Negócio da China
Em 2018, um ano após percorrer parte da América Latina modelando, a jovem recebeu uma proposta ousada: modelar durante seis meses na China. Na época com 18 anos, Rayanne aceitou o desafio, mas teve dificuldade. "Eu não conseguia trabalhar. Eu fazia os casting e não era aprovada", desabafa.
A principal questão era que o manequim dela estava acima do esperado pela agência. Ela vestia 52, enquanto a agência esperava de 44 a 46. A dificuldade foi agravada pelo fato de estar sem familiares ou amigos, vivendo em uma cultura totalmente diferente.
"Faça o que tem que ser feito, dê o seu melhor. Se você não se sentir bem, volte, sua casa tá aqui lhe esperando", aconselhou a mãe, após a agência sugerir quebrar o contrato com a brasileira.
Foi a partir dessa conversa que Rayanne mudou o olhar sobre o cenário. "Aquele dia foi uma virada de chave na minha vida", revela. Depois disso a jovem emagreceu 14 quilos, aprendeu a se comunicar melhor em inglês e se dedicou ainda mais aos treinos de pose. Passou por algumas experiências profissionais e foi ficando no país, chegando a prestar serviço para a famosa marca Shein. Ela brinca ao lembrar que, antes do convite, chegou a fazer 12 testes para a Shein, sendo recusada em todos. Contudo, dois anos depois, finalmente foi aprovada no casting.
A parceria com a multinacional abriu uma série de novas oportunidades. Após três anos na China, resolveu tirar férias no Brasil no início de 2020, pouco antes de estourar a pandemia do Covid-19. Acabou ficando
no Ceará.
Moda para todos os corpos
Rayanne relembra que quando começou a trabalhar como modelo plus size o padrão de corpo para as modelos era diferente. O exigido, segundo ela, eram mulheres que vestissem do número 44 até, no máximo, 48.
Ao tocar nesse assunto, Rayanne ressalta a rotina intensa de uma modelo, precisando mudar rapidamente de roupa diversas vezes, andar de salto durante horas, além de manter uma rotina de treino e alimentação equilibradas. "É mais do que ser só um rostinho bonito", explica.
Ela acredita que foram as influenciadoras digitais que realmente mudaram esse modus operandi, mostrando que o padrão precisava ser reformulado: enquanto antigamente as modelos que vestiam 44 a 48 eram chamadas de plus size, hoje, essas passam a ser chamadas de mid size.
"Existem vários tipos de corpos e a moda deve abraçar todos eles", ressalta, destacando a importância da luta pela representatividade na moda.
Mas Rayanne também se preocupa em não deslumbrar essas jovens modelos. Ela relata buscar não mostrar apenas o "glamour" mas também a rotina de trabalho real de uma modelo. "Não é fácil. Existe estudo, amadurecimento, compromisso", explica. Ela destaca ainda a importância da profissionalização da atividade e dos cuidados com os "perigos do mercado da moda".
Com o currículo repleto de trabalhos como modelo na América Latina e na Ásia, Rayanne revela que tem o interesse de trabalhar também na Europa e que já está estudando formas de viabilizar isso. "Queria muito!", disse animada ao falar de seu novo sonho.
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