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Pedro Bandeira e a arte de fotografar nosso tempo pelas palavras
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Pedro Bandeira e a arte de fotografar nosso tempo pelas palavras

Pedro Bandeira lança "Tutifruti: Venha Para a Feira da Alegria", obra voltada para crianças em fase de pré-alfabetização
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Pedro Bandeira é autor 
com amplo acervo infatojuvenil  (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Pedro Bandeira é autor com amplo acervo infatojuvenil

Pedro Bandeira está com livro novo para crianças: "Tutifruti: Venha Para a Feira da Alegria" (Moderna). O autor de "A Droga da Obediência" e de vários outros sucessos com os personagens da turma "Os Karas", lidos por muitas gerações de pré-adolescentes brasileiros, tem preferido escrever para os pequenos leitores.

Aos 81 anos, 130 livros no currículo e nada menos do que 29 milhões de exemplares vendidos, ele fala, nesta entrevista, sobre infância e incentivo à leitura, o cuidado que devemos ter com o nosso "lado emocional", censura, leitura sensível e revisão histórica. (Agência Estado)

- O senhor está escrevendo mais para criança ou para adolescente?
Pedro Bandeira - Neste momento, mais para crianças porque eu tinha pouca coisa para elas. Mas tem outra razão: é de pequenininho que se torce o pepino. Se a gente puder botar o livro, bons e agradáveis, na mão das crianças pequenas, dos bebês, elas têm mais chance de chegar na adolescência já sendo um leitor.

- As crianças e os adolescentes de hoje são iguais aos de quando você começou?
Pedro - Qualquer criança adora ouvir uma história. Aliás, qualquer adulto adora ouvir uma história. Nós colocamos a culpa do pouco amor do nosso filho pela leitura no videogame, no celular. O menino está lá no celular, o pai chega do trabalho e fala: 'Filho, vamos jogar bola com o papai?' Ele não larga? Claro que larga. Ele prefere o pai em primeiro lugar. O pai não diz: 'Olha o livrinho que eu trouxe, vamos ler juntos?'. Ele não faz isso. A culpa é do videogame? A culpa é sempre nossa. A culpa é da família.

- Há um movimento hoje, no mercado editorial, de 'leitura sensível', feita por alguém que vai identificar se aquele conteúdo pode agredir alguém ou algum grupo, se tem alguma coisa que vai gerar polêmica. Acontece com livros novos e com clássicos. Aconteceu com Lobato, e recentemente com Roald Dahl. Como o senhor vê essa revisão da literatura?
Pedro - A história é a história e está lá. Você pode se aprofundar e a literatura ajuda até a entender a história. Ela fotografa o seu tempo. Como se pode censurar Os Irmãos Karamazov, que é a história de uma família se destruindo? 'Não, a família não pode se destruir', então não se pode ler "Os Irmãos Karamazov", "Crime e Castigo". O sujeito mata duas velhinhas a machadada. 'Como? Tem que proibir esse livro'. Como podemos ser donos da história? Como podemos ser donos da literatura? Quem tem o direito de mexer no Dahl? Eu, por exemplo, gostei muito do "Tarzan". Mas ele é um branco, que vive na floresta, nu, e domina a floresta inteira. Quer dizer, os brancos dominando toda a África. É o livro mais colonialista que você vai ler. Só por isso, virei colonialista? Agora, Lobato tem um livro que eu execro: "Caçadas de Pedrinho". Os meninos saem para matar uma onça. Na época, para um fazendeiro como ele foi, uma onça era algo perigoso porque invadia e matava os bezerros. Era preciso se livrar dela. Mas, hoje? A onça é o animal mais lindo do mundo, você tem vontade de abraçá-la de tão bonita que é. Temos que protegê-la. Então, eu não daria esse livro para o meu filho - dei "Reinações de Narizinho".

- Existe outro movimento, mais forte hoje nos EUA, de censura a livros. São pais, grupos, políticos que se organizam na tentativa de tirar alguns conteúdos das bibliotecas e das escolas.
Pedro - Tirar um livro de uma biblioteca é acreditar que se pode apagar a história. Apagar o passado. Hitler queimou pilhas de livros, dos maiores autores do mundo, e estão todos aí. É impossível apagar a História. É impossível apagar a literatura.

- O senhor passou por isso com "A Marca de Uma Lágrima", em 2016, quando a mãe de uma aluna de Belo Horizonte se incomodou com o livro indicado pela escola.
Pedro - Não foi só essa vez. Já tive casos de censura de pais muito grandes. Principalmente com os livros sobre adolescência quando vou escrever, tenho que escrever para o meu leitor - e não para o professor, nem para o acadêmico ou para o crítico. Nem para os pais. Escrevo para os filhos deles. E os filhos deles estão vivendo uma série de coisas. Tenho que colocar a realidade do meu leitor.

- O que é o Tutifruti?
Pedro - É um livro para bebês de colo até a pré-alfabetização. É a fase do animismo, em que o ser humano acredita que tudo tem vida. Isso é fundamental nessa idade. Imaginei fazer um livro antropomorfizando legumes, frutas e verduras.

"Tutifruti: Venha para a Feira da Alegria"

  • Editora Moderna
  • 48 páginas
  • Quanto: R$ 65

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