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Noite das Bruxas: Um labirinto de sensações intrigantes no cinema
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Noite das Bruxas: Um labirinto de sensações intrigantes no cinema

Com direção e atuações mais maduras, "A Noite das Bruxas", terceiro longa inspirado em famoso personagem de Agatha Christie, Hercule Poirot, estreia nesta quinta-feira, 14
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Baseado em Agatha Christie, 'A noite das bruxas' traz Kenneth Branagh no papel de Hercule Poirot (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Baseado em Agatha Christie, 'A noite das bruxas' traz Kenneth Branagh no papel de Hercule Poirot

Baseado no livro publicado em 1969 pela autora britânica Agatha Christie (1890 - 1976), "A Noite das Bruxas" é uma das obras mais maduras da autora. E o terceiro longa inspirado na obra da “rainha do crime” segue o mesmo caminho.

O filme começa nos apresentando o momento atual do famoso detetive Hercule Poirot, interpretado pelo também diretor do longa, Kenneth Branagh ("Morte no Nilo", de 2022). No momento, Poirot leva uma vida tranquila, focada apenas em tentar relaxar. Enquanto inúmeras pessoas, cientes de sua enorme fama como detetive, buscam sua ajuda para solucionar crimes que os assolam.

Ariadne Oliver (Tina Fey), autora de livros que contam alguns dos incríveis casos de Poirot, mesmo sem citá-lo diretamente, consegue tirar o detetive de sua até então recente aposentadoria. Ariadne convida Poirot para uma festa de comemoração do dia das bruxas que acontecerá durante a noite. O objetivo é mostrar ao detetive algo que nem mesmo ele consiga explicar.

Após um breve começo, a história entra no que vai ser o local de foco durante todo o longa. A mansão dos Drake, onde a jovem Alicia Drake morreu de forma misteriosa há alguns meses. O faz com que sua mãe contrate os serviços de uma médium, Mrs. Reynolds (Michelle Yeoh).

Aqui, o longa foca em nos apresentar os principais personagens envolvidos na trama e qual será o cerne dela. Porém, acaba fazendo isso de uma forma um pouco confusa. Muito disso se deve à montagem e aos jogos de câmera, que apesar de não serem apressados, podem confundir facilmente o espectador. Problema que é dissolvido com o passar das cenas seguintes, mas acaba por incomodar um pouco.

Após estabelecer seu cenário e os personagens da trama, o filme não perde tempo em trazer uma morte em tela. Aqui, o roteirista Michael Green faz como Agatha Christie e surpreende com algo chocante e inesperado, de forma rápida e intensa. Fazendo com que o público, assim como os personagens ali, queiram saber como aquilo aconteceu de forma tão repentina. Garantindo total imersão na história.

Porém, "A Noite das Bruxas" traz elementos além do mistério policial para a tela. Utilizando habilmente cenas de terror e suspense muito bem construídas, que, por vezes, se explicam rapidamente enquanto outras não, fazendo com que não apenas o cético detetive queira entender cada vez mais o que está acontecendo naquela mansão, mas também o espectador. Tudo sempre de forma bastante coerente com a história.

Outro ponto forte do longa é a interação de Hercule Poirot com os outros personagens. Kenneth Branagh está muito à vontade, não só em sua direção, mas também na pele do detetive. Suas interações com Mrs. Reynolds (Michelle Yeoh) e Ariadne Oliver (Tina Fey) são sem dúvida pontos chave da história. Trazendo diálogos muito bem construídos e amarrados. Onde absolutamente nada soa gratuito.

Como de costume, as aventuras de Poirot sempre se passam em um único local, durante toda a sua resolução. Em um navio a vapor em "Morte no Nilo" - 2022, ou em um trem, no "Assassinato no Expresso do Oriente" - 2017. Aqui, como já citado, o local é a mansão onde todos os suspeitos estão trancados com Poirot. A fotografia e montagem de "A Noite das Bruxas" trabalham em conjunto, variando entre planos fechados e longos takes um pouco mais distantes, para nos passar a sensação de sufocamento que é estar preso ali, mesmo em um lugar tão grande, em que todos podem se mover livremente. O que faz com que a mansão acabe se tornando mais um personagem dentro do mistério.

Mas apesar de todos os acertos, "A Noite das Bruxas" se apressa em seu clímax, que traz uma resolução coerente, porém apressada. Não dando tempo para que o público possa absorver a solução do mistério por si. Entregando de forma brusca um monólogo de Poirot sobre como ele resolveu o caso. Apesar de guardar um pequeno desdobramento do caso para as cenas finais, essa afobação em solucionar o mistério nos últimos minutos de forma tão indelicada acaba por prejudicá-lo no final. O que é uma pena, já que o longa não nos entrega de forma alguma quem é o culpado definitivo por aqueles acontecimentos, apesar de nos dar sim algumas pistas.

No geral, "A Noite das Bruxas" tem mais acertos do que erros e é um dos raros casos onde se estender um pouco além das uma hora e quarenta minutos de filme seria bastante benéfico. Divertido e intrigante, o longa é um prato cheio para os fãs do gênero e também admiradores da famosa escritora, que onde quer que esteja, deve estar feliz em ver seu grande personagem ser tão bem retratado nas telas de cinema.

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