas vale destacar outros nomes.
O cantor e compositor se espelha também em Adelson Viana e em Chico Justino, grandes personalidades que enriqueceram sua experiência musical. Outro músico que não pode faltar nessa lista é Dominguinhos. “Ele foi um divisor de águas na minha vida. Antes de Dominguinhos, eu era sanfoneiro de banda. Depois que o conheci, virei o Nonato Lima”, garante.
Ele teve a oportunidade de não só conhecer de perto a grande referência, mas participar de shows com Dominguinhos. “Todo sanfoneiro tem o sonho de tocar e conviver com Dominguinhos. Eu tive essa sorte”, afirma Lima. Da primeira visão que Dominguinhos teve sobre o cearense (quando Nonato tocou em um programa televisivo) veio o desejo de que o acordeonista o acompanhasse em seus shows.
“Para mim, foi uma experiência muito gratificante. O Dominguinhos é referência para todos os sanfoneiros do Brasil. Conviver e tocar com ele, o aprendizado que eu tive, tudo issofoi muito gratificante. É tanto que eu sempre faço homenagens a ele, ele sempre está no meu repertório”, indica Nonato Lima.
Acompanhe o artista
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