Quais seriam as possibilidades das aventuras de Narizinho, personagem do "Sítio do Picapau Amarelo", obterem alguma ligação com os animais de "Os Saltimbancos"? Ou, talvez, um encontro entre as lições de Chapeuzinho Vermelho e as cenas de Charles Chaplin? Estas figuras já conhecidas pelo público carregam os enredos dos espetáculos que compõem o 1º Festival de Teatro para Crianças, evento que acontece no Theatro Via Sul de 12 a 15 de outubro.
O universo lúdico guia as narrativas das peças "Chaplin Para Crianças", "Sítio do Picapau Amarelo", "Os Saltimbancos" e "Chapeuzinho Vermelho", dirigidas pelo diretor e ator Marcelino Câmara. "A gente está levando quatro obras que realmente trazem a valorização da nossa cultura", avança o produtor cultural. Além dos autores que estão por trás das versões brasileiras de três destes textos teatrais - Monteiro Lobato, Chico Buarque e Maria Clara Machado, respectivamente -, o projeto homenageia a atriz Solange Teixeira, cuja carreira foi atravessada pelo teatro infantil.
O festival é uma forma de comemorar os 35 anos do Grupo Catavento, hoje parte da Escola de Atores Marcelino Câmara, que também coleciona montagens nas linguagens da música, dança e teatro de bonecos. "Dentro dessas comemorações, a gente sentiu a necessidade de explodir com nossos espetáculos. A alegria de levar quatro obras do nosso repertório, não só aquelas consagradas, mas trabalhos autorais", define.
Criado em 1988, o Catavento surgiu com a proposta de divulgar produções culturais de cunho educativo no Estado. Ao longo das mais de três décadas, o grupo apresentou os títulos "Dráuzio, O Vampirinho" (1993), "Aladdin" (1999), "Pedro e o Lobo" (2007) e "Príncipes e Princesas" (2010), entre outros. "É uma responsabilidade muito grande essa missão de levar a arte para todos. Nós somos um projeto de todas as classes sociais", complementa.
Entre os desafios, o diretor destaca as dificuldades em desenvolver adaptações de clássicos e os percalços de unir distintas vertentes, a exemplo da palhaçaria que aparece em "Chaplin". Ao falar dos pontos positivos do processo criativo, entretanto, ele menciona a felicidade de criar textos que trazem reflexões sobre respeito, honestidade e cidadania. "Temos profissionais de velha guarda que estão no grupo há muito tempo, temos atores que têm certa experiência e que foram alunos da Escola e estamos levando também iniciantes, estreias de atores mirins em espetáculos", detalha Marcelino.
As produções ganham a dinâmica de coreografias idealizadas pela coreógrafa Yashmin Sobreira. A profissional pontua que, a partir da Cia. de Dança da Escola de Atores, os espetáculos adquirem a presença de um "corpo dançante". Cada peça demanda uma modalidade específica e o público poderá passear pelos gêneros de ballet clássico, hip hop e até samba. "Com muita fantasia e encantamento, deixamos as músicas, que são conhecidas por todos, interativas e mágicas", comenta a coreógrafa.
Outra integrante do grupo é a atriz Lorena Almeida, que interpreta o Rabicó e a Cuca em "Sítio do Picapau Amarelo" e a Galinha em "Os Saltimbancos". "O Rabicó é a figura que está sempre inquieta, esfomeada, as crianças ficam fascinadas por ele. A Cuca também causa fascínio pelo lado de vilã debochada. Já a Galinha é essa figura materna , que cuida do grupo e quer ajudar a todos. É muito bonito de ser representado", caracteriza.
Participante ativa do coletivo desde 2022, Lorena acredita que o teatro infantil é aquecido em Fortaleza e que as programações seguem crescendo. "O público infantil é muito receptivo, eles gostam de interagir e sentem essa necessidade de descobrir histórias novas, a troca é imediata. As crianças ganham muito assistindo ao teatro, mas também é importante para o teatro que as crianças o conheçam. É nesse momento que forma plateia", afirma a intérprete.
1º Festival de Teatro para Crianças