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Moda e Tecnologia: Uso de Inteligência Artificial entra em debate
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Moda e Tecnologia: Uso de Inteligência Artificial entra em debate

O uso de inteligência artificial em processos de produção na indústria da moda entra em debate sobre o futuro do segmento
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Foto: Divulgação Coleção "Crochet Dream" de Rebeca Melo, criada utilizando Inteligência Artificial (IA)

Há muitos debates sobre Inteligência Artificial. A tecnologia possibilita o desenvolvimento de sistemas capazes de realizar atividades que normalmente exigem inteligência humana, através de dados e algoritmos que permitem solucionar problemas e decisões. A IA já está presente em áreas como saúde, finanças, educação e, há alguns anos, vem sendo usada na moda.

No Met Gala de 2016, por exemplo, o uso da Inteligência Artificial foi visto ao vivo e a cores no tapete vermelho do evento. A modelo Karolina Kurkova surpreendeu ao usar um vestido cognitivo preenchido por LED e que mudava de cor de acordo com emoções humanas. Colaboração da IBS com a Marchesa, a peça contava com inteligência artificial para identificar sentimentos humanos por meio de interações de usuários do Twitter ao comentarem sobre o Met Gala daquele ano.

"A moda sempre buscou pensar as mudanças culturais ligadas às novas gerações e, para isso, está sempre se apropriando das inovações que surgem dos movimentos no campo da arte e da tecnologia, incorporando-os nos seus processos criativos e produtivos. Sem perder sua ligação com o passado, está sempre mirando o futuro. Assim, nada mais natural do que a inteligência artificial (IA) estar ocupando cada vez mais espaço nos processos criativos, propiciando novas possibilidades na criação, fabricação e venda dentro do mundo da moda", declara Fernando Maia da Cunha, pesquisador e professor do curso de Design-Moda da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em muitos segmentos, o avanço da IA é visto com certa preocupação. Muitos profissionais temem que a tecnologia possa substituir funções humanas, mas, para Fernando, a inserção da inteligência artificial na produção têxtil pode ser benéfica. "Não percebo como risco, mas sim como mais uma ferramenta que vem a contribuir nessas etapas dentro da indústria da moda. Além do mais, atua de várias formas como pesquisa de dados, análise de tendências através dos seus bancos de dados, resolução de problemas viabilizando mais rapidamente os testes, automação e economia de material, auxílio no processo criativo baseado nas tendências nos nichos que mais crescem filtradas por cor, tamanho, modelo, cultura, inovação propiciando uma maior eficácia e uma produção mais sustentável", pontua.

O estilista Bruno Olly acredita que mesmo a produção autoral pode ser beneficiada com a IA. "Por exemplo, ela pode ajudar os designers a explorar novas formas, padrões e combinações de cores, oferecendo uma fonte infinita de inspiração", destaca. "No entanto, é importante ter limites no uso da IA na moda autoral. É essencial que os designers mantenham sua autenticidade e identidade criativa. A IA deve ser vista como uma ferramenta auxiliar, não como um pretenso substituto ao talento humano", reforça.

Estilista cearense cria coleção com IA

O "sonho de crochê" da estilista cearense Rebeca Melo saiu do imaginário e ganhou representação em imagens através da inteligência artificial. Com a onda de criação de figuras utilizando IA, a designer apresentou nas redes sociais a elaboração da coleção "Crochet Dream" usando da tecnologia.

"Eu amo trabalhos manuais, porém sempre me encantei com o universo da tecnologia. No momento, eu estudo e desenvolvo ilustrações e peças de vestuário em programas 3D. Quando surgiu a onda de criar imagens através da IA, me interessei de imediato, pois a praticidade de desenvolver o conceito de uma coleção em questão de minutos auxilia bastante no processo criativo", conta.

Para criar a coleção, a estilista realizou pesquisas para estabelecer um conceito e se inspirou na própria infância. "Busquei resgatar as raízes da minha infância quando a minha avó fazia peças em crochê pra mim e pra minha irmã", relata. "Além de amar trabalhos manuais desde sempre, o crochê também faz parte da cultura cearense, e é um encanto desenvolver peças únicas com o trabalho das mãos", ressalta.

Com o conceito, cartela de cores, formas e inspirações definidas, Rebeca alimentou um programa de IA, o MidJourney, com palavras e imagens, utilizando o crochê como ponto inicial, e obteve os resultados: imagens que mais parecem fotografias, transformando uma ideia que antes só existia dentro de sua mente em algo que agora qualquer um pode visualizar. "A maior vantagem é poder conceber imagens com uma rápida velocidade, aquilo que antes só estava ali na sua mente. Ela é um facilitador na hora da criação, não substitui o conceito pensado, o talento do idealizador e, posteriormente, a confecção das peças. Você já consegue visualizar o resultado sem precisar investir tanto tempo desenhando tudo do zero", pontua.

No entanto, ela acredita que a utilização exacerbada da tecnologia pode trazer malefícios. "A desvantagem que eu vejo no uso dessa ferramenta de forma desenfreada é que corre-se o risco da supervalorização dessa prática, deixando o manual, o real/humano e palpável de lado, fora o surgimento de 'novos artistas' que não têm um background criativo, não tem história e estudo, talento de fato, o que, na minha opinião, é bem perigoso", destaca.

Agora, a estilista tem planos para confeccionar as peças com o auxílio de uma associação de crocheteiras.

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