"O Som da Liberdade" é um filme de 2018 que recebeu destaque nos Estados Unidos devido à sua impressionante bilheteria. Originalmente planejado para ser distribuído pela Fox, o filme ficou em espera devido à aquisição dos estúdios Fox pela Disney. No entanto, um dos produtores conseguiu comprar os direitos do longa de volta, e só agora, em 2023, a obra está sendo distribuída mundo afora com a ajuda da Angel Studios.
Para além da produção em si, existe uma polêmica por trás de "O Som da Liberdade", pois grupos conservadores abraçaram a teoria de que este é um filme que a "grande mídia" não quer que o público veja. O que não é verdade. O que também não é verdade é que este filme carregaria uma mensagem conspiratória, devido ao entorno de sua atual divulgação por Jim Caviezel, que deu várias declarações extremamente polêmicas sobre o tema abordado no filme. No entanto, "O Som da Liberdade" é "apenas" um filme que retrata um assunto extremamente sensível.
Tim Ballard (Jim Caviezel, de “Paixão de Cristo”, de 2004) é um agente federal que se vê diante de um enorme dilema enquanto tenta resgatar uma menina de traficantes internacionais de crianças. Sem o apoio de seu governo, o agente busca de todas as maneiras resgatar a pequena Rocio (Cristal Aparicio) das mãos de abusadores infantis.
Apesar de não ser proposital, ou ao menos não parecer, o filme tem uma clara divisão em seus três atos. Logo de início, acompanhamos como é feito o rapto dos irmãos Miguel (Lucas Ávila) e Rocio (Cristal Aparicio). Nesse início, o filme usa de uma montagem inteligente e cenas bem construídas, que causam angústia, apesar de não nos mostrar diretamente o que vai acontecer. Com isso, o diretor Alejandro Monteverde consegue entregar uma cena marcante, que logo de cara gera um enorme desconforto.
Trabalhando de uma forma inteligente a montagem inicial, "O Som da Liberdade" soma sua abertura com os créditos iniciais, que têm como fundo cenas reais de crianças sendo sequestradas, gravadas por câmeras de segurança em vários locais do mundo.
Sem perder tempo, na cena seguinte já conhecemos Tim Ballard (Jim Caviezel), que se encontra em uma operação que culminou na captura de um abusador de crianças.
Aqui vemos mais uma vez um excelente trabalho de direção, onde Monteverde consegue deixar claro toda a angústia daquele personagem ao ter que catalogar todas as provas de abuso de crianças. Em dado momento a câmera foca nos olhos de Tim enquanto ele assiste aos vídeos que encontrou na casa do abusador. Mesmo sem mostrar o que ele está vendo exatamente, podemos perceber toda a dor que aquele personagem sente ao ter que assistir a isso, já que é ele o responsável pela catalogação de provas.
E é a partir disso que Tim acaba entrando na busca pelos dois irmãos que sumiram no início do filme. Porém, depois desse arco, o longa começa a se exceder em cenas e diálogos apelativos, para comover o público, o que é totalmente desnecessário, já que o tema em si já é algo delicado e que, sem dúvidas, vai chamar a atenção de quem quer que assista. Ao se exceder, o longa faz o oposto do que pretendia e acaba desconectando o espectador em vários momentos, já que, além de usar diálogos excessivamente dramáticos, a trilha sonora pesa em uma sequência de pequenas cenas que pouco avançam a trama.
Jim Caviezel não está ruim como Tim, no entanto também não faz algo memorável. Sem dúvidas o excesso de diálogos forçados e takes que buscam ao máximo trazer o protagonista como "grande salvador" prejudicam a visão que o público tem de seu personagem. Que apesar de estar sim se esforçando ao máximo para salvar aquelas crianças, não está nem de longe fazendo isso sozinho.
Aliás, se o filme tivesse focado mais em como Tim e os companheiros fazem a investigação, tentando ser mais um thriller de investigação do que um grande retrato de um único salvador, ou até mesmo desenvolvendo melhor seus personagens, talvez o longa não tivesse se tornado tão cansativo depois de seu primeiro ato.
"O Som da Liberdade", sem dúvidas, tem uma temática delicada que não é muito abordada nas telas de cinema. Temática essa que é o que prende o espectador durante o filme, já que o que acontece em tela, apesar de ficção, é sim baseado em uma operação real de resgate de crianças. Mas como filme, acaba funcionando de forma básica após os seus primeiros minutos e deixando a desejar em seu desenvolvimento. Trazendo um final pouco crível, que evidencia ainda mais o quão fraco o longa vai ficando com o passar dos minutos.
Talvez agradando um público que busca apenas conhecer mais do tema, "O Som da Liberdade" está longe de ser extraordinário, como vem sendo vendido. Mas com certeza não ofende e nem desrespeita a temática abordada que traz em tela.
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