A escrita, para o mestre em Biblioteconomia e escritor Jorge Nogueira, vem como "forma de entender e interpretar" o mundo e a si mesmo. A partir de tal busca, o jaguaribano radicado em Juazeiro do Norte lança neste mês o primeiro livro da carreira. Destacando principalmente relacionamentos amorosos, "Inventário dos seus abraços" traça, em 12 contos, um "mapa de afetos e experiências" de personagens gays.
A obra — cuja capa tem ilustração assinada por Charles Lessa (reproduzida acima) — aborda términos, vínculos, amizade, família, pecado e conexão com o divino. As experiências vividas pelo autor foram a maior fonte para as narrativas.
"As inspirações surgem principalmente através de vivências pessoais, como o fato de ter sido criado em uma família evangélica, o que me fez crescer acreditando que o que eu sentia e os meus desejos eram impuros, pecaminosos, anormais. Ou a complexidade das relações amorosas. Ou o se apaixonar pelo melhor amigo", divide em entrevista ao Vida&Arte.
Afeito pela produção literária desde a infância, Jorge começou a escrever na adolescência, principalmente poesias e contos. Após participações em coletâneas e antologias, o momento de dar vazão à primeira obra completa chegou a partir de uma consonância de fatores: a aprovação no Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Ceará, o isolamento imposto pela pandemia e, ainda, o término doloroso de um relacionamento.
Para ele, a experiência da "escrita (foi) como uma tentativa de entendimento das emoções e situações, como uma forma de transformar a dor em algo belo ou como forma de me conectar com as outras pessoas".
"Penso que, com o advento e popularização das redes sociais, as relações afetivas têm passado por transformações que ainda estamos longe de entender", aprofunda o escritor. "Escrevo como forma de compreender o que sinto, de entender, por exemplo, como duas pessoas que se amam não conseguem ficar juntas", destaca.
Em aliança ao olhar para si e para as próprias experiências, Jorge também destaca como fontes de inspiração algumas situações reais que presenciou e, ainda, obras do cinema, da música e do teatro. Na literatura, as referências são, principalmente, de contistas por quem nutre admiração.
A seleção compartilhada por Jorge é composta por Caio Fernando Abreu, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Antonio Carlos Viana, com destaque especial a João Silvério Trevisan — "que para mim é o maior nome da literatura gay no Brasil", atesta.
Em termos de forma, Jorge busca, na prática, aproximações entre a prosa e a poesia. "Procuro escrever os contos com uma linguagem simples e acessível. Não quero mostrar erudição, quero me conectar com o máximo de pessoas possível. Mas nem por isso deixo de procurar sempre trabalhar a linguagem de forma a torná-la clara e bela", explica.
A conexão, enfim, é ponto central da obra, seja como elemento das histórias, seja como intenção para além das páginas. "Espero que os leitores se conectem com as histórias pois, apesar de partirem muitas vezes de experiências pessoais, são situações que a maioria das pessoas já passaram. Falo de mim e do que sou, que também é o outro, somos nós", finaliza o autor.
Inventário dos seus abraços
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