Mauri Melo ainda se lembra da primeira câmera de filme adquirida para explorar o interesse pela área da fotografia. À época, em meados da década de 1960, ele já trabalhava no O POVO como entregador de jornais e observava o trabalho dos fotógrafos da empresa. "Fiz uma foto de um enxame de abelhas africanas e saiu na primeira página", relembra. A captura do ato corajoso resultou em uma história de 48 anos com o fotojornalismo, relação revisitada em "Olhar de Mauri", novo documentário do O POVO+, a plataforma de streaming O POVO .
O curta-metragem é lançado neste sábado, 19, em alusão ao Dia Mundial da Fotografia e perpassa por momentos marcantes da trajetória do profissional, que coincidem com grandes mudanças do fotojornalismo no Ceará. O fascínio pelos distintos olhares possibilitados por meio dos objetos fotográficos guiou o caminho que começou nas vendas, passou pela operação de imagens em aparelho de rádio-foto (onde recebeu retratos da primeira ida do homem a lua em 1969) e desembocou numa carreira longínqua por trás das lentes.
"Comecei a estagiar no O POVO em 1970 e em julho de 1972 fui admitido como repórter fotográfico. Daí em diante continuei", relata. Foi com esta paixão pelo ofício e desejo de inovação que o fotógrafo registrou o movimento do cotidiano fortalezense e passagens importantes do cenário nacional. "Sempre quis fazer fotos diferenciadas. Para mim, tanto faz aparecer uma grande reportagem, como uma pequena. Mas tem umas (coberturas) que a gente não esquece", pontua ao mencionar a vinda do papa João Paulo II a Fortaleza em 1980 e o desastre aéreo da Serra de Aratanha em 1982.
Mauri também acompanhou a transição do analógico para o digital - com a qual não teve tanta dificuldade, mas brinca que foi graças à ajuda de "amigos mais inteligentes" -, documentou as diferentes realidades do Estado e eternizou instantes de inúmeras pessoas, conhecidas ou anônimas, desde crianças até idosos. O ofício realizado até novembro de 2020, quando se afastou da profissão, eterniza o conhecimento de quem sabe o papel fundamental das narrativas impressas numa imagem.
"É preciso que a foto case com o texto e tenha leitura, às vezes nem precisa de texto. Quando o leitor abre o jornal e vê a foto, ela já vai dizendo tudo. Cada foto tem sua história. Ninguém deve interferir nisso", elabora. Este percurso marcado por distintos pontos de encontros - entre indivíduos, máquinas e acontecimentos - direcionaram o enredo da nova produção audiovisual do O POVO+. "É fotojornalismo e Mauri para comemorar o Dia da Fotografia", explica a diretora de criação audiovisual Luana Sampaio, responsável pela direção do projeto ao lado de Demitri Túlio e Arthur Gadelha. A "agilidade e percepção" do fotógrafo basearam o trabalho, que é apresentado pelo editor de fotografia Júlio Caesar e reúne depoimentos do fotógrafo e diretor do MIS Silas de Paula e das fotógrafas Lia de Paula e Tatiana Fortes.
As gravações do documentário foram feitas no O POVO, Palácio da Abolição, Castelão e Praça do Ferreira, locações significativas nesta construção. "Tem o Mauri fotojornalista que faz parte da cidade e fez esses registros históricos. Tem um pouco de analógico e digital também. A gente não queria que fosse algo sobre o jornal, ou (material) educativo de fotografia, mas que fosse um encontro com ele. É um ponto de equilíbrio", considera Luana.
Com a gravação, Mauri confessa que foi tomado pela emoção ao revisitar alguns dos momentos da carreira e admite que o sentimento não cessa. "O pensamento continua aqui. Amo a fotografia, ainda corre na veia, eu não me esqueço, nunca vai sair do pensamento", confessa.
Celebração da fotografia
"A montagem do filme foi um desafio porque são quase 50 anos de trabalho do Mauri como fotógrafo no O POVO, são muitas fotos e muitas histórias, e o primeiro passo foi reconhecer isso. O fato de eu não ter estado nas gravações ajudou no processo de desapego dessa vontade de contar tudo. É um filme intimista que celebra a fotografia ouvindo um fotógrafo que viveu diferentes formas de se fazer e pensar o fotojornalismo, e a gente vai caminhando por pedaços dessa história"
Depoimento do roteirista Arthur Gadelha
História viva
"Apresentar o documentário é passear pela história da fotografia. Ele passou por todos os estágios possíveis que a fotografia tem. É um aprendizado e prazer, porque eu convivi com o Mauri no jornal. É muito interessante ver a história viva através dos relatos e das fotografias"
Depoimento do editor de fotografia Júlio Caesar
Olhar de Mauri
O documentário "Olhar de Mauri" está disponível a partir deste sábado, 19, no O POVO+
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