Desde 1931 inúmeras adaptações do famoso livro "Drácula", de Bram Stoker foram feitas. Não apenas do mundialmente famoso vampiro, mas de vários outros personagens de sua "raça". Após duas décadas esperando para sair do papel, "Drácula: A Última Viagem de Deméter" entra para a extensa lista de adaptações baseadas no famoso livro.
Adaptando um pequeno trecho do capítulo 7 do livro "Drácula", que conta a história de como uma tripulação foi desaparecendo, de forma misteriosa e desesperadora de seu Navio, um a um, durante uma viagem para a Inglaterra. Contada a partir dos registros de seu capitão, no diário de bordo do navio.
Em 1987, após receber uma carga misteriosa de "caixões" cheios de terra, com destino à Inglaterra, o capitão Eliot (Liam Cunningham) e sua tripulação se preparam para zarpar, até que um pequeno acidente causado por um dos tripulantes faz com que o médico recém-formado Clemens (Corey Hawkins) seja adicionado a tripulação. Após algumas noites em alto mar, eles descobrem que existe algo maléfico a bordo.
Em entrevistas, o diretor noroegues André Øvredal disse que essa adaptação traria foco a um Drácula mais monstruoso, e que o longa seria uma espécie de "Alien, o Oitavo Passageiro" (1979), só que em um navio. O que de cara é uma ideia incrível, já que faria uma abordagem jamais vista do famoso vampiro. Mas o longa não passa disso, uma boa ideia.
"Drácula: A Última Viagem de Deméter" não se sustenta além de seu visual. Apesar do bom elenco, composto com nomes como Corey Hawkins ("The Walking Dead"), David Dastmalchian ("Esquadrão Suicida") e Liam Cunningham ("Game of Thrones"), as atuações parecem estar no piloto automático. A total falta profundidade nos personagens é um dos principais defeitos do longa. É praticamente impossível se importar com quaisquer que sejam os acontecimentos que eles enfrentam. Um bom exemplo disso é o que acontece com o personagem de Toby, vivido por Woody Norman. Toby é o neto do capitão do Deméter, e é um dos poucos ali que tem uma faceta que vai minimamente além do superficial. E é com ele que o filme trás umas de suas cenas, que deveriam ser no mínimo marcantes, porém acaba passando de forma totalmente apática, e em certo ponto até vergonhosa. É algo tão mal dirigido que simplesmente não existe explicação.
A ideia de tensão entre os passageiros chega a ser rascunhada, após um deles desaparecer. Mas acaba se tornando algo tão repetitivo e superficial que logo se perde. Toda a tensão do filme se passa durante a noite, já que a criatura a bordo só ataca durante a noite. Logo acreditamos que será durante o dia que veremos maiores interações sobre resoluções ou consequências do que está acontecendo, entre os personagens. Porém esse possível aspecto é totalmente ignorado, e mais. Em dado momento, no qual a trama aparentemente chegará a seu ápice, é algo que claramente seria facilmente resolvido se feita durante o dia. Porém o filme, sem explicação alguma, opta por trazer esse momento durante a noite.
Se mal citei Drácula até aqui, não é à toa. O personagem que literalmente dá origem a essa história é um dos que menos aparece ou é citado aqui. Aparentemente o diretor confundiu fazer suspense com esconder. Pois é literalmente isso que o diretor faz em tela com o que deveria ser a ameaça monstruosa de toda a trama.
Esconder a ameaça até que se chegue ao climax é algo normal em muitos longas. "Tubarão", "Parque dos Dinossauros" e até mesmo "Alien: o Oitavo Passageiro" fazem isso. A diferença clara aqui é a forma pobre como isso é feito. Cenas escuras e cheias de cortes sem qualquer intenção aparente são o que resumem as aparições do vampiro. E que além disso, em dados momentos se utiliza de jump scares totalmente sem sentido e que definitivamente não funcionam.
Apesar de acertar na estética mais monstruosa do famoso personagem e em outros detalhes, como o figurino ou o navio em si, o falha em todo o resto. Não causando medo, tensão ou qualquer outro sentimento que seja, a não ser desinteresse. E é isso que resume "Drácula: A Última Viagem de Deméter". Desinteresse.
Personagens, roteiro e fotografia, todos tratados de forma tão superficial, que chega a ser irritante. O que é lamentável, pois o texto que deu origem a obra, apesar de minúsculo, causa muito mais aflição do que todos os longuíssimos 119 minutos deste filme, que levou duas décadas para sair do papel e ser filmado, mas mesmo assim não consegue sequer prender a atenção do espectador de forma mínima.
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Assista ao filme clicando aqui.