Influenciada em grande parte pelo reality show “RuPaul’s Drag Race”, Kaya Conky se apresentou para o cenário musical cearense em 2016, com o hit “E Aí Bebê”. A drag queen revelou sua paixão pelo pop e funk brasileiro e acabou conquistando a 17ª posição entre os 50 virais do País no Spotify, tornando-se uma das vozes da cena LGBTQIAP+. Com a proposta de explorar a sensualidade e combater preconceitos através de suas canções, a artista lançou em março deste ano o álbum intitulado “Sextape”.
“Eu me sinto muito mais revigorado depois do lançamento desse disco. A mensagem que ele transmite em si é sobre trazer todo esse lance da sensualidade, como algo não tão complexo e não tão distante e proibido, para se tornar algo rotineiro, leve e divertido”, afirma Kaya.
Em entrevista exclusiva ao Vida&Arte, a artista conta que a grande maioria de seu público é LGBT e gosta da rotina em baladas, o que os aproxima da vida sexual, segundo a cantora. Vivendo neste contexto, Kaya debate sobre a exigência, como artista, de trazer sempre reflexões complexas para as faixas.
“Sinto que a galera exige muita seriedade da gente, como se o único propósito fosse trazer coisas sérias ou escrever palavras difíceis. Eu já penso que não. Quero ouvir uma música, rir e se divertir. O ‘Sextape’ é muito isso, ele tenta quebrar essa ideia enrijecida e traz o sexo de forma mais leve, incentivando a sensualidade de cada um.”
Dentre as 11 faixas disponíveis, há feats com Grag Queen, A Travestis, Puterrier e Baile do Gunna. A música “Camarim” desponta como uma das favoritas da cantora. Atualmente, ela acumula mais de 23 milhões de visualizações no Youtube, além de somar mais de 816 mil seguidores em suas redes sociais.
“As letras de ‘Sextape’ começaram como um compilado de situações e experiências sexuais que já me marcaram de alguma forma. Os beats foram surgindo através de misturas e combinações de sonoridades que eu gosto e me identifico, tentando trazer novas vertentes dentro do que eu faço”, revela.
O disco, que está disponível em todas as plataformas digitais, ainda vem acompanhado de um material audiovisual com nove visualizadores inéditos, cada faixa possuindo sua própria identidade.
Conheça Kaya Conky
Natural de Fortaleza, mas residente em São Paulo há quase cinco anos, Igor Ferreira teve seus primeiros contatos com a música como DJ na cidade de Natal, antes de decidir morar na capital paulista. Em 2016, o jovem optou por se aventurar de uma nova forma na música e começou a se produzir, tornando-se conhecido como Kaya Conky. Dona de um setlist com funk e pop, a artista relembra os desafios de quando decidiu deixar de ser apenas DJ para cantar.
"Foi todo um remelexo para as pessoas passarem a me ver como uma pessoa que ia cantar. Tinha uma certa resistência, os valores eram diferentes, o tempo de palco também, antes era 1h30min, e aí virou 40 minutos. Isso gerou uma dificuldade para conseguir trabalhos. Ia naturalmente destacando minha ansiedade, me fazendo questionar se estava no caminho certo", revela.
A cantora acrescenta que se não fosse pelo seu produtor musical (o DJ S4TAN) e por amigas que também entraram no ramo e conseguiram se destacar, provavelmente ela teria desistido. "É muito aquele papo de: tudo que a gente gosta de fazer e coloca nosso tempo, cabeça, e alma naquilo, vai funcionar. Eu percebi que o foco estava na verdade e na minha relação com a música. Desde então, vem sendo uma experiência bem interessante, com muitos altos e baixos, porque já questionei muito minha veia artística, mas é uma jornada gostosa, conseguir expressar sentimentos e traduzir histórias."
Questionada sobre o lado negativo da visibilidade, Kaya chama atenção para a transformação de grande parte de sua rotina em propagandas. "Muita coisa que antes me tocava profundamente, começou a atravessar, assim, no automático. E me sentir na obrigação de viver uma vida que eu esteja transmitindo tudo nas redes sociais…essa coisa de ter que transformar tudo que você vive em produto mexe muito com a nossa cabeça e nos deixa vulnerável", afirma.
Apesar dos percalços, a artista revela que é uma caminhada de muito aprendizado e realização: "Eu me vejo colocando em prática tudo que eu venho vivendo, seja compondo, viajando, cantando, trabalhando na internet, enfim. Me vejo num lugar de muito mais confiança e estabilidade com quem eu sou e com o que eu quero passar para as pessoas.", finaliza.
No repertório, a cantora tem parceria com outras drag queens do cenário pop e funk nacional. Com a goiana Kika Boom, tem o hit "Bomba Kleyton", que acumula 3 milhões de plays no Spotify. Com a drag paulista Lia Clark, lançou a divertida "Boneca Safadinha". Já com Potyguara Bardo produziu "Hit do Carnaval", faixa com metalinguagem sobre a busca por fazer sucesso na folia.
Em 2019, a cearense lançou videoclipe de "Sequência do Bota", ao lado das influenciadoras Rebeca Trans, Danny Bond e Samira Close. O vídeo é inspirado no mundo dos games.
Vida&Arte Convida
Confira a entrevista completa com Kaya Conky na seção Filmes e Séries do O POVO+
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