No início deste mês, o ator Felipe de Carolis estreou no recém formado Teatro Glaucio Gill, no Rio de Janeiro, com a peça “Sedes”, inédita no Brasil. O espetáculo completa a trilogia escrita pelo autor libanês-canadense Wajdi Mouawad, escritor dos textos de “Incêndios” e “Céus”. Mesclando humor, música e drama, a apresentação bebe na fonte das tragédias clássicas para desvendar um grande mistério e promover uma discussão profunda e contemporânea sobre a sociedade, com o aumento dos diagnósticos de depressão e ansiedade e, também, dos casos de suicídio.
“O trabalho de idealizador é escolher o ambiente, o elenco, o diretor, entre outras coisas. São poucos especialistas comprometidos no Brasil que trabalham a arte da tragédia contemporânea e eu, por ter feito especialização e estar convivendo com o texto do Wajdi há quase 13 anos, precisava de algumas bases sólidas. É difícil assumir tantos papéis ao mesmo tempo, já que faço um personagem com transtornos mentais e que exige muito física e emocionalmente de mim. Mas eu fico muito feliz em estar em cena”, comenta Felipe sobre o trabalho de ator e idealizador em entrevista exclusiva ao Vida&Arte.
Tendo estreado na televisão em 2005 com o personagem Thiago na novela “Floribella”, da Band, Felipe, desde pequeno, sabia que esse era o caminho que desejava trilhar. Com o forte apoio de sua mãe, o artista conseguiu outros papéis nos anos seguintes, como em “Cobras & Lagartos”, da TV Globo. Seu reconhecimento nacional veio em 2015, interpretando Sam Nunes na telenovela “Verdades Secretas”.
Confira trechos da entrevista completa com Felipe de Carolis.
O POVO: Como foi para você lidar com o “boom” da carreira em 2015, tendo em vista que em outras entrevistas você afirmou não saber lidar com a fama?
Felipe de Carolis: Quando eu tinha meus 25 anos, realmente comentei que não gostava de ser famoso, porque houve muitas muitas fofocas naquele momento sobre supostos relacionamentos e coisas que não haviam acontecido. Eu não curto ficar mostrando as coisas da minha vida pessoal, não posto as coisas em tempo real, então eu tenho um cuidado grande com esse lugar. Depois de Verdade Secretas, foi realmente uma explosão. Sou muito seguro da educação e formação que eu tenho, mas me incomoda muito ver coisas que não são verdade e que não deveriam ter relevância ganharem relevância.
O POVO: Ainda sobre Verdades Secretas, quão desafiador foi interpretar o personagem Sam? A novela ganhou uma segunda temporada, da qual você não esteve presente. Pode comentar sobre o momento?
Felipe de Carolis: Na verdade, o desafio foi exatamente o que me fez ter vontade de aceitar o papel. Quando estamos começando a carreira, as pessoas encaixam a gente em algumas gavetas e, de repente, me chamaram para fazer um traficante que frequentava Cracolândia e que sonhava em ser modelo. Não tenho nenhuma relação com drogas, sou careta. A minha primeira fala na série é “você quer fritar ou derreter?” e eu nem sabia o que isso significava. Aprendi muito a não julgar as profissões, tanto de quem está na Cracolândia por razões diversas, quanto quem se prostitui. Viver esse personagem que trazia de forma forte a questão do vício das drogas com a Grazi Massafera, para mim, foi muito enriquecedor. Quanto à 2ª temporada, eu fui convidado para fazer o projeto e houve um grande segredo guardado a respeito disso. A história do Sam seria de uma importância social muito grande e foi um convite feito de forma muito carinhosa, como de costume. Nos anos de pré-produção, a equipe mudou e fui informado sobre as mudanças, sempre de forma cuidadosa. Com certeza, eu estaria ali por respeito, admiração e gratidão independentemente se fosse um único episódio, eu faria.
O POVO: De onde surgiu a ideia para o espetáculo “Sedes”? Como foi a estreia no início do deste mês?
Felipe de Carolis: A ideia vem do trabalho do Wajdi Mouawad e a minha intenção era o Aderbal Freire Filho estar presente nessa trinca de peças. Infelizmente, não deu tempo dele fazer a terceira. O tema dessa peça é urgente, precisamos falar sobre isso. Daqui a pouco não vou ter mais idade para fazer ela porque eu faço um personagem de 25 anos, né? Um dia, talvez eu saia da peça, como ator, porque eu acho que ela não pode parar nunca. Quanto à estreia, há muitas coisas que têm de ser ajustadas, mais técnicas do que humanas. Estou muito feliz por ter realizado essa promessa de fazer as três peças, depois de 10 anos da estreia de “Incêndios”. Gostaria de aumentar o alcance da peça com alunos a partir do terceiro ano do ensino médio e de faculdade. Todas as faixas etárias são muito bem-vindas, mas quero falar com a geração que está ameaçada. E sim, nós vamos fazer outras cidades! Mas só podemos divulgar oficialmente quando tivermos certeza, quando terminarmos a temporada Gláucio Gill.
O POVO: Você tem outros trabalhos em andamento, ainda para 2023? Tem vontade de voltar para TV, seja em streamings ou novelas?
Felipe de Carolis: Tenho alguns projetos em andamento, como o lançamento do Encanto Quebrado, que é um filme da Imovision. Logo em seguida, vem o lançamento do Nosso Lar 2. Esses dois filmes são os meus dois primeiros protagonistas no cinema. No Nosso Lar 2, eu sou antagonista e o protagonista é o Edson Celulari. Ambos estarão nos cinemas, então rola muito essa vontade de fazer um streaming sim, vamos torcer. Tenho vontade, sempre que finalizo bem uma temporada de teatro, de fazer audiovisual ou teatro musical. Eu tento dar essa pluralidade à minha carreira. Não tenho interesse de ter um contrato de 14 meses para fazer uma novela, mas vamos ver. Nesse momento, é praticamente impossível, especialmente porque eu tenho compromissos com a França. Fui selecionado para o Théâtre National La Colline, para o desenvolvimento do projeto com o Wajdi.
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Saiba mais sobre “Memórias do Medo” clicando aqui
Acompanhe o artista
Instagram: @felipedecarolis