A obra "Nossa Taba - Crônicas do Cotidiano Reriutabense", de João Rodrigues, remonta histórias vividas na infância e mocidade do autor. Por meio da memória, o escritor revive histórias compartilhadas por muitos moradores da pequena cidade de Reriutaba, localizada no interior do Ceará, a cerca de 280 km de Fortaleza. A coletânea de crônicas será lançada no próximo dia 5 de julho, na Praça da Matriz de Reriutaba.
Nascido e criado no município, João Rodrigues conta que, desde a faculdade, tem uma intrínseca ligação com a literatura. Cursou letras no Rio de Janeiro e em 2003, ainda no início da jornada acadêmica, um professor o incentivou a participar do primeiro concurso literário. Nunca mais parou. Crônicas, poemas e cordéis passaram a fazer parte do seu cotidiano. Encontrou seu refúgio no meio da escrita. Foi assim que ele escreveu o seu novo livro, uma obra repleta de crônicas com doses de poesia.
O autor conta que o desejo de escrever sobre as memórias da terra natal surgiu há sete anos. Foi escrevendo aos poucos, até finalmente selecionar 27 crônicas que falam de pessoas, lugares e momentos marcantes que fazem parte das memórias afetivas de toda uma geração.
"Reriutaba é minha cidade e eu tinha muita vontade de registrar isso, até porque são locais e pessoas com as quais eu convivi e que, para mim, tiveram importância", destaca.
Ele conta que a pandemia acabou atrapalhando os planos de lançamento, mas continuou a escrever e agora, em 2023, o momento não poderia ser mais propício: a cidade completa 100 anos de emancipação política. A obra será a forma do escritor prestar uma homenagem.
As histórias contadas por João correram o País, uma delas, "O Vendedor de Picolé", chegou a ganhar o primeiro lugar em um concurso em 2022. "Eu queria colocar Reriutaba na roda da literatura, porque tem algumas pessoas que escrevem aqui, mas ainda é pouco", analisa.
O autor ressalta que mesmo antes do lançamento, que ocorre no dia 5 de julho, alguns conterrâneos já tiveram a oportunidade de ler coletânea de memórias escritas. O cronista afirma estar contente com o "retorno positivo" que as pessoas dão ao
se identificarem com as histórias que relembram a própria trajetória, lugares visitados e personagens que faziam parte da vida de todos, como o carteiro Tatite, a dona Graça, o contador de histórias Zequinha, o vendedor de picolé Pirital, dentre tantos outros.
"Eu me sinto feliz porque são pessoas simples que estão se encontrando ali em alguns personagens. Alguns personagens ainda são pessoas vivas. Eu fico satisfeito porque essas pessoas estão revivendo lembranças, estão se sentindo parte da cidade", festeja.
"Achei interessante que teve um dia que eu cheguei na escola e estavam dois garotinhos do segundo ano esperando com uma folhinha de papel [na mãos]", ele conta que ficou tocado ao ver que na folha continha um desenho, como se fosse a capa do livro "Nossa Taba".
Para ele o gesto foi marcante porque eram crianças que ainda não tiveram aulas com ele, que só ensina a partir do sexto ano, e isso demonstra o afeto e o reconhecimento dos pequenos com a obra.
Segundo ele, as pessoas/personagens ficam felizes ao saber sobre o êxito do livro, algumas chegam a perguntar se a obra já saiu do Brasil. Embora tenha sido em poucas quantidades isso é celebrado por essas pessoas.
"A partir do momento que eu falo de Reriutaba, que eu falo do povo de Reriutaba, essas pessoas se sentem inseridas ali e de certa forma ficam orgulhosas também", pontua.
Uma das felicidades de João é poder dividir suas narrativas com os alunos. Como um bom professor, ele tem sede em ensinar, e falar sobre as origens de um lugar, e a importância dos ancestrais, para ele é fundamental.
O cearense fala que usa as crônicas para realizar debates e rodas de conversa em sala de aula. Ao ler as memórias do professor, os alunos se empolgam nas discussões e mergulham em uma Reriutaba diferente da que eles conhecem.
O livro funciona como uma maneira lúdica de ensinar um pouco da história da cidade, não só para os jovens, mas para todos aqueles que não conhecem, mostrando a importância de lugares e de pessoas que outrora construíram as narrativas do município.
Como o autor explica no livro, Reriutaba significa a "Casa dos Reriús", povos indígenas que há muito tempo ali viveram, antes mesmo da chegada do homem branco. Naquele solo, entre a serra e o sertão, se estabeleceu uma população "forte, alegre e cheia de histórias" que João se empenha em contar.
"Ah, Reriús, como me orgulha ter em minhas veias teu sangue, ter sobre o meu corpo a tua pele, poder pisar onde pisaram os teus pés, poder dormir onde repousaram teus corpos, que agora jazem misturados ao pó de nosso chão", escreve o autor em um dos trechos da crônica "Nossa Taba", que inaugura o livro.
Lançamento do livro "Nossa Taba"
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