Numa busca por resgatar movimentos ancestrais e valorizar a dança a partir dos cruzamentos entre passado e presente, a Companhia de Dança Afro Daniel Amaro realiza, desde 1999, atividades formativas Brasil afora. Presente em Fortaleza nos próximos dias 19, 20, 21 e 22 de setembro, o grupo, representado na pessoa do coreógrafo e pesquisador Daniel Amaro, realiza um workshop experimental de dança afro na Casa Juvenal Galeno.
"A dança afro é a base de todas as outras danças. Essa pesquisa que estou levando para Fortaleza durou muito tempo de estudo. É um trabalho de prática e teoria. Como esse movimento pode chegar até o corpo, até a cena? No último dia, vamos fazer uma apresentação final do resultado dessa oficina. Essa apresentação será aberta ao público", explica o coreógrafo e idealizador da companhia Daniel Amaro.
O momento proporcionado pela companhia apresenta a dança de matriz africana como "estudo técnico e de pesquisa a partir de quatro linhas: a dança Afro-brasileira, as danças originárias de Benin e do Senegal, além da dança afro contemporânea”. Os participantes realizarão movimentações, exercícios de respiração, alongamentos e sequências de movimentos específicos. Eles terão também a oportunidade de espaço para criação e improvisação.
Daniel conta que, para promover as aulas, é preciso exercer um ritual de ambientação no local. A oficina já passou por 24 estados e no Ceará não será diferente. "Vou chegar dois dias antes das aulas de workshop para conhecer a Cidade. Ver como é que as pessoas caminham, como essas pessoas se vestem, falar com elas, sentir o cheiro da Cidade, porque todas essas influências eu vou levar para o trabalho no whorkshop", afirma.
Com 38 bailarinos e quase 10 espetáculos montados, entre eles "Tambores do Corpo (2001)", "Rio de Sangue (2013)" e "A Dança de Ogum (2022)", a companhia se apresenta desde dezembro de 1999. A origem marca a trajetória do fundador Daniel, o pequeno bailarino negro de uma cidade do Rio Grande so Sul.
"Quando eu comecei, percebi que a dança negra não tinha visibilidade. As pessoas que eram negras não dançavam nesses lugares de destaque. Para que eu dançasse, ganhasse bolsa de estudo, estudasse o ano todo de graça, tinha uma troca: nas apresentações, eu era o bailarino discreto que servia apenas para para levantar as meninas. Entendi que não era aceitável como um bailarina negro", relembra o professor de dança. "Não vou conseguir uma companhia para mim, então fundei uma", pontuou.
Nascida em Pelotas, município que abrigou a cultura do Charque (movimento com forte cunho escravista dos séculos XVIII e XIX), a companhia expressa resistência com o movimento e nos espaços que ocupa. No espetáculo "A Dança dos Orixás", em 2017, o grupo se apresentou em frente a antiga senzala da Charqueada São João, construída em 1803. A história começa a ser contada na entrada do local e percorre todo o local. Cada orixá é representado por um movimento específico de dança e a narração é feita por uma atriz.
Outro espetáculo da companhia que aborda e resiste com a mesma luta é "Rio de Sangue (2013)". Na apresentação, o grupo pretende contar a história de uma "Pelotas negra", perpassando a história da antiga Província de São Pedro. A obra é definida como "uma análise da alma da cidade, enfocando o simbolismo do sal e do enxofre presentes na história da indústria do charque e nos tradicionais doces pelotenses".
Mas não somente das dores do passado a companhia vive. No fervo de fevereiro, o grupo oferece há 18 anos, uma consultoria carnavalesca. O Departamento de Assuntos de Carnaval promove oficinas, presta consultoria e prepara jurados para desfiles de escolas de samba, blocos e bandas carnavalescas. Além disso, o grupo de dançarinos da companhia oferece aulas de samba no pé para passistas e para candidatas às Cortes de Carnaval, criação de coreografias para Comissões de Frente e alas de passos marcados e workshops de Mestre-Sala e Porta Bandeira e Porta Estandartes.
"Eu fico muito contente quando falo, porque nós conseguimos mudar o perfil do Carnaval não só de Pelotas, mas do Rio Grande do Sul, tornando um Carnaval mais profissional. Eu acredito que a cadeia produtiva do Carnaval é gigante. Desde o cara que vende pipoca até a pessoa que bota uma lantejoula numa fantasia. A companhia está dentro da categoria samba", destaca Daniel.
Danças de Matrizes Africanas - Whorkshop Experimental
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui