É manhã em Fortaleza. O céu, limpo, está aberto para que a luz solar ilumine os rostos de jovens que aguardam em uma fila. Aqueles que já estão próximos da entrada e na parte interna do evento não escondem a empolgação pela possibilidade do encantamento por meio da arte. Sem dúvidas, é um dia especial.
"A minha expectativa é grande para que eu possa aprender muito. É uma oportunidade de aprendizado importante, e espero que seja não só para mim, mas para todo mundo que está entrando", prevê a autônoma Vitória Silva, de 22 anos, momentos antes de ingressar no evento.
A ocasião era importante não só para ela, mas para muitos outros jovens que ali estavam. Afinal, para vários aquela seria a primeira vez em que entrariam em uma exposição de arte - e a mostra selecionada era de grande impacto: a exposição imersiva Van Gogh Live 8K, em cartaz no Shopping RioMar Fortaleza até 21 de junho.
Naquele dia, quase 250 jovens de comunidades localizadas ao redor do shopping tiveram a chance de conhecer a mostra do famoso pintor holandês Van Gogh. Deslumbrados, tiravam fotos - de si, dos outros, do ambiente: queriam registrar cada segundo de um momento que poderia ser eternizado não apenas na memória, mas nas lentes dos aparelhos eletrônicos que já os ajudam a imergir em outras histórias cotidianamente.
Na "hipnose coletiva" daquela experiência, os jovens também aproveitavam para serem os panos de fundo das próprias fotos. Era possível ver o encantamento em seus olhares. Se os olhos pudessem falar, passariam horas conversando sobre a força das imagens avistadas desde a entrada no ambiente interno da exposição.
A iniciativa foi promovida pelo Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM) com os rapazes e as moças atendidos pelo instituto. A ação contemplou jovens de 16 a 24 anos, abarcando diferentes realidades e fases da vida enfrentadas pelos jovens alcançados pelo projeto.
Havia quem estava cursando o terceiro ano do Ensino Médio, como no caso de Rhaissa Saraiva. Aos 17 anos, ela busca fazer Administração e é apaixonada por teatro, com a ligação à arte estimulada desde a infância. "Como a minha mãe acha que cultura é uma parte importante da educação, ela sempre me levava para exposições dos artistas que ela gostava", afirma.
Essa foi a sua primeira visita à mostra imersiva de Van Gogh, o que considerou uma "experiência de vida". Para Moisés Oliveira, 22, foi a chance de se conectar com a vida de alguém que viveu em outra época e proporcionou "pinturas lindas". Ele não conhecia as obras de Van Gogh. "Eu aprendi muito ali dentro a respeitar a bagagem de alguém que viveu há tanto tempo atrás", indica.
Moisés também se surpreendeu com a diversidade de trabalhos e com a imersão promovida pela mostra, com cheiros e sons em diferentes espaços. Rian Paulino, 17, também ficou admirado com os quadros do holandês: "Fiquei muito interessado, eu não era muito fã de artes e não conhecia o Van Gogh. É muito bonito. Espero vir mais vezes".
"É a primeira vez que eu venho na exposição de um artista em específico, estou achando bem aconchegante e confortável. Superou minhas expectativas", acrescenta Andrey Ícaro, 17. As cores vibrantes das pinturas foram um dos aspectos que mais chamaram a atenção da estudante Maria Cláudia, 17.
Enquanto os olhos ficavam presos a cada quadro, os ouvidos ficavam atentos às informações sonoras sobre a vida de Van Gogh ao longo da exposição. Não raro era possível encontrar o contraste do silêncio dos jovens com o som proporcionado pela mostra imersiva.
No último espaço da exposição, as interações eram diversas. Os grupos se deitavam no chão, sentavam nos bancos e tentavam aproveitar ao máximo as telas projetadas. Até a dança, aliás, esteve presente naquele momento: uma garota movimentava seu corpo em consonância com a música de fundo, ampliando as compreensões sobre como a arte lhe tocava.
A visita fez parte do projeto "Circuito Cultural", do Instituto JCPM. A iniciativa promove visitas guiadas trimestralmente a locais que passam pela história e pelo patrimônio cultural de Fortaleza. Equipamentos como o Cineteatro São Luiz e o Museu da Fotografia também já foram contemplados.
O IJCPM atende a pessoas de 16 a 24 anos em situação de vulnerabilidade e moradoras do entorno dos empreendimentos comerciais do grupo para "qualificar e preparar os jovens para o mercado de trabalho do varejo", assim como "desenvolver habilidades e competências para a vida".
Coordenador de Projetos Sociais do instituto, Edgard Cruz ressaltou a ação como uma forma de estimular o sentimento de pertencimento aos equipamentos culturais de Fortaleza. "Eles estavam muito eufóricos antes de entrarem na exposição, porque é um equipamento que eles não se sentem pertencentes por serem de periferia e normalmente não terem acesso a isso. Eles adoram quando se sentem parte disso", destaca.
Vitória Silva já conhecia o trabalho de Van Gogh, mas não tinha tido a chance de visitar a exposição imersiva. "Cada obra dele toca a gente de uma forma diferente. Uma retrata alegria, outra um pensamento que deixa a gente refletindo sobre um horizonte tão longínquo, nos desprega da realidade e a gente pode imaginar muitas coisas", define.
Apaixonada pelas cores das pinturas do artista, relata, após sair da mostra, ter se emocionado em muitas obras. Um dia, sem dúvidas, marcante: "Eu vou levar desse dia muito sentimento de família, porque muitas das obras falam do irmão dele e trazem relatos para ele. Você pode ver as expressões, o que ele está sentindo e o amor que sente pelo irmão".
Mostra
Mais de 250 obras do pintor holandês compõem a exposição imersiva "Van Gogh Live 8K". O artista é responsável por quadros como "Noite Estrelada" (1889) e "Os Girassóis" (1889)
Van Gogh Live 8K
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui