Apaixonado por mágica desde a infância, Lucas Dias é daqueles que lutou para tornar seu sonho uma profissão, apesar das dificuldades encontradas no caminho. Aos 27 anos, ele já conta com mais de 10 anos de experiência no ramo da mágica e vê em seu trabalho uma forma de lutar contra o preconceito. O cearense acredita que ganhar visibilidade na área em que atua é também uma forma de mostrar que os surdos podem ser o que quiserem.
A deficiência auditiva de Lucas foi descoberta ainda em seus primeiros meses de vida. "Eu vinha no ônibus, e ele ainda era um bebê. Todo mundo começava a brincar com ele dentro do transporte coletivo. As pessoas chamavam por ele e o Lucas não reagia. E em uma Copa do Mundo, quando há muitos fogos de artifício, ele dormia e não se assustava com o barulho, ainda aos nove meses de vida. Então eu procurei fazer alguns exames, e eles constataram a surdez", lembra Tatiana Dias, mãe do mágico.
Todavia, tal descoberta não impediu Lucas de correr atrás do que sonhava, e isso inclui a paixão que descobriu ainda aos 12 anos: a mágica. Em uma tarde de domingo, o jovem encantou-se com o trabalho do Mágico Mascarado, um artista que semanalmente realizava truques no programa "Tudo é possível", apresentado por Eliana. Desde então, o interesse pelo assunto só cresceu, e o que começou como uma brincadeira tornou-se a profissão de Lucas.
"A primeira vez que eu estive em um palco foi numa escola. E é claro que eu estava nervoso com isso, mas eu percebi que as pessoas estavam empolgadas, né? E aí na mesma hora o nervosismo sumiu e fluiu naturalmente", conta Lucas. "Então eu consegui fazer os números e me sentir bem lá na frente. Eu pude ver crianças sentindo a emoção, mostrando pela expressão delas o quanto estavam impressionadas ao ver aquele número, ao ver a minha apresentação. Então percebi que eu emocionava as pessoas", acrescenta.
Com os anos de experiência e o contínuo incentivo da mãe, hoje o mágico realiza apresentações, palestras, aniversários e shows, e vê a mágica como profissão. "Às vezes alguém pensa que, por ser surdo, eu não consigo apresentar um número, me comunicar, mas não. A gente tem uma mímica e uma comunicação gestual que é capaz de fazer uma pessoa que não sabe libras entender", explica.
Todavia, o caminho até aqui não teve somente boas experiências. "Já aconteceu de eu ser chamado para um show, uma apresentação de mágica, e a pessoa 'esfriar' na hora por eu ser surdo. Então eu me senti desrespeitado, eu senti um preconceito, né? Porque ela achou que eu não ia dar conta do recado", desabafa Lucas. Ele ainda ressalta que preconceito é crime e que é importante discutir o assunto para que algo assim não ocorra também com outras pessoas.
Em meio às aspirações futuras do jovem, está o objetivo de continuar ganhando visibilidade para a comunidade surda, mostrando, a partir do seu trabalho, que a deficiência não deve impedir alguém de conquistar o que sonha. Além disso, o mágico também pretende se aventurar na atuação e, enfim, "ganhar o mundo".
Mais do mágico
Todo mundo tem uma história de medo para contar e o sobrenatural é parte da vida de cada um ou das famílias. Alguns convivem com o assombro das manifestações ou rezam para se libertar das experiências inesperadas. Saiba mais sobre “Memórias do Medo” clicando aqui