“É um teatro de afetos. Sempre foi um teatro de afetos”, discorre Carri Costa sobre o Teatro da Praia, criador e um dos administradores do espaço. Celebrando 30 anos, o equipamento reabre as portas, após dois anos, em um novo endereço – localizado agora na avenida Monsenhor Tabosa.
O fechamento do espaço, no local anterior, ocorreu em 2021. A situação começou a se desenhar quando os proprietários do antigo imóvel do teatro solicitaram sua devolução, pois pretendiam vender para uma construtora interessada.
Simbólico para a cena teatral do Estado, a classe artística e sociedade cearense se mobilizaram em uma campanha para que o equipamento continuasse funcionando. O apelo foi enviado ao poder público e respondido pelo Governo do Estado, à época comandado por Camilo Santana.
Um acordo foi firmado com a Secretaria da Cultura do Estado para uma parceria com a pasta, que incluiria repasse de verba para o teatro. Entretanto, uma grande parte do teto do espaço cultural desabou e danificou diversos equipamentos e, após o acidente, Carri decidiu entregar o imóvel que representou o teatro por 28 anos.
Aquele, contudo, não era o fim. Ele fecharia aquelas portas na rua José Avelino, mas abriria outras há poucos metros. Uma campanha realizada nas redes sociais ajudou a arrecadar dinheiro para arcar com as despesas de alugar um novo imóvel e começar com a reforma do local, que antes era um banco.
Paralelamente, o projeto para liberação do recurso continuava tramitando na Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), mas sem previsão de saída. Carri considera que teve um descaso com a situação. “Parece que estamos cobrando preterimento, mas não é. A especificidade de você ter um espaço cultural, na cidade de Fortaleza, gerido e criado por artistas, não é todo lugar que tem”, explica o também ator.
O recurso não foi liberado antes do fim da antiga gestão e com o começo da nova, o processo teve que “recomeçar” também. Carri conta que lhe foi avisado que não poderiam mais trabalhar com aquele “mesmo objeto de trabalho”, pois o endereço havia mudado. “Eu mudei, mas o Teatro da Praia não. Ele tem 30 anos agora em 2023. É injusto isso”, desabafa.
Ainda assim, o artista destaca a atenção da equipe da nova gestão em buscar uma solução a partir de reuniões entre eles. E foi assim que um novo projeto foi montado este ano, mas mantendo o mesmo valor acordado em 2021. A verba já tem um destino certo: comprar equipamentos que foram perdidos no desabamento e a montagem de uma programação.
“É a forma como justificamos o dinheiro público também. Uma programação gratuita que as pessoas possam assistir, ou a um preço mínimo. Isso é como podemos dar retorno do dinheiro público aplicado no espaço que é coletivo, mas que é privado”, detalha Carri.
Animado pela retomada, em maio ele anunciou nas redes sociais que reabriria em agosto. Porém o recurso ainda não foi liberado, seguindo em trâmite na Secult. Em nota ao Vida&Arte, a Secretaria ressalta que o projeto que corre atualmente é diferente do de dois anos atrás, devido a mudança de localidade do teatro.
“No fim do mês de maio de 2023, a Secult Ceará retomou os diálogos com a direção do Teatro para a avaliação dos cenários possíveis que viabilizassem o repasse do recurso e a reabertura do Teatro da Praia. Este processo encontra-se em trâmite interno”, informa a nota.
Mesmo que o recurso não tenha sido liberado ainda, Carri não mudou os planos ou data da reabertura. Para que isso acontecesse, ele investiu no teatro os pagamentos de trabalhos que tinha feito, algo costumeiro já durante os anos de história dele.
Em 2022, foi o pagamento de sua participação na série “Cine Holliúdy”, da Globo, como o personagem “Lindoso”, que manteve em dia os aluguéis do novo local do teatro. E agora, para a continuidade da reforma para a reabertura do equipamento, será utilizado o dinheiro arrecadado com o espetáculo “Loucuras de Amor”, marcado para acontecer ser exibido no Teatro do Dragão do Mar.
“Meti um cartão de crédito aqui. Contratei o pedreiro, iluminador, pintor, parte hidráulica e falei para todo mundo: ‘Ó, é o seguinte, eu vou fazer um espetáculo no final do mês. Vocês topam receber tudo no final do mês quando eu receber o dinheiro da bilheteria do Dragão do Mar?’ E eles toparam”, narra o ator.
Foi com essa iniciativa que o Teatro da Praia recomeçou suas atividades na última sexta-feira, 11, com a peça “Flopados, esquecidos e mal pagos”, comédia com narrativa sobre desafios enfrentados por atores de teatro.
Ela marcaria a primeira temporada de programação da reabertura, mas devido a problemas precisou ser interrompida. O contratempo não significa outra pausa, apenas uma mudança na peça que ocupará o palco nas próximas sextas. Além disso, outro trabalho está sendo ajustado com o Sesc para exibição em setembro no espaço.
A retomada também não aconteceu do jeito planejado inicialmente por Carri, com a estrutura pronta e todos os equipamentos. Ele inicialmente só funcionará às sexta-feiras e ainda não está com a reforma completa, funcionando apenas com ventiladores, por exemplo. Mas a luta e resistência estão entrelaçadas com o acervo de história do espaço cultural.
“Vai ficar quente? Eu acredito que sim. É tanto que eu estou alertando todo mundo. Não é do jeito que merecemos reabrir, não é do jeito que a cidade merece o Teatro da Praia”, destaca.
“Nunca foi fácil? Não, nunca foi fácil. Me impediu de fazer tudo que acharia que seria interessante, que a cidade merecesse? Não, não me impediu. Poderia ter sido melhor? Não, foi do jeito que foi. Eu quero que seja melhor? Sim, eu quero”, sustenta Carri.
E é esse desejo de ser melhor e entregar “o que a cidade merece” que mantém Carri com seus planos de manter o Teatro da Praia vivo, mas com planos de ir além, se tornando um espaço de multiuso, como local para um escola de artes, uma galeria, um auditório para exibição de projetos audiovisuais cearenses e, claro, palco para espetáculos ricos para cultura do Estado.
“As pessoas vão ver aqui o que elas não veem comumente no mercado”, reforça “O teatro nunca foi uma empresa, eu sempre disse isso para as pessoas. Não é uma empresa e nunca será uma. Não foi criado para isso e nem amado para isso”, frisa Carri Costa.
Teatro da Praia
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