Uma trajetória que começou profissionalmente em 2005, com a banda de electropunk Montage, e que segue rendendo frutos para os fãs a partir da experimentação. O cantor e compositor cearense Daniel Peixoto há 18 anos se destaca com a mistura de ritmos musicais, tendo como base a música eletrônica.
Importante precursor da cena queer atual na música, ele teve repercussão representativa na cena eletrônica e foi elogiado pelo cantor americano Justin Timberlake, além de ter sido comparado com David Bowie pelo jornal inglês “The Guardian”.
Duas vezes vencedor do Prêmio Dynamite de Música Independente, ele chegou ao “Tropiqueer”, seu terceiro álbum solo. Com 15 faixas, o disco envolve música popular do nordeste e referênciais internacionais, mas mantendo a base eletrônica. Ao Vida&Arte, Daniel Peixoto fala sobre o novo momento da carreira e a construção do seu disco.
Tropiqueer
Onde escutar:
ditto.fm/tropiqueer
Influências
A história de “Tropiqueer”, começa, na verdade, ainda em 2011. Há 12 anos, Daniel Peixoto lançava na Europa “Mastigando Humanos”, o seu primeiro álbum solo - e o primeiro da trilogia. Desde então ele envereda pela mistura da música tropical e latina com a base de música eletrônica - movimento chamado de “tropical bass”.
Seis anos depois, em 2017, veio o segundo álbum, intitulado “Massa”. Assim, “Tropiqueer” é o encerramento da trilogia. “Eu nunca vou abandonar a música eletrônica, sempre trabalho outros estilos - essa coisa de ter forró, reggae, brega e guitarrada está sempre ali, mas a base sólida do meu som é a música eletrônica”, afirma o autor ao mencionar as referências.
O álbum conta também com influências de artistas cearenses contemporâneos e de gerações passadas, com regravação de Fagner, Fausto Nilo e Limão com Mel, por exemplo.
A Tropicália Gay
A proposta do álbum passa diretamente pelo conceito que o rege: nas palavras do cantor, “um pós-tropicalismo agênero” ou uma “tropicália gay”. Tropiqueer, nesse caso, também é o alter ego de Daniel Peixoto, um personagem de marinheiro criado para narrar uma história. Considerando que todas as músicas falam sobre amor a partir de óticas diferentes, ele pensou em um marinheiro com “sua fama de ter um amor em cada porto”.
“Eu batizei de ‘Tropiqueer’ também com referência à Tropicália, que tinha essa ideia muito parecida com o que proponho no álbum de misturar as músicas, os gêneros genuinamente brasileiros com uma visão mais internacional e não tão exclusiva da nossa rica Música Popular Brasileira (MPB)”.
Ele também pontua: “A questão agênera vem porque isso está no meu trabalho desde a época do Montage. No meu eu lírico das composições eu canto no feminino e no masculino, canto para homens e para mulheres, então o personagem é agênero”.
Parcerias
"Tropiqueer" proporciona oportunidades para artistas em ascensão participarem, como CL4RI, Conspira e Truta, e reúne parcerias com outros nomes importantes para Daniel Peixoto, como Di Ferreira, Filipe Catto, Silvero Pereira e Getúlio Abelha. No caso de Pereira, foi possível ressignificar a canção “Anjo Querubim”.
“Eu pensei nele porque a gente é mais ou menos da mesma geração e achei que seria legal ressignificar essa música, porque ela sempre foi cantada de um homem para uma mulher ou de uma mulher para um home. A presença do Silvero como um homem gay, assim como eu, no Ceará dá uma força a isso tudo que estou pregando no disco”.
Cena musical LGBTQIA+
Ao lembrar de seu início profissional com o Montage, ele recorda de que a banda surgiu “em uma época na qual quase um tabu falar sobre sexualidade na música”. Como referências de artistas pop que traziam “a pauta da sexualidade dentro da questão artística”, Daniel cita Cássia Eller e Edson Cordeiro.
“A Montage meio que andou ‘só’ durante o período em que a gente começou. Acredito que ali a gente plantou uma semente para que outros artistas pudessem se expressar de forma mais leve em relação a esse tema. Hoje, finalmente temos essa cena. Acho que pessoas como Pabllo Vittar e Linn da Quebrada foram pessoas fundamentais nessa virada de chave”, indica.
O POVO
A entrevista completa em vídeo com Daniel Peixoto está disponível na seção Filmes e Séries da plataforma O POVO . No novo episódio do Vida&Arte Convida, ele também analisa o cenário atual da música independente.
Visual e música
Uma marca da carreira do artista cearense é o trabalho que realiza ao unir conceitos estéticos com sua sonoridade. Ao escutar Daniel Peixoto, você também o vê, e o mesmo processo ocorre no sentido contrário. Olhar para suas criações visuais é também perceber a música que toca - tanto para os ouvidos quanto para o coração.
“Aprendi muito rápido, até antes de começar a trabalhar profissionalmente. Todos os meus ídolos na música tiveram esse cuidado com a parte visual não só das fotos e das capas dos discos, mas conceitos que vêm em videoclipes e como se apresentam em shows. Minhas duas maiores referências musicais são David Bowie e Madonna. Esses dois artistas personificam a cada trabalho uma nova identidade visual e isso me influencia demais”, compartilha.
Não à toa, por sinal, ele realizou a entrevista vestido de marinheiro. Daniel Peixoto defende a importância da associação da imagem com a música, principalmente em um cenário midiático tomado por investimentos em videoclipes, ainda mais com plataformas como o YouTube, o TikTok e o Instagram.
A faixa “Postal de Amor”, dividida com Filipe Catto, ganhou um videoclipe. A linguagem artística atrai Peixoto, mas admite que “é caro”. Ele relata “fazer milagres” com seu orçamento e cita o que foi feito nessa parceria, usando em algumas cenas tela verde como pano de fundo para veicular imagens em alta definição disponibilizadas pela Nasa.
“A gente pegou fotos da Nasa, imagens de filmes de ficção científica de Hollywood e fomos para o estúdio, no Chroma Key (fundo verde). Fizemos nossa mágica e ficou muito bom”, argumenta.
Artistas que acompanha
Entre referências nacionais e internacionais, os artistas que Daniel Peixoto acompanha são diversos. No Ceará, chamam a sua atenção nomes como Luiza Nobel, Lorena Nunes, Mateus Fazeno Rock, Di Ferreira, Jonnata Doll e Getúlio Abelha - com destaque para sua autenticidade.
A cantora Letrux também é referência nesse quesito para Daniel Peixoto, que cita outros nomes em nível nacional que estão na rota de sua escuta. Frimes, drag queen maranhense, está em sua lista, bem como MC Tha e a banda Os Amantes, projeto musical que une o cantor paraense Jaloo e o grupo Strobo.
Daniel também deixa um generoso espaço para IAMX, projeto solo do britânico Chris Corner, vocalista da banda de música eletrônica Sneaker Pimps.