Logo O POVO+
Morre Rogério Mesquita, ator e produtor do premiado grupo Bagaceira
Vida & Arte

Morre Rogério Mesquita, ator e produtor do premiado grupo Bagaceira

Um dos fundadores do premiado grupo Bagaceira, o ator, diretor e produtor cearense Rogério Mesquita deixou legados na luta teatral
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
 ator e produtor Rogério Mesquita (e) em cena. Ele dedicou mais de 25 anos aos palcos    (Foto: Joyce Vidal/Divulgação)
Foto: Joyce Vidal/Divulgação ator e produtor Rogério Mesquita (e) em cena. Ele dedicou mais de 25 anos aos palcos

“O mundo da arte ficará mais pobre”. “A arte perde um grande artista!”. “Obrigado pelos ensinamentos e por sua grande contribuição para as artes cênicas da nossa querida capital alencarina”. Os comentários deixados em publicações no Instagram que comunicaram a morte do ator cearense, diretor e pesquisador de teatro Rogério Mesquita foram apenas algumas das diversas mensagens direcionadas ao artista.

Para além do lamento pela sua partida, todas tinham algo em comum: a demonstração da importância de Mesquita para o teatro cearense. Amigos, grupos de teatro e admiradores ressaltaram a relevância de sua trajetória, como uma forma de eternizar um legado que certamente permanecerá para a cena. Rogério morreu na última sexta-feira, 4. Ele estava enfrentando problemas renais nas últimas semanas.

Um dos fundadores do Grupo Bagaceira, ele também era gestor do teatro independente Casa da Esquina, que funcionava como casa do coletivo. Seu nome também ficou marcado pela sua atuação à frente da luta por melhores condições de trabalho para a Cultura e por um teatro com críticas a problemas sociais.

Dos seus 43 anos de idade, mais de 25 foram dedicados às artes cênicas. Sua carreira reuniu trabalhos apresentados não apenas no Ceará, mas em outros estados brasileiros. Estreou em 1997, na peça “As Novas Aventuras de Pedro Malasartes”, dirigido por Walden Luís. Em 1999, foi aluno do Curso de Princípios Básicos de Teatro (CPBT).

Com o falecimento de Mesquita, o curso cancelou as aulas que seriam realizada na última sexta-feira, 4. O artista também foi curador do Teatro Dragão do Mar, da Maloca Dragão e da Temporada de Arte Cearense (TAC). Sua carreira também inclui trabalho no Circula Ceará, em 2022, como produtor das artes cênicas do projeto do governo estadual.

Recentemente, em fevereiro, o dramaturgo estreou com o coletivo Patuleia Criativa a peça "Gratiluz - Uma Tragédia". O trabalho em conjunto com Luisa Torres e Isabella Cavalcanti é uma sátira sobre positividade tóxica no ambiente de trabalho. Outros espetáculos de sua carreira incluem "Interior" e "Fishman".

Nas redes sociais, diversos perfis manifestaram condolências e lamentaram a perda do ator. Secretária da Cultura, Luisa Cela pontuou a importância de Mesquita para a cena: "Que notícia triste. Um grande nome da arte cearense. Meus sentimentos aos familiares e amigos".

O Fórum Cearense de Teatro lembrou da dedicação de “grande parte da sua vida ao Teatro e à produção cultural no Ceará”, destacando como Mesquita foi, desde muito cedo, “uma pessoa atenta não só à sua própria trajetória no teatro como ator, produtor, pesquisador, dramaturgo e diretor”. Ele também contribui para as formulações do Fórum e da cultura do teatro de grupo do Ceará e do Brasil.

“Um apaixonado historiador do teatro do Ceará, artista e produtor inspirador, referência para muitas gerações. Rogério Mesquita é sinônimo de gente de teatro! Você fará muita falta, companheiro, mas, nas resoluções, no humor, na sabedoria e no imenso amor ao teatro, você segue conosco! Mais que uma despedida, esse é um sonoro muitíssimo obrigado, do Fórum Cearense de Teatro”, se solidarizou o Fórum.

Uma das integrantes do Bagaceira, a atriz, diretora e cantora Tatiana Amorim destaca quão fundamental Rogério Mesquita era para o grupo. No tripé que segura o coletivo (com a produção, a dramaturgia e a direção), Rogério tinha papel imprescindível na parte de produção.

“Nós sempre achávamos que quando um desses pilares não funcionava, o Bagaceira não funcionava. O Rogério era a razão do grupo, enquanto o Rafael Martins era o coração e o Yuri Yamamoto era o sangue que corria nas veias do coletivo. O Bagaceira só se tornou o que é hoje porque tinha o Rogério à frente, um cara visionário, muito articulado e conhecedor de leis e projetos”, pontua.

A postura do artista enquanto gestor era uma das principais características de sua carreira, como avalia Tatiana. Esse lado, aliás, por vezes prejudicou seu lado enquanto ator, porque “acabava se doando tanto na parte burocrática que não tinha tempo para trabalhar como ator”, opina Amorim.

No campo de luta pelo teatro, ele foi muito importante para buscar melhores condições de trabalho e editais mais próximos da realidade dos artistas cearenses, junto com nomes da cena teatral do estado como Silvianne Lima, Nelson Albuquerque, Herê Aquino e Fran Teixeira.

A bailarina, coreógrafa e atriz Silvia Moura reforça a postura política de Rogério Mesquita à frente do teatro. “Ele sempre esteve ao lado das lutas do Fórum de Teatro, do Fórum de Linguagens Artísticas e de tantos outros movimentos que puxamos, além de ser uma pessoa muito crítica, que não ‘fazia de conta’ que não havia problemas. É uma perda muito grande, não só como uma pessoa de teatro, mas enquanto um amigo”, lamenta.

A artista pontua como ele e o grupo Bagaceira deixaram “contribuições enormes” para a cena, com forma inovadora e com um “brilho muito particular” de fazer teatro. “Rogério era uma peça fundamental e contribuiu muito com produções e com sua força de criação. Era uma pessoa incrível e um artista brilhante, sempre inquieto e com tantas coisas para dizer”, acrescenta.

Para a atriz e diretora Juliana Veras, Rogério Mesquita foi exemplo de “um batalhador pela força do teatro de grupo” em Fortaleza. Ela relembra quando o cearense esteve na produção do espetáculo “Orlando”, do Grupo de Teatro Expressões Humanas, que tinha Veras no elenco. Em 2019, a peça circulou por Belo Horizonte (MG), São Luís (MA) e Belém (PA).

Ela reforça como Rogério lutava por melhorias para o teatro e como a Casa da Esquina foi importante para outros grupos de Fortaleza: “Em uma cidade na qual muitas vezes a gente depende das políticas de edital e em vários anos carece de lugar para apresentação, ele sempre acolheu não só o pessoal do teatro, mas do cinema também, que utilizava a Casa da Esquina para ensaiar, fazer seus projetos, ou seja, espetáculos que foram montados lá”.

Tatiana Amorim avalia que Rogério Mesquita será estudado por muitos anos: “Ele, que tanto estudou História, vai ser citado sempre nos livros como um dos grandes articuladores e gestores desse fazer teatral. Era uma pessoa generosíssima e apaixonada por teatro. Ele lutou até a morte por essa paixão, mesmo em todas as crises financeiras que o Bagaceira passou, ele nunca deixou de lutar e acreditar. Ele chegou a morar na Casa da Esquina justamente por acreditar nesse sonho e batalhou até a morte. É isso que ele vai deixar: essa luta e devoção ao teatro”.

Peça
Peça "Fishman", do Grupo Bagaceira de Teatro

Articulador de palcos e coxias

O Ceará pode se orgulhar por ostentar uma classe teatral criativa, talentosa e consciente do papel social que desempenha. Essas qualidades tão marcantes da nossa cena sempre estiveram vivas na trajetória de Rogério Mesquita. Em 25 anos de carreira, o ator e produtor foi um símbolo no palco e nas coxias, um grande articulador. Ele costurou presentes e futuros.

Roger teve a coragem de lutar por condições dignas de trabalho para os profissionais da cultura e sustentou a confiança no potencial da construção coletiva. Não à toa, apesar de ter fincado raízes do Grupo Bagaceira, Rogério desenvolveu muitas pontes entre diferentes companhias teatrais e artistas de linguagens diferentes.

Foi sincero, brigou, bateu de frente, reclamou, expôs dificuldades da classe, tudo em prol do melhor para ele e para seus pares. A marca deixada seguirá reverberando forte aqui. Parafraseando texto escrito para o filme "Inferninho" (2018) por Rafael Martins, amigo e também fundador do Bagaceira: "A gente não vai deixar tu morrer, Rogério".

Memórias do Medo: confira o trailer do novo filme do O POVO+:

Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Saiba mais sobre “Memórias do Medo” clicando aqui

O que você achou desse conteúdo?