É provável que você já tenha repetido as palavras da música "Para Tirar Coco", do cantor Messias Holanda, em alto e bom som no meio de alguma farra. A composição do cearense tem o necessário para grudar na cabeça do ouvinte: boa melodia e letra simples. As características dão versatilidade ao tema e fazem com que o mesmo seja tocado tanto no Carnaval, quanto no São João, as duas maiores festas populares brasileiras.
Esses critérios foram indispensáveis para que ela integrasse o álbum “Carnaval Chanson”, décimo trabalho da Banda Eddie. O grupo lança o primeiro disco de não inéditas nas plataformas digitais e dedica o produto fonográfico às releituras de clássicos carnavalescos - marchinhas, frevos e fanfarras -. "De certa forma ela é uma música mais contemporânea do Carnaval tradicional. Tem uma letra curta, com rimas, que nunca está no sentido literal e preenche a imagem das pessoas", conta Fábio Trummer (voz e guitarras), integrante do coletivo ao lado de Alexandre Urêa (percussão e voz), Andret Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria).
Assim como o forró emblemático, as outras 12 faixas que compõem o álbum foram escolhidas num processo de mergulho nas representações imagéticas da data festiva. Ao se considerar um “folião e voyeur” da festa, o vocalista retornou aos sentimentos dos bailes iniciais da juventude. "É um universo que a gente convive desde as primeiras memórias", expressa Trummer. A nova roupagem produzida em conjunto com Samuel Mota trouxe, ainda, algumas modificações. Agora, o foco está nas construções que existem por trás de cada uma das canções. "A gente quis mudar o tradicional e trouxe a letra e a poesia para a frente neste trabalho. Uma maneira de conseguir atingir, através das músicas de Carnaval, um período mais amplo e não-sazonal", destaca.
Lançar um frevo carnavalesco em pleno mês de julho, por exemplo, é entender e atestar que a música pode ser o que bem quiser. "O disco foi bom para a gente praticar essa ideia que você pode vestir as músicas como queira. Mexer com clássicos é muito difícil e a gente foi com todo o coração, sabendo que se a gente sentisse que não representava, ela não entraria", condensa. Desta forma, o ouvinte pode se deparar com uma versão de "Frevo nº1 do Recife" (1951), de Antônio Maria, e "O Homem da Meia-Noite" (1975), composta por Alceu Valença. Já Moraes Moreira (1947 - 2020) é retratado por "Casa Amarela" (1985). Ainda é possível escutar hino de blocos como "Batutas de São José", "Ceroula", "Cariri" e "Segurucu".
Além do quinteto, as vozes das cantoras Karina Buhr e Isaar compõem a obra. "Existe essa afinidade musical, elas conhecem bem a nossa música e nos conhecem muito bem. Elas chegam como pessoas que estão dentro da casa, não é uma participação, elas interagem o álbum inteiro". Desde a primeira escuta é possível captar a essência da banda criada em 1989, traduzida numa narrativa que tem como base o amor à folia momesca. Após consolidar espaço na cena musical do País, Eddie matura o estilo simbólico de "Olinda Style" - trabalho que completa duas décadas neste ano - oriundo do movimento manguebeat e expande esta fusão artística que já passou pelo rock, reggae, samba e, claro, frevo.
"É a história da banda, das nossas tentativas e erros, da nossa composição. Tem essa necessidade de fazer algo novo, um álbum diferente cai muito bem. A audição hoje está muito fragmentada e as pessoas não ouvem mais discos. Em 'Carnaval Chanson' há uma motivação para se ouvir inteiro", acredita Fábio. Também está presente, de certa forma, uma vontade de celebrar do jeito que for possível, seja subindo ou descendo as ruas em meio ao frenesi carnavalesco ou na melancolia do fim das quartas de cinza. "O feedback que está chegando é que o disco está abrindo a gaveta do Carnaval dentro das pessoas, embora tenha ritmos variados. Dá vontade de botar sua fantasia. Que bom! Música bacana é aquela que toca, dessa maneira, as pessoas".
"Carnaval Chanson"
Onde escutar:
YouTube e Spotify
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