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Para fãs de terror, "Fale Comigo" chega nesta quinta, 17, aos cinemas
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Para fãs de terror, "Fale Comigo" chega nesta quinta, 17, aos cinemas

Primeira direção de uma dupla de youtubers, "Fale Comigo" estreia trazendo clichês e inovações para gênero terror
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Foto: Divulgação "Fale Comigo" fala de luto e desafios da internet

O luto no cinema de terror não é uma novidade, como evidenciado em filmes como "Hereditário" (2018) e "Midsommar" (2019). Em "Fale comigo", essa temática ressurge novamente, seguindo a trajetória de Mia (Sophie Wilde), uma jovem imersa na dor pela perda da mãe, com quem tinha uma conexão profunda. Enquanto luta para transpor o abismo da morte materna, ela se afasta do pai, Max (Marcus Johnson), e é impelida pelas circunstâncias a ir morar com a amiga Jade (Alexandra Jensen). Vivendo um caos interior, ela se sente deslocada em meio aos colegas de escola, levando-a a mergulhar em um "jogo" de perigos extremos, não apenas para si, mas também para seus entes queridos.

"Fale comigo" não depende da mera utilização de "jump scares", aqueles sustos abruptos e previsíveis característicos do gênero. Ele vai além do choque superficial explorando nas entrelinhas temas como o luto, drogas e busca por aceitação, além da exposição excessiva nas redes sociais. É através delas que Mia e Jade entram em contato com o "jogo".

O filme faz um claro paralelo a desafios de internet, comuns na atualidade, onde os desafiados se colocam em situações extremas em busca de aceitação e atenção de colegas e até de desconhecidos. Quem se propõe a esses desafios muitas vezes coloca seu bem estar em risco, ou simplesmente ignora o perigo iminente vivido pelos outros, optando por gravar o acontecido, ao invés de tomar qualquer atitude. Na primeira cena, o longa expõe o pior disso tudo, de forma simples, mas impactante.

Ao tocarem uma mão embalsamada e proferirem a frase "fale comigo", Mia e seus colegas invocam espíritos que passam a habitar e manipular seus corpos. Desde o início, o filme oferece uma justificativa convincente para o aparente entusiasmo dos personagens por essa atividade macabra, construindo um argumento sólido para sua persistência nesse caminho.

De forma propositalmente desconfortável, o filme vai evoluindo de cenas de possessão a cenas de automutilação que vão incomodar até os mais acostumados com o "gore" (gênero mais violento de cinema) em tela. Esses momentos - sem dúvida - são os mais marcantes de todo o longa, evoluindo de forma brutal e sangrenta expondo todo o desespero e medo presentes nas cenas.

Apesar de não manter essa intensidade durante todo o filme, o longa se sustenta bem em suas subtramas, dando bastante destaque a sua protagonista, ao mesmo tempo que consegue saltar do terror mais brutal ao drama adolescente.

Estreando como diretores, os irmãos Danny Philippou e Michael Philippou demonstram habilidade ao criar um longa-metragem coeso, o que reforça a razão por trás da escolha de seguir o caminho independente. Ainda que tenha sido distribuído pela A24 nos Estados Unidos e pela Diamond no Brasil, "Fale Comigo" é um filme independente australiano, construído com recursos modestos se comparado às grandes produções hollywoodianas. Os irmãos Philippou, conhecidos por suas criações cômicas e aterrorizantes no YouTube, com alguns vídeos ultrapassando 7 milhões de visualizações, dão um salto notável para o cinema e deixam uma marca indelével no campo do terror.

O longa abraça a utilização de efeitos práticos, que reflete a limitação orçamentária e a experiência anterior dos diretores como youtubers. Entretanto, essa escolha não diminui a qualidade do resultado em comparação a produções carregadas de efeitos especiais. Com cenas que variam desde violência visceral até eventos sobrenaturais, o filme engaja e perturba o público, criando uma tensão palpável que perdura desde o início até o fim.

Outro destaque, sem dúvidas, vai para as atuações do longa. Mesmo com o pouco desenvolvimento para alguns, todos os personagens convencem. E apesar do "clichê padrão" dos filmes de gênero, para jovens em situações de perigo sobrenatural, o filme nos mostra que aquelas situações são palpáveis dentro das circunstâncias apresentadas para o público.

"Fale comigo" não é de todo inovador. Porém trás 90 minutos de um roteiro bem amarrado em cenas intensas e trama convivente. Além de uma cena final inesperada e surpreendente. Trata-se de uma grata surpresa ao gênero de terror como um todo.

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