"Cangaço Novo" tem início em São Paulo, onde somos introduzidos ao protagonista Ubaldo Vaqueiro (interpretado por Allan Souza), um ex-militar que acaba de ser despedido de seu trabalho no banco. Encontrando-se com problemas financeiros e com a saúde debilitada de seu pai, Ernesto (interpretado por Ricardo Blat), que está hospitalizado, Ubaldo recebe um sopro de esperança por meio de uma carta inesperada da cidade de Catrará, situada no interior do Ceará. Através dessa correspondência, ele descobre uma inesperada herança de terras naquele local e decide embarcar em busca de respostas, na esperança de conseguir dinheiro para ajudar seu pai.
Pouco tempo depois de chegar à cidade, Ubaldo descobre que na verdade foi adotado por Ernesto, e que seu pai biológico, na verdade, se chamava Amaro Vaqueiro. Vaqueiro, como era conhecido, era um cangaceiro bastante respeitado em Catrará, e por conta disso, Ubaldo acaba sendo muito bem tratado por quem o reconhece, já que o protagonista tem enorme semelhança com o pai biológico. Mas tudo isso muda quando ele encontra suas irmãs biológicas, Dilvania (Thainá Duarte) e Dinorah (Alice Carvalho).
"Cangaço Novo" não perde tempo, e em seu primeiro episódio trás todo o contexto necessário para saber os temas abordados no seriado. Cratará é uma cidade pequena, de interior, onde quem manda é quem tem mais dinheiro. Dinheiro que os necessitados estão longe de conseguir, e consequentemente correm o risco de perder suas terras e casas por conta disso. Intrigas políticas, mistérios familiares e muita ação são as características que marcam a série. Além claro, da cultura nordestina, que tem total destaque durante toda a trama.
A série traça uma trajetória de anti-heroica para Ubaldo, mostrando que ele será um personagem com diversas camadas. Não só ele, mas todo o bando com o propósito forjado pelo desespero financeiro, para auxiliar no tratamento de seu pai. Bando que faz referência direta ao cangaço, ou mesmo o novo cangaço. Nome dado à prática de roubos por grandes grupos em cidades do interior. O que acaba por evocar lembranças, não apenas de seu passado, mas de toda Craterá.
Sem dúvida um dos maiores acertos de "Cangaço Novo" é o elenco. Allan Souza nos trás um personagem profundo e não faz o público questionar por um segundo seus atos. Já Thainá Duarte, que vive a irmã mais nova de Ubaldo, Dilvania, consegue, mesmo sem dizer literalmente uma palavra, passar toda a angústia vivida por sua personagem com seu olhar. Mesmo sem falar, a atriz nos faz compreender tudo que se passa na cabeça de Dilvania, quase que sem esforço, de forma totalmente natural.
Mas falando de elenco, é Alice Carvalho o maior destaque. Enquanto Dilvania é quieta e silenciosa, Dinorah é um turbilhão de emoções, capturando a atenção do espectador desde o primeiro instante em que entra em cena. Com uma performance que ocupa a tela mesmo nos momentos de calmaria. Alice Carvalho traz à vida uma personagem visceral, repleta de intensidade e vulnerabilidade. Forte como o sol do Ceará, leve como os ventos da orla e profunda como o mar. Dinorah não tem como passar despercebida, nem que quisesse. Mesmo quando a cena não é sobre ela, de alguma forma o destaque acaba consigo, não como alguém que implora por atenção, mas sim como alguém que mesmo que inconscientemente invoca atenção para si de forma natural e simples.
A direção, compartilhada por Fábio Mendonça e Aly Muritiba, mantém o ritmo da série ao longo dos oito episódios de 45 minutos cada. Que habilmente se equilibram entre cenas de ação, mistério, drama e romance. Tudo, por mais incrível que possa parecer, em perfeito equilíbrio. Somando isso a trilha sonora totalmente brasileira e quase cem por cento nordestina, "Cangaço Novo" apresenta um Nordeste sem estereótipos, e faz questão de não retratar nenhum de seus personagens forma clichê.
Trazendo reflexões profundas sobre política e a sociedade em geral. Fazendo referências contemporâneas a toda discussão política do cangaço como um todo, "Cagaço Novo" ilustra que o banditismo muitas vezes brota da necessidade, não da escolha.
Sem medo de se aprofundar em um temas complexos, tão complexos que não se encerram por aqui. Cratará, "Cangaço Novo", tem muito mais para nos apresentar e falar. E é maravilhoso descobrir isso.
Com um elenco maravilhoso, direção extremamente acertada e esteticamente impecável, "Cangaço Novo" merece toda a atenção possível, e mais.
Cangaço Novo
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Saiba mais sobre “Memórias do Medo” clicando aqui