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Descartes Gadelha revisita 80 anos de dedicação às artes visuais
Vida & Arte

Descartes Gadelha revisita 80 anos de dedicação às artes visuais

Em homenagem aos 80 anos do artista Descartes Gadelha, o Mauc exibe a exposição "Descartes Griô Profeta". Em entrevista ao Vida&Arte Descartes fala sobre a nova fase
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FORTALEZA, CE, BRASIL,  24-09-2018: Visita guiada na Casa Barão de Camocim a exposição do artista cearense, Descartes Gadelha.  (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)
Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 24-09-2018: Visita guiada na Casa Barão de Camocim a exposição do artista cearense, Descartes Gadelha.

Rostos nordestinos com olhares agonizantes, moribundos, famintos e que gritam por socorro. Assim são algumas das obras de Descartes Gadelha, um grito silencioso no meio da agonia, uma denúncia. A partir do aniversário de 80 anos do artista, que aconteceu no último domingo, 18, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc) exibe a mostra "Descartes Griô Profeta". A exposição tem curadoria do professor do Instituto de Arte e Cultura da UFC Wellington de Oliveira Jr.

Descartes iniciou a carreira artística muito cedo. Foi um jovem autodidata. Ao longo dos anos passeou por vários movimentos artísticos, como o impressionismo e o expressionismo. O artista teve a trajetória marcada pela arte, transitando entre múltiplas linguagens que retratam a miséria, as injustiças sociais e a religiosidade.

Para o professor Wellington de Oliveira, as obras de Descartes são como uma profecia e o artista um grande "profeta". "Não no sentido de aquele que prevê o fim do mundo", mas "como aquele que aponta as misérias do presente, aponta para a ruína e para a catástrofe".

Wellington enxerga a arte de Descartes como uma espécie de "convite" à reflexão e à transformação social. "É um clamor. É um chamado forte. É um ato de esperança. Ele pinta uma Fortaleza, um sertão, uma cidade que é sempre ruína, é puro lixo. É uma obra de denúncia mesmo", arremata o professor.

Em entrevista ao Vida&Arte, mediada pela filha Izabel, Descartes fala sobre a nova fase da vida, avalia a trajetória e explica o porquê de sempre reverberar a sociedade em sua arte.

"A arte é minha grande aliada e mestra nesse caminho"

O POVO - Como é estar chegando aos80 anos?
Descartes Gadelha - Iniciando uma nova fase, um novo ciclo. Sempre com um novo aprendizado, me sentindo também um pouco velho, porém, mais menino que nunca, como uma criança que já tem um certo conhecimento de mundo, na expectativa de experimentar tudo novamente. Afinal, o que envelhece é a matéria.

O POVO - O que esse avançar do tempo desperta em você?
Descartes - Desperta mais o interesse e vontade em me tornar útil, cada vez mais. Uma fase em que também estou me dedicando a cuidar mais da saúde, com novos hábitos e mais calmaria.

O POVO - Você lembra quando pintou o seu primeiro quadro? Como foi?
Descartes - Não me recordo, mas deve ter sido na barriga da mamãe.

O POVO - O que te despertou para abordar as temáticas que você retrata em suas obras? A fome, a religiosidade, a miséria, a injustiça?
Descartes - Como não tenho competência para ser um político e uma pessoa que tenha condições de fazer esse tipo de trabalho assistencialista e tendo em vista essa minha realidade, eu procuro transformar tudo isso em arte, para poder ler, para compreender toda essa situação. Arte para mim é um aprendizado, no sentido não tão estético, mas quase em sua totalidade política. Não consigo transmitir o que sinto de outra forma, assim aprendi a apelar pela arte e na arte me sinto à vontade para fazer meus discursos filosóficos e políticos.

O POVO - Qual foi o trabalho que mais te marcou durante a carreira?
Descartes - O que ainda irei executar. Não consigo parar de criar, de pesquisar, de planejar e executar meus projetos para o futuro.
O POVO - Existe alguma lembrança que te marca profundamente?
Descartes - Toda a minha primeira e segunda infância foi uma fonte grandiosa de sensibilização, como se sabe, a criança está totalmente aberta para assimilar tudo, com muita imaginação e criatividade. Então, como nasci com essa tendência à estética, eu ia transformando aquilo que ia vendo, aquilo que ia vivendo em arte, para poder sentir mais alegria no que via, para sentir mais os olhares, as brincadeiras, as festas e as arraiais no ar. Eu procurava expressar tudo para o campo da estética, para as artes plásticas e para a música também, para poder me aprofundar mais. Não me contentava em apenas observar, eu precisava recriar tudo aquilo que via para poder sentir com mais propriedade, com contundência, achando que assim podia aprender a compreender a vida.

O POVO - Como você definiria sua vida e sua trajetória com a arte?
Descartes - A minha vida é de um aprendiz. Estou sempre quebrando a cabeça para aprender um pouco mais a compreender o sentimento humano. E a arte é minha grande aliada e mestra nesse caminho.

Descartes Griô Profeta

  • Quando: até 4 de agosto. De segunda a sexta, exceto feriados, das 9 às 12 horas e das 13 às 17 horas
  • Onde: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Av. da Universidade, 2854 - Benfica)
  • Gratuito

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