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Álbum de Lenine e Marcos Suzano ganha remasterização após 30 anos
Vida & Arte

Álbum de Lenine e Marcos Suzano ganha remasterização após 30 anos

Disco de Lenine e Marcos Suzano celebra três décadas em 2023. Em entrevista ao Vida&Arte, artistas mostram como o trabalho foi um "divisor de águas" da música
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Lenine e Marcos Suzano revisitam disco
Foto: Selmy Yassuda/divulgação Lenine e Marcos Suzano revisitam disco "Olho de Peixe"

Um divisor de águas . É assim que o cantor e compositor Lenine e o percussionista Marcos Suzano definem o álbum “Olho de Peixe”, trabalho desenvolvido pela dupla em formato de CD no ano de 1993. Após 30 anos do lançamento, a obra ganha nova roupagem com relançamento nas plataformas digitais remasterizado pelo produtor Bruno Giorgi, divulgação de edição limitada em vinil - disponível para aquisição até sexta-feira, 9 - pela Noize Record Club! e criação de songbook estruturado pelo músico Yuri Pimentel.

A produção fonográfica trouxe frescor para as paradas musicais dos anos 1990 e ditou o rumo das carreiras dos artistas. Entre a percussão inovadora de Suzano e a instrumentalização e voz de Lenine, as 11 faixas de “Olho de Peixe” transitam entre o samba, maracatu, rock e soul. Em entrevista ao Vida&Arte, os dois rememoram o início do “diálogo musical-sonoro” e mostram como a sonoridade do disco continua atual depois de três décadas.

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O POVO: No primeiro encontro para “Olho de Peixe”, em 1993, o que mais instigava no trabalho um do outro? Como vocês definiriam essa fusão musical criada para o álbum?

Marcos Suzano: Eu conhecia uma música do Lenine e era maneiríssima. O Paulo Muylaert, que tocava no grupo que eu fazia parte, o Aquarela Carioca, era da banda do Lenine. A gente estava fazendo o segundo disco do grupo, ele convidou o Lenine e gravou uma composição. Daí para estúdio foi só uns ajustes e a presença do Denilson Campos, que foi o engenheiro que viabilizou a gravação (do “Olho de Peixe”) e co-produziu conosco, tirou um sonzão.

OP: O "Olho de Peixe" tem esse diálogo entre a percussão do Marcos, a instrumentalização e voz do Lenine, além da influência que vai desde samba até os ritmos estadunidenses. Que outras referências e elementos vocês destacariam na composição instrumental desse álbum?

Lenine: Não sei quem me falou isso, mas é muito propício e perspicaz: "vendo daqui é como se Suzano tivesse tirado a percussão lá do fundo e trouxesse para o protagonismo dentro dessa história fonográfica". Eu acredito que sim, teve primeiro uma empatia que aconteceu entre eu e Suzano, um diálogo musical-sonoro que acontecia e acontece. Tem a ver com nossa formação, com o que a gente gosta, a maneira que a gente toca, o que nos atrai. O "Olho de Peixe" também tem para mim uma forma de formatar uma maneira de conduzir a minha carreira. Eu descobri ali que vou ter que sempre produzir minhas coisas e foi uma constante na minha vida, isso dá uma autonomia em todo o processo do fazer e você, mais do que ninguém, sabe aonde quer chegar. Foi um grande momento de ensinamento nessa profissão que é produzir.

Marcos: Acho que se a gente tivesse seguido os padrões do momento a gente não teria conseguido chegar nesses resultados sonoros e estéticos. No fundo, é um carimbo e passaporte da aceitação, porque o meio musical tem isso. Eu não vou dizer que ele é cruel, mas é porque não é só o meio, é um lance que acontece que uma coisa é aceita e outra não é.

Lenine: A gente já tinha levado a outro patamar ao vivo. E o nosso próprio diálogo ficava mais evidente quando a gente estava em cima do palco. Foi muito marcante, teve a história de Suzano “confundir” o pandeiro com o talk-drum e de repente ele dialogar comigo, cantar comigo. Enquanto todo mundo queria o exercício para chegar no refinamento da execução para não ter ruído, eu estava em busca dos ruídos para usar em benefício da música. Isso nos botava em lugar diferente.

OP: Lenine, você lançou há pouco um “Faixa a Faixa” no Spotify e fala que na música “Escrúpulo” vocês tiveram ali um momento de percussão livre…

Lenine: Teve toda uma pesquisa. Desde o início a gente quis fazer uma peça inteira que a gente pudesse apresentar e as pessoas pudessem ouvir de uma tacada só com uma narrativa e um relevo que a gente criou a partir dessa sequência de música. Também falava muito do início do digital, que já tava surgindo o CD player e os CDs.

Marcos: E tinha essa graça toda quando a gente fazia o CD. Às vezes você pensa uma ideia musical que em cinco minutos não é suficiente, você tem que fazer uma sequência de música.

OP: Foge também dessa lógica do streaming. Vocês falaram da mudança inicial pro digital e a mudança de carreira, que vai do independente para uma área mais comercial. Como vocês sentiram essas mudanças?

Lenine: Continuou igualzinho como a gente fez e não mudou a forma de fazer. Descobri junto com Suzano, fazendo “Olho de Peixe”, como produzir, como fazer artesanato sonoro. É isso que a gente faz, uma artesania sonora.

OP: E como está sendo esse processo de reanalisar o disco junto com outros profissionais? O que vocês buscaram inserir nessas novas produções que estão sendo lançadas?

Lenine: É uma conjugação de forças para celebrar o fato que, há trinta anos, eu e esse cara conseguimos fazer uma obra que entrou pra história, botou a música num lugar incrível. Me deu a janela para fazer o que eu me transformei, ou seja, um compositor que canta. Foi um divisor de águas tanto para mim, quanto para Suzano. Eu tive que me deparar sim, e foi difícil. Você não recorre mais ao que você faz, fica como uma memória afetiva e sonora distante da gente. Em alguns momentos me causou espanto, o timbre da minha voz bem novinho, quase gasguito (Ri). Apesar de todo esse tempo e dessa mudança vocal, o disco, a proposta estética, os arranjos, as canções,as palavras, tudo tem um frescor.

Marcos: É interessante isso mesmo. Sem dúvida, a solução musical não tem tempo, não tem idade, é atemporal. Tem muito a ver com os sons e as ideias que a gente levou para fazer, ficou muito bacana fugir do regionalismo objetivo. Eu comecei tocando choro no Rio, sempre foi uma turma que beirava o radicalismo por causa da sobrevivência do estilo. Quando saiu “Olho de Peixe” falavam que o disco é espetacular. É interessante, um crossover.

Lenine: O álbum chegou de uma maneira impotente em nichos completamente diferentes. Teve um crossover que coincide com um certo interesse mundial por uma música “étnico-contemporânea”, isso tava acontecendo no mundo todo e a gente tava ali com a antena ligada suficiente para pegar carona. Em qualquer nicho onde essa música etno toca, a gente se enquadra

OP: Os fãs podem ter esperança de algum show de comemoração destas três décadas?

Lenine: Na verdade, nunca teve essa intenção de juntar para fazer o show, porque já fizemos, há cinco anos, um show na Lagoa que foi maravilhoso. É maravilhoso quando a gente toca junto. Isso nunca teve como possibilidade, mas não quer dizer que a gente não faça não. A gente tá celebrando essa jovialidade de um projeto que já está fazendo trinta anos.

OP: Inclusive esse movimento é uma forma muito boa de apresentar o disco para as novas gerações….

Lenine: E porque a gente nunca tinha jogado nas plataformas. A gente sempre cuidou com muito carinho desse disco. A gente faz porque a gente é meio artesão, coincidiu lindamente da gente comemorar trinta anos de uma obra dessa e todo mundo se ligou, ainda provocando tanto impacto depois de todo esse tempo.

Marcos: A quantidade de mensagens interessantes que eu tenho recebido, você vai ver o perfil e é uma galera jovem com 20, 30, até com um pouquinho mais, provavelmente filhos dos sexagenários (Ri).

Novas versões

Onde escutar: nas plataformas digitais e no formato de vinil, disponível para aquisição até o dia 9 de junho pela Noize!

Show em Fortaleza

Lenine apresenta show especial para o tradicional Jantar dos Namorados, promovido pelo Shopping RioMar Fortaleza. O evento gratuito acontece na Praça de Alimentação do estabelecimento na sexta-feira, 9, a partir de 18h30min. Com repertório de sucessos, o músico traz a turnê "Rizoma" e será acompanhado pelo seu filho, Bruno Giorgi. 

Quando: 9 de junho, às 19h30min
Onde: Praça de Alimentação do Shopping RioMar Fortaleza (rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
Gratuito

 

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