Ajeumbó é uma palavra do iorubá que significa "liberdade e permissão para comer ou alimentar-se". O termo nomeia festival e seminário sobre cultura gastronômica afroancestral que acontecerá nesta sexta e sábado, dias 6 e 7, organizado pelo Mercado AlimentaCE com a Secretaria de Igualdade Racial (Seir). A programação será dividida em dois locais: Teatro do Dragão do Mar de Arte e Cultura no primeiro dia e Complexo Estação das Artes no segundo.
O evento tem o objetivo de promover a valorização e reconhecimento dos saberes alimentares de povos quilombolas e de terreiro. A ideia começou a ser desenhada apenas como um seminário, mas os órgãos notaram ser "muito assunto" para uma ação e acrescentaram o festival, como explica Marina Araujo, diretora do Mercado.
Segundo ela, os envolvidos perceberam que precisavam trabalhar com duas áreas partindo do tema: "A de formação e a de fruição". "Na hora que trazemos uma programação festiva, de entretenimento, estamos dando oportunidade a um tipo de grupo de pessoas. Quando trazemos a formação, oportunizamos outro coletivo", detalha. "Era nossa oportunidade de trazer para as pessoas um conjunto de vivências que fossem elucidativas e que pudessem levar para elas crescimento e conhecimento", sustenta.
Seguindo esta ideia, a programação irá oferecer mesas, rodas de conversa, aula-show, lançamento de livro, exibição de filmes, feirinha, apresentações artísticas e encerramento com uma festa de funk. Wanessa Brandão, coordenadora especial da Seir, afirma que as comunidades tradicionais serão protagonistas do evento, compartilhando práticas que estão presentes em suas rotinas.
Ela define esses saberes gastronômicos como uma forma de preservação de memória e que isso promove saúde, sustentabilidade e conhecimento. "São culturas e alimentos que vêm sendo preservados ao longo dos anos, protegendo a ancestralidade dos povos de comunidades tradicionais", afirma.
"Nem todo mundo tem acesso a estar indo às comunidades e terreiros. A ideia é colocarmos em destaque a importância que se tem das culturas alimentares tradicionais para todo o Estado", sustenta Wanessa. Para Marina, este é o compromisso do Mercado AlimentaCE: "Colocar na boca do povo a cultura alimentar. Fazer com que as pessoas entendam o que é e como ela está na nossa vida", destaca.
Aline Guedes, chef de cozinha e pesquisadora, ressalta a importância da ação em ampliar os debates "acerca da necessidade de um olhar para as comunidades tradicionais, assim como para a manutenção de seus saberes e fazeres".
"Preservar tal cultura alimentar nos permite preservarmos a história do nosso povo, dos nossos ancestrais e por consequência, do nosso país", afirma a chef. Ela participa da primeira mesa do seminário, "Valorização da gastronomia ancestral: culinária quilombola e de terreiro", onde irá destacar as vivências em quilombos, além de trazer uma defesa sobre a "necessidade de olhar para os quilombos e para movimentos de aquilombamento por meio do alimento".
"Ainda são poucos os espaços que acolhem discussões acerca da cultura alimentar quilombola, de sua conexão ancestral, tal qual de seus ritos. Precisamos de discursos que possam propiciar ações efetivas, constantes e que possibilitem mudanças significativas", aponta.
Ela também estará no segundo dia do evento ministrando a aula-show "Memória e cultura: saberes da cozinha quilombola", onde ensinará o preparo de um bolinho de inhame e pé de zumbi (doce de mandioca em folha de bananeira). Ela justifica a escolha do prato por ter sido aprendido com mulheres de comunidades tradicionais.
Wanessa corrobora com a justificativa ao afirmar que o objetivo da ação é levar este conhecimento para o público. "Que as pessoas possam compreender toda a história, ancestralidade e memória que está por trás desse prato que chega na mesa", celebra. Marina reforça a satisfação do festival em abrir espaços para compartilhá-los: "Me sinto trabalhando na propagação de uma cultura que historicamente é apagada".
Festival e seminário Ajeumbó
Sexta-feira, 6 – Local: Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura
Sábado, 7 – Local: Gare da Estação das Artes