No dia 6 de agosto de 1945, às 8:15 da manhã, a cidade japonesa de Hiroshima foi o primeiro alvo oficial de um ataque do governo americano, que visava acabar com a segunda guerra mundial de uma vez por todas. A bomba com poder de cerca de uma tonelada de TNT matou cerca de 70.000 pessoas instantaneamente, deixando um grande "cogumelo" feito de fumaça com 18 km de altura. Surpreendendo e assustando o mundo com tamanho poder.
Menos de trinta dias antes disso, o cientista americano J. Robert Oppenheimer dizia, com temor em sua voz, a seguinte frase: "Agora eu me tornei a morte, o destruidor de mundos". Logo após ver o teste funcional do que seria conhecido pelo mundo como: bomba atômica.
Christopher Nolan já é bastante conhecido por seus vários longas. Desde filmes de super-herói ("Batman O Cavaleiro das Trevas" 2008), a longas com viagem no tempo (Tenet 2022; Interstellar 2014) o diretor, sem dúvida, já deixou sua marca no cinema. Mas é em "Oppenheimer" que Nolan mostra que elevou seu próprio patamar a outro nível.
Indo além da "cinebiografia" e usando toda a grandeza da tela de cinema para contar esse momento histórico de forma avassaladora e intimista. Desde a descoberta dos cientistas alemães em 1938, sobre a fissão nuclear, até o arrependimento do homem responsável pela invenção que pode, literalmente, causar a destruição da raça humana.
O filme conta momentos distintos da vida de Robert Oppenheimer (Cillian Murphy - "Peaky Blinders" 2013), que variam desde sua juventude como estudante de física e química, até sua aposentadoria. Mas mantendo o foco na invenção da bomba atômica, tudo em volta dela e as consequências da mesma.
Aqui a montagem e fotografia trabalham em conjunto para situar o espectador em cada momento da história. O que pode parecer confuso de início, mas logo faz com que quem está assistindo se sinta imerso na narrativa.
Nolan nos faz entender todas as motivações por trás da escolha de Oppenheimer ao aceitar o trabalho de construir a primeira bomba atômica. Mostrando também que esse não foi um trabalho de alguns poucos cientistas, e sim de uma cidade inteira deles. E que ao contrário do que muitos podem esperar, o protagonista era alguém com convicções políticas que diversas vezes não condiziam com a do governo dos EUA. Convicções essas que o fizeram sofrer diversas consequências políticas, mesmo com o "sucesso de sua invenção"
A fotografia, feita por Hoyte van Hoytema, surpreende desde o início. Dividindo o filme entre cenas preto e branco e coloridas, que tem como artifício ilustrar momentos diferentes da história, Hoyote consegue transmitir o que cada momento das três horas de longa passa.
Seria exagero dizer que o longa não possui qualquer CGI, pois claramente tiveram retoques de efeitos visuais no filme. O que definitivamente não é um problema. Porém o que Nolan e seu diretor de fotografia fazem para retratar momentos como a explosão da bomba teste, ou até mesmo pensamentos de Oppenheimer, simulando teorias de fisica em sua mente, durante o filme, seduz e assusta o espectador ao mesmo tempo. A perfeição e riqueza de detalhes é tanta e chega a ser difícil acreditar que aquilo é apenas uma reprodução ilustrativa daqueles momentos.
Um dos momentos mais marcantes do filme, a explosão da bomba, mostra bem isso. Os detalhes de fogo e fumaça são filmados conta tanta perfeição que não só vemos eles, mas quase os sentimos.
Os detalhes audiovisuais do longa não ficam para trás. Ricos em detalhes, fazendo com que possamos acreditar estar escutando a divisão de cada atômico presente naquela tela. Existem momentos que são tão grandiosos, no quesito audiovisual, que chegam a causar certa aflição no espectador, devido sua intensidade. Outro destaque nesse quesito é o trabalho de trilha sonora de Ludwig Goransson ("Pantera Negra" 1999 e "The Mandalorian" 1999), que transmite toda a grandeza que Nolan trás para essa história imponente e tão rica em detalhes. Equilibrando perfeitamente a presença e ausência de som, nas horas certas, durante todo o filme.
Que Nolan é um ótimo diretor de atores, isso não é novidade. Mas, mais uma vez, é em "Oppenheimer" que ele mostra estar cada vez mais eficaz em suas escolhas de elenco. Cillian Murphy dá vida a Oppenheimer de maneira inquestionável e transparece todas as nuances e contradições desse personagem histórico que liderou o Projeto Manhattan (Nome dado ao projeto de pesquisa e desenvolvimento da bomba atômica).
Exibindo desde seus pensamentos mais sombrios e geniais, até sua intimidade familiar. Sem tentar pintar o protagonista como um homem perfeito, muito pelo contrário. Nolan faz questão de exibir os diversos defeitos e contradições que ele pode ter.
Mas é Robert Downey Jr. ("Vingadores Guerra Infinita" 2018) que tem total destaque quando a atuação é o assunto. Downey Jr. está quase irreconhecível interpretando Lewis Strauss, e não seria exagero nenhum se ele ganhasse um Oscar por este papel. Robert é tão sólido no que está fazendo que não entrega nem por um segundo antes do necessário o papel real de seu personagem na trama.
"Oppenheimer" com certeza fala sobre a construção da bomba atômica, mas vai muito além disso. Feroz e intimista, o filme constrói sua história de uma forma intrincada e traz, mesmo que de forma moderada, muitas críticas ao projeto Manhattan como um todo e tenta transmitir todo remorso que o homem que "entregou o fogo dos deuses" para os homens sente após isso. Com um ritmo intenso até o último momento, onde nolan apaga as luzes de forma assustadora.
oppenheimer
Estreia nos cinemas na quinta-feira,20. Salas e sessões em ingresso.com
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Saiba mais sobre “Memórias do Medo” clicando aqui